Percebendo a magnitude dos nossos sentimentos

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Nicolas estava chorando nos braços de um confuso Harley por mais de meia hora, um choro pesado e dolorido que o garoto não sabia como consolar. Tinha ouvido sobre a mãe dele um dia, sobre como os dois nunca haviam sido próximos e sobre como ele havia crescido e lidado com todos os seus problemas sozinho. O ceifador também havia dito que não queria procurar por ela e que tinha medo de saber que sua vida havia sido desgraçada quando ele se suicidou. Mas lá estava ela, trabalhando como voluntária no orfanato, esperando poder se redimir tomando conta de outras crianças, já que nunca cuidou do próprio filho.

Ela, na verdade, estava em uma condição muito melhor do que o ceifador esperava: continuava ativa, estava fazendo o bem para o próximo e então até parecia que sua morte havia tido um bom propósito na vida dela. O grande problema era que a rever trazia a ele todas as emoções interrompidas, que ele tentou por anos jogar para debaixo do tapete como se não existissem. Mas elas estavam lá, assim como a história nunca acabada entre eles.

- A gente não precisa ir mais lá – Harley disse quando o ceifador finalmente tinha parado de chorar – Podemos ir ajudar em outro lugar.

- Não... – Nicolas suspirou – Você e os garotos estão fazendo um bom trabalho, não seria legal abandonar tudo por minha causa – disse – Eu sou o único que não deve mais ir.

- Mas, eu não quero te deixar sozinho...

- Está tudo bem – o ceifador forçou um sorriso – Eu preciso lidar com isso sozinho.

Harley não achava que aquela era a melhor solução, não queria vê-lo sofrendo sozinho, mas parecia que havia coisas nas quais ele não podia ajuda-lo, coisas que faziam parte da história do ceifador e que ele mesmo precisava terminar de escrever.





Nicolas não foi para a escola no dia seguinte, estava passando a maior parte do tempo quieto deitado na cama, os pensamentos muito longe do mundo real. Harley contou a Dylan e Sander sobre a mulher do orfanato ser a mãe dele e os dois ficaram muito surpresos. Quando chegaram para fazer o trabalho voluntário naquela tarde, olhar para aquela mulher parecia completamente diferente agora.

Harley começou a notar algumas semelhanças que não tinha percebido ontem, como a forma parecida como os dois sorriam, o formato dos olhos e das unhas. Ele queria ressenti-la, queria brigar com ela e perguntar como ela nunca notou que o filho dela estava sofrendo, como deixou que ele morresse sozinho... Mas então pensou sobre seus próprios pais e sobre como a história se repetia com ele e não conseguiu sentir nada além tristeza.

Dylan estava limpando uma grande prateleira quando notou que a mulher havia colocado sua bolsa ali em cima. Assim que a pegou para colocá-la em outro lugar, percebeu que havia uma foto de Nicolas mais novo na lateral transparente dela.

- Esse é o seu filho? – ele se fez de desentendido enquanto pegava a foto na mão.

A mulher, que estava limpando duas estátuas que eles tinham encontrado no quarto, virou o rosto para ver o que ele segurava. Ela deu um sorriso e assentiu, assim como todos eles já esperavam.

- Isso mesmo – ela respondeu – Esse é o meu Nicolas, eu carrego a foto dele sempre comigo para sentir como se ainda estivéssemos juntos.

"Então por que você não cuidou dele quando ele estava vivo?" Harley pensou e resmungou baixinho, ele sabia que estava sendo meio mal-educado hoje, mas não conseguia fingir que não sabia de nada.

- Como era o seu filho? – Dylan perguntou, para a surpresa dos demais.

- Ele era uma criança muito alegre, ativa e responsável – ela sorriu ao lembrar – Eu costumava dizer que ele era minha vitamina, já que não importava o quanto eu trabalhasse, eu sempre me sentia menos cansada quando estava com ele.

Meu Querido CeifadorOnde histórias criam vida. Descubra agora