Meu Querido Ceifador

Harley Deen, me concede essa dança?

Assim que Nicolas chegou na casa de Dylan, foi recebido com um sorriso pela mãe do garoto – que dessa vez, para seu deleite, podia vê-lo. A mulher foi um tanto simpática quando o filho o apresentou como o amigo da escola que eles estavam esperando e disse para ambos subirem logo, pois seu cabeleireiro e maquiador já os aguardava no segundo andar. O ceifador não podia acreditar que aquelas pessoas estavam mesmo fazendo aquilo por ele, que um profissional iria cuidar de sua aparência para o baile da escola. O mundo dos ricos era mesmo muito diferente do dele.

Quando sentou na cadeira diante de um grande espelho, o cabeleireiro o olhou por alguns segundos e então decidiu que colocaria seu cabelo para trás com gel, pois aquele visual era muito diferente do que ele costumava usar e combinaria de forma madura com as roupas e a máscara que usaria naquela noite. Nicolas estava um tanto nervoso com a preparação e a transformação, mas ao mesmo tempo achava divertido que fosse se parecer tão diferente hoje.

O homem terminou o cabelo dele com maestria e completou o trabalho com uma maquiagem esfumaçada nos olhos, para dar impacto. Ele nunca havia usado maquiagem antes então estranhou um pouco, mas assim que se viu no espelho quase não conseguiu acreditar que era ele mesmo. Tudo naquela noite parecia inacreditável, como se ele estivesse vivendo um sonho. Pessoas vivas estavam falando com ele, estavam sorrindo para ele e até mesmo arrumando o cabelo dele. Todos podiam vê-lo, todos podiam ouvir o que ele dizia e de repente o mundo não parecia mais um lugar solitário como antes ele era. Estar vivo era incrível, especialmente da forma como ele vivia agora. Se pelo menos seu passado pudesse ter sido 50% disso...

Quando terminou de vestir a camisa e a calça que Dylan havia comprado para ele, o mais novo se aproximou e colocou a máscara em seu rosto, que completou em cheio o visual. Nicolas se olhou no espelho e sorriu animado, o coração batendo acelerado no peito. Hoje seria a melhor noite de toda a sua existência e ele mal podia esperar para que esse sonho se tornasse realidade.

- Espera – o mais novo disse e se aproximou dele, abrindo três botões de sua camisa – Melhor.

O ceifador olhou para a parte exposta de seu peitoral e sentiu suas bochechas corarem.

- Isso não está... Muito audacioso?

- Está – Dylan sorriu – Mas você tem que ser o cara mais maravilhoso daquele baile, então tudo bem.

Nicolas deu um sorrisinho sem jeito enquanto o mais novo lhe dizia que ele estava incrível e sorria orgulhoso de seu bom trabalho. O ceifador agradeceu milhares de vezes a ele, mais milhares de vezes a mãe do garoto e ainda mais milhares de vezes ao cabeleireiro, já que graças a todas aquelas pessoas hoje ele tinha se tornado alguém muito diferente de quem ele normalmente era.

Quando o motorista levou Dylan e ele até o baile, Nicolas só pensava na expressão de Harley quando o visse e esperava, do fundo do coração, que ele fosse gostar daquela surpresa.

Dylan o conduziu até a sala de espera no segundo andar do prédio, que agora estava vazia já que todos os alunos já dançavam no salão do primeiro andar. O baile já tinha começado fazia mais de meia hora, mas aquele atraso deles era proposital, já que o mais novo esperava que todo mundo olhasse para o ceifador quando ele descesse a escadaria até o salão. Nicolas estava uma pilha de nervos agora, seu coração batia tão rápido que ele achava que ia vomitar, não era acostumado de jeito nenhum a receber o tipo de atenção que receberia essa noite, mas jamais poderia dar para trás agora. Dylan tentou acalmá-lo e lhe deu a força necessária para que seguisse em frente, e então o deixou sozinho na sala de espera. A ideia do mais novo era entrar escondido pela porta dos fundos que dava na cozinha e se infiltrar no baile sem chamar a atenção, para então poder fazer o que tinha vindo fazer: filmar todo o momento. Com sua câmera em mãos e uma máscara lhe cobrindo metade do rosto, tentou se movimentar o mais discreto possível por entre as pessoas, finalmente encontrando um bom lugar para filmar no canto do salão. Harley estava sentado em uma das mesas conversando com Jamal, não parecendo nem infeliz nem feliz, quem sabe apenas contando as horas para voltar para casa. Dylan sorriu consigo mesmo e voltou sua câmera para a escadaria, imaginando que Nicolas desceria a qualquer momento.