A pedra filosofal

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Harley tinha conseguido um emprego como caixa em um supermercado perto de casa, sabia que sua inexperiência não lhe arranjaria algo melhor, mas como ainda vivia com a mãe poderia economizar tudo o que recebesse. Sua ideia era "mochilar" pelo país, quem sabe dar uma volta nos países vizinhos, qualquer coisa que mudasse um pouco o seu dia a dia seria bem-vinda. Não era como se não gostasse de como vivia, se sentia bem quando chegava em casa e deitava na cama, podia sentir como se Nicolas ainda estivesse lá e aquilo lhe dava conforto. Mas não podia negar que era doloroso também, tudo estava tão impregnado de memórias dos dois que sentia que precisava de um tempo para si mesmo, embora soubesse que morreria de saudade de seus amigos.

O trabalho no supermercado não era exatamente divertido, mas mantinha sua mente ocupada. Não demorou muito para que pegasse o jeito da coisa e vez ou outra reencontrava algum colega da escola, que ficava impressionado por vê-lo fazendo aquele tipo de trabalho. Numa dessas tardes, uma de suas colegas notou a aliança em seu dedo enquanto ele passava suas compras.

- Você se casou? – ela perguntou surpresa.

- Ah... – Harley ficou confuso por um segundo, mas logo sorriu – Sim, eu me casei – disse orgulhoso.

- Foi com aquele garoto do baile? Seu namorado misterioso? – a garota estava curiosa, nunca imaginou que ele fosse do tipo que se casaria, ainda mais tão jovem.

- Sim, Nicolas Jacobs – ele sorriu orgulhoso ao dizer aquele nome – Foi uma cerimônia muito bonita.

- Eu imagino que sim, você parece outra pessoa desde que começou a namorar esse garoto, desculpe te dizer isso, mas sua fama era horrível antes – ela riu – Agora você parece muito mais humano e feliz, acho que todo mundo pode mudar.

Harley assentiu e pensou sobre as palavras dela, sempre ouvia de seus amigos sobre o quanto tinha mudado, mas aquela era a primeira vez que um estranho lhe dizia isso. Nicolas tinha mesmo mudado a sua vida e pelo visto não existia a menor chance de algum dia ele voltar a ser o que era.





O ceifador chefe, o aprendiz, Nicolas e Evan estavam parados no portão de divisa para o céu. Lá havia uma enorme escadaria, que só aqueles com o coração puro poderiam subir para então desfrutar de todos os prazeres do paraíso. Nicolas ficou pensando sobre aquilo, por muitos anos tudo o que mais queria era poder subir aquelas escadas, viver nos céus por todo o tempo que lhe fosse possível, deixando seus traumas na Terra completamente para trás. No entanto agora, ao olhar para a escada, tudo o que mais queria era viver uma longa vida antes de subi-la.

Ele pegou na mão do amigo e o viu sorrir, dava para sentir que Evan estava muito nervoso e emocionado pelo reencontro com sua família. Sua percepção era tão aguçada que por mais que não pudesse enxergar, sentiu quando uma mulher e um garoto desceram a escadaria e caminharam de encontro a eles. Nicolas arregalou os olhos ao perceber que ambos se pareciam muito com ele, era inegável que eram família. A mulher trazia lágrimas nos olhos e quando disse "Meu Evan", eles correram na direção um do outro e ela pegou o filho nos braços, abraçando-o com toda a força do mundo.

Dominic e Nicolas caíram em lágrimas emocionadas ao presenciarem aquele momento, enquanto Nathan resmungava que aquilo não era tão dramático, mas suas bochechas estavam completamente molhadas. Evan abraçou seu irmão e chorou de saudade nos braços de ambos, sentindo que finalmente estava de volta em casa.

- Quando ouvimos o que você fez, o quão bravo você foi... – a mãe começou – Eu sempre tive muita fé em você, mas meu Evan se provou um anjo ainda mais corajoso do que eu imaginava.

Meu Querido CeifadorOnde histórias criam vida. Descubra agora