Se você esfregar as minhas costas, talvez eu considere te ajudar

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- Eu me chamo Nicolas Jacobs – disse – Muito prazer, eu sou o seu ceifador.

Harley ficou olhando para o garoto por algum tempo, até finalmente concluir que aquilo devia ser uma piada de muito mal gosto. Ele deu uma risada e disse que quase tinha acreditado, que por uma fração de segundo achou que aquele garoto fosse mesmo um ceifador, mas quais eram as chances?

- Eu sou mesmo um ceifador – o outro deu de ombros.

- Ah, é? – Harley o provocou – Prove.

Ele já estava prestes a acabar com aquilo, chamar seus pais para ajudá-lo a tirar aquele maluco de seu quarto e ligar para a polícia, quando algo mágico e inacreditável aconteceu diante dele. Nicolas estendeu a mão para o lado e uma foice apareceu nela, uma foice enorme e bastante assustadora. E aquilo foi o suficiente para o garoto quase fazer suas necessidades na calça.

- A...A..A...O...O... Que... – ele gaguejou, sem conseguir formar uma única palavra.

O ceifador sorriu e mirou a foice na direção dele, provocando-o. Harley gritou um "por favor, não me mate", que conseguiu tirar da garganta, e o outro gostou daquela sensação de poder.

- Eu estou atrasado – disse – Você devia ter morrido no dia do seu acidente, mas eu levei a pessoa errada.

- O quê? – as pernas do garoto ainda tremiam.

Nicolas decidiu que embora fosse divertido provoca-lo com a foice, era melhor guardá-la e explicar a história toda. Ele sabia que não seria na base do medo que iria conseguir a ajuda dele, então precisava ser em sua especialidade: o drama.

Ele contou a história toda, sobre como haviam dois garotos com o mesmo nome no hospital, sobre ter levado o errado e sobre sua punição. Explicou que para poder voltar a trabalhar como ceifador, precisava da ajuda dele e sua colaboração. Ele até fez biquinho ao terminar, tentando usar todo o seu charme para convencer aquele cara grandão a se tornar uma pessoa melhor. Só que assim como já previa, isso não deu certo, especialmente quando Harley percebeu que quem estava no poder da situação era ele.

No fim, o ceifador concluiu que devia ter usado o medo, mas agora já era tarde demais.

- Basicamente – o garoto disse agora mais calmo depois de ouvir toda a história – Você estragou tudo o que tinha que fazer e agora se eu não virar um cara bonzinho você vai para o inferno?

- Eu salvei a sua vida – Nicolas deu ênfase ao que era importante.

- Não intencionalmente.

- É, mas você foi salvo mesmo assim.

- Eu não ligo – ele deu de ombros – Eu não vou te ajudar com algo ridículo assim, a culpa não é minha que você vai ir para o inferno.

- Se você não melhorar, vai acabar no inferno também – o ceifador resmungou.

- Novamente, eu não ligo – Harley se atirou na cama e começou a mexer no celular.

O ceifador tentou manter a calma, mas sua vontade era de matar o garoto com suas próprias mãos, já que iria para o inferno de qualquer forma. Como seu poder de persuasão não havia funcionado, ele sabia que tinha que usar sua arma mais poderosa: as lágrimas.

Em poucos segundos, começou a chorar no meio do quarto do garoto. Ele chorou e chorou, mas Harley apenas o olhava com desgosto e o ignorava. O ceifador chorou ainda mais alto, começou a bater o pé no chão igual a uma criança mimada, mas o outro apenas deu uma risada irônica e voltou a mexer no celular. Depois de cinco minutos, Nicolas limpou o rosto e quis mesmo mata-lo, já que não era possível que nem suas lágrimas poderosas tivessem o ajudado.

Meu Querido CeifadorOnde histórias criam vida. Descubra agora