Saindo da bolha pela primeira vez

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Harley não esperava ser recebido na escola com uma enxurrada de perguntas na segunda-feira pela manhã, mas aparentemente todos os seus colegas estavam curiosos sobre quem era o garoto da máscara dourada que havia lhe convidado para dançar no baile. Ele inventou uma história de que era seu namorado que morava muito longe e tinha vindo lhe fazer uma surpresa, e todo mundo acreditou – até porque aquela história era muito mais plausível do que a original. Nicolas ficou radiante com cada coisa que ouviu, como: "seu namorado é muito bonito", "ele é como um príncipe" e "eu queria ter um namorado assim também", o que deixou o ceifador com as bochechas coradas e uma sensação gostosa no peito, que nunca tinha sentido antes. Ele achou legal também que seus colegas não estivessem ligando para o fato de que Harley estava namorando um homem, tirando uns poucos que não estavam se envolvendo no assunto, a maioria parecia achar legal o relacionamento deles. Uma garota até mesmo entregou algumas fotos nas mãos dele, que ela tirou dos dois no baile e revelou para que ele as tivesse como recordação. Quando o garoto olhou para as fotos em suas mãos, se surpreendeu com a qualidade delas, a colega parecia fotografar como uma profissional.

"Mais fotos para a minha coleção", foi o que pensou com um sorriso no rosto, enquanto Nicolas mal esperava para chegar em casa e poder admirá-las uma a uma.

O resto da manhã passou mais rápido do que o esperado e sem nenhum problema – exceto Jamal, o estrangeiro, que fulminou Harley o almoço inteiro – e então os quatro amigos se encontraram no portão da escola na hora da saída como combinado. Dylan estava animado para ir visitar o orfanato e o ceifador estava feliz que eles iriam fazer aquilo por ele, mas Harley e Sander estavam arrependidos de suas escolhas, já que tudo o que eles mais queriam no momento era ir para casa tirar uma soneca.

E foi o que eles fizeram no banco do ônibus, assim que ele partiu. Os dois dormiram amontoados um em cima do outro o caminho inteiro, enquanto Dylan fazia companhia ao ceifador no banco detrás. Como o ônibus estava bem vazio àquela hora, Nicolas pôde sentar perto da janela e admirar a paisagem com calma.

Pouco mais de meia hora depois, o mais novo bateu na cabeça dos dois dorminhocos e avisou que eles tinham que descer, e então os quatro saíram apressados. Dylan pegou o celular para checar no GPS o quão perto eles estavam do orfanato, enquanto os olhos de Nicolas estavam cravados em tudo o que via ao seu redor.

- Esse é o bairro onde eu morava – ele falou um pouco melancólico.

- É sério? – Harley arqueou as sobrancelhas, surpreso.

- É, eu sei que esse é um bairro pobre, mas eu não era rico como vocês – o ceifador disse um pouco sem jeito.

- Não, o que me surpreende é que você morava nessa cidade – o garoto continuou – Você nunca me disse isso.

- Os ceifadores costumam trabalhar na cidade onde faleceram e seus arredores – Nicolas explicou – A não ser que já tenha alguém fazendo o local... No meu caso, uma mulher cuidava de toda a região por aqui, então eu dividi o trabalho com ela.

- Há ceifadores mulheres também? – Sander arregalou os olhos.

- Pessoal... – Dylan interrompeu – Eu sei que isso é interessante, mas temos que ir.

Os três assentiram e então seguiram o mais novo, que estava guiando o caminho com o celular. Sander foi perguntando mais coisas sobre os ceifadores e Nicolas foi contando a eles o que eles ainda não sabiam, enquanto olhava para aquelas ruas que lhe eram ainda um pouco familiares.

Quinze minutos de caminhada depois, se viram diante de um enorme casarão antigo, que tinha o nome do orfanato na frente. Dylan foi liderando o caminho – porque ele aparentemente era o líder hoje – e tocou a campainha do local, informando que eles tinham vindo para o trabalho voluntário.

Meu Querido CeifadorOnde histórias criam vida. Descubra agora