A casa abandonada

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Quando Nicolas abriu os olhos, se viu deitado no sofá da sala de sua casa, as costumeiras roupas espalhadas pelo chão, um saco de marshmallows em cima da mesa e um filme rolando na televisão. Por um segundo, esqueceu que não vivia mais naquela rotina de ceifador e se deixou desfrutar um pouco de seu lar, até se dar conta de que não devia estar ali. Foi então que a voz de Evan, seu melhor amigo, ecoou pelos arredores da casa e fez com que ele levantasse confuso, procurando por sua origem. Ele caminhou pelo corredor que dava direto na sala de seu chefe, Dominic Lin, e se perguntou por que diabos Evan o estava chamando de lá e como podia ser que ele o estivesse ouvindo. Quando bateu na porta, foi logo recebido com um abraço apertado e um sorriso do amigo, também estampado no rosto de seu chefe, que o aguardava detrás de sua grande mesa. O aprendiz Nathan Korr, no entanto, não estava sorrindo.

- Você está fazendo tudo errado – foi a primeira coisa que disse assim que o ceifador sentou em sua frente.

- Desculpe, eu não sei como vim parar aqui – ele respondeu com tanta sinceridade quanto medo de ser punido por isso.

- Ah não, você não está aqui – Evan logo o corrigiu – Não fisicamente... Nós estamos dentro do seu sonho, foi a forma como arranjamos de nos comunicar com você.

- Eu estou sonhando? – Nicolas olhou para os lados, mas tudo parecia muito real.

O melhor amigo assentiu e sorriu, dizendo a ele que podia relaxar porque não estava infringindo nenhuma regra. Aparentemente, eles haviam dado um jeito de conversar com ele em seus sonhos porque estavam observando sua falta de progresso e perceberam que precisavam ajuda-lo – pelo menos dois deles tinham essa intenção.

- Nós acreditamos que você precise mostrar a ele o que é a bondade – Dominic assumiu a palavra – Chegamos à conclusão de que esse garoto não sabe o que é isso.

- Basicamente, você precisa dar o exemplo... Quem sabe quando vê-lo fazendo coisas boas, ele possa querer fazer o mesmo – seu amigo continuou.

- Isso é bobagem – o aprendiz cortou os dois – Não acho que nada disso vá funcionar com aquele lá.

- Nathan – o chefe o repreendeu com o olhar.

- É sério, eu no lugar dele já teria usado a ameaça há muito tempo – o aprendiz encarou Nicolas com fogo nos olhos – Use a foice sempre que ele quiser fazer algo errado, vai ser infalível.

- Ele não vai aprender a ser uma boa pessoa através do medo – Evan o recriminou.

- Talvez ele aprenda, às vezes o medo é a melhor ferramenta.

Nicolas olhou para os três e não soube o que dizer. Achava que o método de seu chefe e de seu melhor amigo era o mais correto, mas não sabia se Harley ia ser do tipo que se impressionaria com um ato de bondade – era capaz que ele apenas risse. Mas também achava que na base do medo o garoto não iria progredir de jeito nenhum.

Ah, aquilo era tão difícil...

Antes que pudesse decidir qualquer coisa, ouviu bem alto o barulho do despertador do garoto, que começou a soar de todos os cantos da sala. Em questão de segundos, viu os ceifadores desaparecerem diante de si, antes de abrir os olhos e se deparar com Harley levantando da cama apenas de cueca, trôpego e com os cabelos emaranhados assim como em todos os dias.

É, tinha mesmo sido um sonho.

Enquanto acompanhava o garoto e seus amigos bagunceiros até a escola naquela manhã, o ceifador refletia sobre qual estratégia deveria usar, a bondade ou o medo. Achou que talvez a primeira opção fosse mais válida, não custava nada tentar, né? Ele só precisava bolar um jeito de ser um exemplo efetivo, um que faria Harley querer imitá-lo.

Meu Querido CeifadorOnde histórias criam vida. Descubra agora