× a última vez ×

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Quando nos apaixonamos esquecemos de tudo. Tudo mesmo. Queremos está ao lado de quem amamos o tempo inteiro, e quando acontece, ficamos grudados sem pensar nas consequências.

Passei tanto tempo sozinha, com medo de me entregar que havia esquecido que mesmo recomeçando, deveria por algumas coisas em ordem.

Não sei como Shawn iria reagir ao saber das coisas ruins que fiz antes de construir minha empresa e ser reconhecida. Ele não parece ser o tipo de homem que me julgaria por minhas ações, mas, ele é pai. Sem dúvida se colocaria no lugar das pessoas que prejudiquei sem me importar.

Na época parecia o certo a se fazer. Passei por cima de pessoas honestas por conta da minha ganância, crianças morreram.

Fui negligente. Poderia ter ajudado aquelas pessoas, em vez disso fechei meus olhos e continuei olhando apenas para frente.

Poderia ter usado minha influência pra ajudar, mas, mais uma vez olhei apenas pra frente.

Estou nervosa.

Porém, pronta pra enfrentar essa conversa. Shawn é o homem mais ético que conheci, o conhecendo bem, ele vai ficar irritado quando souber que dezenas de crianças morreram em alto mar por negligência minha, por saber que fui fria ao ponto de ignorar um grande problema.

Especialmente sabendo que eu poderia e tinha condições de evitar tão tragédia.

O que eu não sabia, era que alguém teria contado a ele sobre essa história e também, aumentado a minha culpa, alegando que fui uma assassina e odiava crianças.

Quando Finalmente cheguei a casa de Shawn, disposta a lhe contar o que havia acontecido, ele já me olhava diferente.

— Aconteceu alguma coisa? - perguntei.

Abigail apareceu e pulou em meus braços. Céus, como amo essa garotinha. A coloco no chão e ela exibe seus dentinhos fofos.

— Tia Cami, quer ver minha nova Barbie? - perguntou.

— Claro.

Passei a meia hora seguinte ouvindo Abby falando sobre sua última semana no colégio, e que recebeu suas amigas em casa quando Shawn esteve de folga. Prestei atenção em tudo o que a pequena dizia, pois só Deus sabe quando isso iria acontecer de novo. Se é que iria.

Luciana, a amiga de Shawn chegou quase uma hora depois pra buscar Abigail, alegando que essa seria a noite das garotas. Ela piscou pra nós dois em sinal de que deveríamos aproveitar a noite e fechou a porta ao sair, apoia Abby demorar pra se despedir do pai.

Se existem pessoas mais especiais que os dois pra mim, desconheço.

Shawn serve o jantar e comemos no mais absoluto silêncio, o que me deixa ansiosa e louca para saber o motivo dele está tão distante.

— Quando ia me contar sobre os órfãos? E sobre o depoimento que deu alegando que não se importa com crianças? - pergunta, enfim.

Engulo em seco.

Fecho seus punhos cerrados, mas sei que Shawn é incapaz de ser violento com uma mulher, por pior que ela possa ser, mas garanto que sua frieza é tão ruim quanto.

— Hoje. Vim para cá justamente pra conversar sobre. - respondo, sendo sincera.

— Camila, o que fiquei sabendo... O que eu vi naqueles jornais e o que você falou
... Como acha que me sinto? Como acha que eu estou? A mulher que amo diz odiar crianças, permitiu que dezenas delas morressem e eu tenho uma filha de três anos que a ama tanto quanto eu? O que acha que a Abby sentiria? - esbravejou.

Qualquer outra pessoa poderia gritar comigo sem que eu ficasse abalada. Entretanto, Shawn mexia comigo de forma que bastou ele berrar para que eu pudesse escutar meu coração se quebrando e as lágrimas escorrendo por minha face.

— Aquilo foi há muito tempo, Shawn. E não há um dia que não me arrependa de ter feito o que fiz. De ter ignorado o pedido de socorro daquelas crianças inocentes. - digo.

— Você deixou de doar dinheiro pra salvar a vida delas para comprar um prédio, porra! Você deu declarações horrorosas a respeito daquelas famílias. Nem sei quem é você. - grita, saindo de perto de mim.

Vejo-o mexendo no cabelo, andando de um lado para o outro completamente furioso e chateado.

— Quem te falou sobre isso? - pergunto.

— Por que interessa? Você é uma mulher horrível, Camila. Nem acredito que te pedi em casamento, que abri a porta da minha casa e te deixei conhecer Abigail. A minha filha te ama. Porra.

— Me desculpe, Shawn. Não sou mais aquela pessoa. Não sou. - argumento.

Mas ele está chateado demais pra acreditar no que digo. Magoado demais pra aceitar meu perdão e ver o quanto o amo, o quanto amo Abigail.

Também entendo que ele está pensando em todas as crianças que foram mortas por meu egoísmo, que perderam o lar porque a única pessoa que poderia lhes salvar virou as costas.

— Você é uma assassina. Mesmo que indiretamente, é uma assassina. E eu não vou me casar com você. E nem quero que chegue perto da minha casa e da minha filha novamente. Está me entendendo? - perguntou, com bastante frieza.

Shawn se virou pra me encarar e se aproximou, me empurrando contra a parede. Então me beijou. Mas não foi um beijo de amor, daqueles que te fazem perceber o quanto é amado. Era um beijo repleto de mágoa e amargura, um beijo sem emoção.

Não consegui me afastar quando sua língua buscou a minha, e aproveitei cada segundo daquele momento, daquela despedida cruel e fria. Mal ficamos juntos e eu estraguei tudo.

Só queria que ele percebesse que mudei, que hoje ajudo milhares de orfanatos e estou sempre presente na vida daquelas crianças em forma de compensar a merda que fiz. Além do mais, acabei de fato me apegando as crianças, e me arrependendo de tudo o que fiz.

Mas entendo seu lado. Ele acabou de receber a informação por outra pessoa, e tem uma filha pequena que não hesita em proteger. Agora me ver como inimiga, e não posso culpá-lo.

Ele me leva para seu quarto e me fode com força, deixando claro sua amargura, sua tristeza, marcando meu corpo com sua decepção, e depois, praticamente me expulsa da sua casa.

Acabou.

A melhor coisa que aconteceu comigo acabou, e agora estou sozinha novamente sem poder fazer absolutamente nada.

After You [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora