× na hora da raiva ×

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"Naquele segundo eu pensei que até te odiava, mas respirei fundo e vi que eu te amava."

(Henrique e Juliano)

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— Venha aqui. - Luciana disse, me forçando a pousar a cabeça sobre suas pernas. Abby estava na escola e hoje era meu dia de folga.

Acho que não reagi tão mal quanto pensei que faria. Na verdade estou anestesiado por causa da descoberta recente.

— Estou mais preocupado com a Abby do que comigo. - falo, mas não é exatamente assim que me sinto.

De fato fico preocupado com a minha filha, ela é louca por Camila e ainda não sei como dizer que as duas não se verão mais. Abby é maravilhosa demais e eu sinto muito por não ter sido mais cuidadoso quanto a relação dela com a Camila.

Agora não sei como contornar a situação. Perder a mãe já foi algo muito pesado.

— Você precisa ser mais racional pelo bem dela, sabe disso né? - Luciana pergunta, fazendo cafuné em mim.

— Do que está falando? - pergunto.

— Primeiro, resolva o seu problema com a Camila antes de agir. Tudo o que você faz atingirá a Abigail. Seja algo bom ou não, então tome cuidado com a decisão que vai tomar. - ela diz, como se fosse o óbvio.

E talvez seja. Mas quem pensa com clareza quando está magoado? Quando se sente traído?

— Não vou perdoá-la.

— Não disse pra fazer isso. Você está no seu direito de ficar magoado, Shawn. Só precisa tomar cuidado com a maneira que vai lidar com isso. Abby ainda é um bebê, e magoar aquele coraçãozinho é a última coisa que você vai querer. - adverte.

Suspiro.

Juro que tento pensar na situação como um adulto, porém não dar pra ser racional quando penso que abri meu coração e minha casa para uma mulher baixa e suja, que não pensou em ninguém pra ser quem é hoje.

A vida real não é como nos filmes, onde as pessoas fazem algumas cestas básicas e mudam da noite pro dia. Ela escondeu essa merda de mim, e depois agiu como se me amasse.

E eu acreditei.

Porra.

Joguei fora quase tudo que me prendia a Sofia porque queria que nós dois tivéssemos um recomeço. Eu realmente estava me jogando de cabeça nesse relacionamento, até a pedi em casamento.

Finalmente havia derrubado as barreiras que estavam em volta do meu coração. Pra ela fazer essa merda.

— Abby um dia vai ter que saber de tudo. - murmuro.

— Eu sei, mas não agora. Ela não entenderia, e ficaria arrasada. É melhor dizer que Camila se mudou ou alguma outra coisa. - diz e eu assinto.

Mentir para minha filha não é algo que me orgulhe, mas para protegê-la de alguém como Camila, faço o que tiver que fazer.
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Os dias seguintes são piores do que os anteriores. Abby parece cada dia mais esperta quanto as coisas que acontecem ao seu redor e não para de falar dela.

Ela disse que ia ver minha nova Barbie de novo, pai. - insiste.

Vejo seus olhinhos encarando os meus e sinto meu peito doer.

— Vem cá, querida. - peço.

Hesitante, Abigail sobe em meu colo e beija meu rosto.

— Às vezes os adultos precisam resolver alguns problemas, e acabam não tendo tempo para nenhuma outra coisa. - digo - A Camila está passando por uma coisa e precisa se dedicar totalmente a isso, então não sei quando ela poderá vir aqui. - concluo - Sinto muito.

Abigail sorri, e toca meu rosto com seu jeito delicado, pronta para contra atacar meu argumento.

— Podemos ir até ela demonstrar nosso carinho. - insiste.

— Infelizmente não podemos. Ela não pode receber ninguém.

— Ela tá doente?

— Não.

— Então temos que ir, papai. Ela pode tá com saudade. - garante.

Eu me seguro pra não falar o que não deveria, e acabar magoando Abby. O esforço é enorme, pois sua teimosia está começando a me tirar do sério, e me fazendo odiar Camila ainda mais por ter feito minha filha gostar tanto dela.

— Vou preparar o jantar. Guarde essa bagunça. - peço, colocando-a no chão, encerrando o assunto por hora.
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Isso não deveria ter acontecido. Quer dizer, não entendo porque me sinto culpado, quando não deveria.

Luciana passou a noite com Abby em sua casa alegando que seria a noite só das garotas, então peguei as chaves do carro, a carteira e decidi sair um pouco.

Fui até um bar movimentado na cidade, bebi algumas doses e assisti uma apresentação de mulheres bonitas antes de finalmente encerrar a noite, então quando estava quase indo pagar a conta, eu a vi.

Bem, não era ela, obviamente. Camila não frequentaria um lugar daquele jeito, mas a garota era idêntica a ela na minha visão de bêbado.

A baixa estatura, o cabelo enrolado, a cor da pele e a maneira que maneava os braços enquanto pedia uma bebida me fizeram um tremendo imbecil.

Eu me aproximei da garota, e não demorou para que começavamos a conversar. Nunca havia sido tão idiota.

Nem mesmo quando estava de luto por Sofia. Preferi me isolar a ter que usar alguém pra aliviar o que quer que estivesse acabando comigo.

Mas não nessa noite.

A morena seria minha vítima, e a culpa era toda dela.

Entre um assunto e outro, saímos do bar e caminhamos pela cidade, rimos de coisas aleatórias e finalmente tomei a iniciativa de levá-la a um motel. De jeito nenhum a levaria para minha casa, pois ela não era Camila.

Só lembrava um pouco a fisionomia, mas não parecia em mais nada.

Aquela noite teve tudo para ser ruim, e estraguei tudo quando falei seu nome quando finalmente chegamos ao nosso orgasmo. Então a garota me empurrou, falou um monte de bosta e foi embora, claramente aborrecida.

E eu ri.

Eu feito um histérico, sem saber o que fazer, sem entender porque cai em tantos níveis depois de ter te conhecido. Porque deixei que me levasse ao fundo do poço, hein?

After You [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora