After You [CONCLUÍDA]

× consequência x

Meus atos me fizeram perder o que mais amei. Gostaria de não ter feito nada daquilo, voltaria no tempo pra evitar toda essa catástrofe. A quem quero enganar? Eu mereço esse martírio.

Deveria ter me aberto antes de permitir que nosso relacionamento ficasse mais sério. Em vez disso, empurrei com a barriga e alguém contou a ele antes de mim, causando um impacto ainda pior com relação ao que fiz.

Talvez não haja perdão para pessoas como eu, mas gostaria que sim. Quando olho para trás, e vejo o que diz, gostaria de me bater até perder a cor.

Não reconheço a Camila daquela época. E acho que não conheço a de agora também.

Faz dias que não sei mais o que devo fazer. Trabalhar nunca foi problema, porém não faz sentido. Não quero ver meus pais e nem sair com alguma amiga.

Só quero ficar deitada na cama, refletindo sobre as consequências dos meus atos. Cedo ou tarde pagaria por isso. Conheci o amor, aprendi a amar e fiz o que podia para recompensar a merda que fez.

E é claro que mesmo depois de ter me arrependido, a tempestade teria de vir. A vida sempre cobra seu preço.

Tudo o que posso fazer agora é pedir a Deus para não permitir que aquele homem comece a morrer de novo. Não quero ser sua segunda grande decepção. Posso conviver com a dor, mas ele não.

Shawn precisa de forças agora. Ele tem Abby. Deposito toda minha fé nisso. Ele tem que ficar bem.

Ele tem que me superar.

Meu peito dói.

Por que eu tive que ter sido tão babaca anos atrás? Porque fui tão inconsequente e ambiciosa? E porque ele entrou na minha vida?

— Camila? - escuto a voz de Lara dentro do meu quarto, mas não me movo.

Não quero falar com ninguém. Não quero fazer nada.

— Amiga, ficar assim não vai mudar nada. Vamos sair um pouco. - pede, se acomodando ao meu lado na cama.

— Eu não mereço nada do que tenho. Eu deveria ter me ferrado no lugar daquelas crianças. - murmuro.

Lara me abraça, e passa a mão pela minha cabeça. Meus soluços voltam a ficar mais fortes, conforme permito que as lágrimas caiam com força. Me odeio tanto.

— Você se arrependeu, Cami. Não acha que isso conta? - pergunta.

Do que adianta arrependimento se eu não o tenho mais? Se nunca mais verei a pequena Abigail novamente. Só consigo lembrar da mágoa em seu olhar quando falou sobre o quanto sua filha me amava.

Eu a amava tanto quanto. Mas agora sou uma monstra. Não mereço tanto amor.

— Sou má, Lara. Isso nunca vai mudar.

— Não é verdade. Você é uma das empresárias atuais mais generosas do país. Não anule tudo o que fez porque perdeu o homem da sua vida. - pede e eu suspiro.

Sei que ela tem razão. Eu deveria saber das minhas convicções, deveria me orgulhar da mulher que me tornei. Mas não consigo.

Ou talvez não queira mais enxergar as coisas boas que fiz.

— Acha que mereço ser perdoada por aquela tragédia? - indaguei.

Deitei de lado para encarar minha melhor amiga, quero sua sinceridade.

— Sim. Seu arrependimento é genuíno, Camis. Existem pessoas que fazem merda e tentam se redimir, e aquelas que nasceram pra ser ruim. Você sem dúvida é a primeira opção. - sorriu para mim - Entendo as razões de Shawn não querer ver você, mas acho que você precisa seguir em frente. Pense que o breve relacionamento de vocês possa servir de aprendizado.

Sorri fraco.

Lara é tão racional que chega a ser irritante, mas a amo demais. Ela me entende e sabe o que dizer nos momentos certos.

Não sei se quero seguir em frente, se vou conseguir. Nunca me apaixonei desse jeito, e saber que tudo acabou por causa dos meus segredos nada agradáveis me fere. Me fere tanto que não consigo pensar que eu possa ter alguma redenção.

— Você vai voltar a trabalhar. Vai visitar os orfanatos novamente e vai cuidar mais de você. - disse, quase exigindo.

— Parece fácil.

— Não é, mas não quero mais te ver desse jeito. Sinto falta da minha amiga. Da mulher forte e determinada que foi meu ombro amigo durante os últimos anos. Da mulher que disse que homem nenhum a derrubaria - sorriu - Lembra quando disse isso?

— Claro, você riu da minha cara e uma semana depois ele apareceu. - suspiro.

— É. Quero minha melhor amiga durona de volta. - implora.

Não digo nada nos minutos seguintes. Preciso sair disso. Não posso me acabar por conta de um relacionamento que não daria certo de qualquer jeito. Não posso abandonar meus objetivos. É como se eu tivesse abandonando aqueles órgãos de novo.

Pensar nisso me assusta.

— Vou voltar. - digo.