SWEET CREATURE

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{vocês costumam ter pesadelos?} ♥

🐾

J E O N G G U K

A cada toque da minha caneta o iPad soltava um barulho baixinho, quase que ritmado com o som da música que toca em meu notebook. Todos aqueles equipamentos que eu uso para meus trabalhos artísticos foram comprados em uma loja de produtos usados, por isso o monitor já estava perdendo a cor aos poucos. Sentado, no fundo do atelier, já era noite e com certeza todos dormiam, não ouvia a voz dos meus colegas.

Fechei a porta mesmo assim, para que entendessem que estou ocupado e não quero ser perturbado. Necessário, pois as vezes Yoongi entra para dedilhar seu teclado, atrapalhando minha concentração.

— Preciso terminar essa arte logo – falar sozinho é um costume, se eu não me encontro cantando, me encontro em monólogos comigo mesmo. Olhei as horas no canto da tela, são onze da noite.

Mas estranho, não me lembro do que fiz antes de entrar no atelier. Na verdade, como tinha sido meu dia...? É sério, estou sentado aqui, com meu moletom cinza de estimação, olhando para o desenho que parece não desenvolver faz horas, o que eu estava fazendo antes?

A porta bateu. Nem sabia que estava aberta, mas o susto que eu tomei foi grande. Na frente da pequena mesa que me encontrava sentado, com as costas viradas para a parede, havia o teclado de Yoongi coberto por uma capa e um cavalete de madeira, todo sujo de tinta, que pertence a Taehyung.

A música que ouvia começou a diminuir de volume e pensei: minha bateria deve estar acabando. Me levantei para buscar o cabo de força e ao me abaixar para procurar a tomada debaixo da mesa, tomei o maior susto da minha vida. Não sei como, mas ali embaixo estava alguém, abaixado, abraçando as pernas, com a cabeça encurvada nos joelhos, se balançando devagar. Aquele cabelo liso e negro, aquela blusa xadrez com e calça jeans escura. Nos pés, um converse velho e desgastado...

... eu te conheço.

Hyuk? – deixei escapar e notei que estava escorado na parede, à dois passos de distância dele. A música finalmente parou e seu choro tomou espaço. Chorava baixinho, abafado pelos joelhos e o atelier começou a ficar frio. Como se não fosse verão.

— Jeon – me respondeu, com a voz embargada. Parou de se mover e levantou os olhos, encontrando os meus. – Eles me odeiam

Não fazia ideia do que fazer, se deveria responder. Você morreu, o que faz aqui no atelier? Escondido? Estava todo esse tempo debaixo da minha mesa e eu não percebi?

— N-ninguém odeia você – foi a única coisa que consegui falar, gaguejando horrores. Sem contar que o cheiro do seu cigarro mentol e seu Armani me embriagavam. Uma sensação de desespero e tristeza começou no meu peito, como uma flor desabrochando. Abracei meu corpo, tentando me aquecer, todos os pelos do meu braço estavam arrepiados.

Pisquei com dificuldade, devagar e quando abri os olhos, ele havia sumido. Respirei aliviado, pensando que tinha me livrado daquela imagem, quando ouvi o som da corda. Ao olhar para o teto, no pilar de madeira do atelier, lá estava ele, pendurado pelo pescoço. Suas mãos tatuadas balançavam devagar ao lado do corpo, os pés ainda se debatiam, devagar, parando aos poucos, como espasmos relutantes, como um último suspiro de socorro.

E seus olhos... os olhos de Hyuk estavam nos meus, expressivos, abertos, como se fossem explodir pela pressão da corda em sua garganta. Pela cor arroxeada de suas bochechas, presumi que estava morrendo, se já não estava morto. Abri a boca para gritar, mas nada saia, tentei me mover, mas não conseguia, meu corpo estava congelado, pelo frio, pelo medo, pela dor e pelo pavor de ver alguém tão precioso como ele ali, pendurado na minha frente, com a pontinha do converse batendo no cavalete. Sua boca se abriu, com dificuldade, mas o suficiente para falar, suas últimas palavras foram: Park Jimin.

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