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Palavras: 2420
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Um bilhete escrito com tinta preta estava sobre o balcão da cozinha quando entrei no apartamento.
“Encontre-me no terraço.”
Eu sentia o perfume de V no ar, o mesmo que ele usava há anos e que já havia se tornando seu cheiro característico. O cheiro, somado ao bilhete escrito cuidadosamente com sua caligrafia fina e inclinada, tornava tudo poético. Na verdade, V exalava poesia em seu jeito teatral, em sua personalidade única e extasiante.
Soltei um suspiro e coloquei o bilhete de volta no balcão, antes de me encaminhar novamente ao elevador. Felizmente não havia uma música ambiente, porque nenhuma música de elevador traduziria o que eu estava sentindo com perfeição. Eu me sentia receoso, mas paradoxalmente eufórico.
Quando as portas automáticas se abriram, diretamente para o terraço, deparei-me com uma noite muito mais bonita do que a vista da rua. Ali, acima das luzes da cidade, as estrelas eram mais aparentes e a escuridão mais profunda. Com a luz do céu livre de nuvens, eu podia ver a pista para helicópteros vazia e, em um dos extremos do terraço, um par de olhos que me observavam, em um rosto iluminado pela luz fraca de um tablet.
— Então você viu meu bilhete? — Disse V, quando me aproximei de onde estava. Um sorriso faceiro, quase infantil, brotou em seus lábios. Ele usava shorts e uma blusa larga, o que não era muito habitual.
— Claro. Caso contrário, eu não estaria aqui. — Ergui as sobrancelhas, sentando no que parecia ser uma cadeira de praia na frente da qual ele estava. — O que está lendo? — Eu sabia que ele só usava aquele tablet para ler coisas que o distraísse do trabalho, por mais que fossem textos intragáveis para a maior parte das pessoas.
— Foucault. — Desligou a tela do aparelho, colocando-o sobre uma mesa ao seu lado. — Ele estava me contando sobre como as pessoas se tornam dóceis, em como elas fazem exatamente o que são impostas porque são vigiadas e punidas pelo Estado. Além disso, em como só uma pequena parte delas consegue emergir dessa massa docilizada. — Seu olhar se tornava mais intenso a cada palavra que escapava dos seus lábios, como se saboreasse seus efeitos sobre mim. — Mas, não foi para dizer isso que eu te pedi para vir até aqui.
— Já estava esperando você dizer que eu sou mais um docilizado da sociedade. — Brinquei, fazendo-o sorrir.
— Não, você não é. — V bebericou algo de uma xícara que estava sobre a mesa, olhando-me por cima da porcelana. — Você é diferente de qualquer um e por isso está aqui comigo. Os não docilizados são os loucos e os foras da lei. — Ou seja, nós. Seu tom não era sedutor, apenas completamente sério, o que me fez sentir segurança em suas palavras. — Mas nós dois estamos no telhado, porque eu queria que você visse o quanto aqui é bonito.
— Só por isso?
— Sim, só por isso. — V se levantou de repente e puxou sua cadeira para que ficasse ao lado da minha. Ele se sentou e pude observá-lo de perfil, com sua face perfeitamente simétrica, até que virou seu rosto para mim. — E não acha que é importante passarmos mais tempo juntos?
— Bom, se for em liberdade, para mim tudo bem. — Dei de ombros e ele sorriu, balançando a cabeça negativamente. Aquela sua expressão era especialmente tentadora.
— Vai ser em liberdade, não se preocupe. — Seus olhos se voltaram para o céu, em uma serenidade que não condizia com o nosso assunto. V nunca era condizente. Eu apenas sorri de canto, voltando os olhos para o céu, como ele fazia. Toquei sua mão, que descansava sobre o braço da cadeira, surpreendendo-o.
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Ultravioleta
Mystery / Thriller[A sinopse contém spoilers de Dois Tons] "Todos estão errados, Jungkook. A tempestade vem após à calmaria." Jungkook e V viveram treze anos com falsas identidades, sempre na corda bamba e confiando apenas um no outro em um país estrangeiro. Com Jung...