Capítulo 28

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Palavras: 3270

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*Jungkook*

No fim, a decisão havia sido minha. Conscientemente eu optara pela única forma que eu conhecia de se estar livre: Prendendo-me a ele.

Cheguei a tal conclusão quando a minha cadeira de rodas estava sendo empurrada pela rampa, em direção às portas do hospital psiquiátrico Le Paradis. Ainda sentia-me fraco demais para andar e tonturas me acometiam quando tentava. Porém, apesar das dores e fraquezas do corpo, minha mente estava leve e resignada, forte em minhas convicções.

Eu havia passado longos dias no hospital, parte deles dormindo, parte observando o mundo do lado de fora da janela. Ele parecia maior, mais selvagem e desconhecido agora que V não parecia dominá-lo. Antes ele o tratava como a mais simples e submissas das coisas. V estava delimitado, a mercê da decisão e julgamento de outros seres humanos, os quais ele sempre menosprezou. Em contrapartida, o meu mundo perdia seus limites. Aquilo era apavorante.

Por vários dias, sozinho no quarto de hospital, eu acompanhei as notícias, apreensivo. Jimin também trazia-me notícias em primeira mão, a pedido de V. A justiça havia o apontado como o responsável pela morte de James, mas não havia lhe atribuído responsabilidade pelos assassinatos em série, ainda. Contudo, as suspeitas facilmente cairiam sobre ele, visto que ele era um dos participantes da festa em que o presidente havia sido assassinado e Namjoon participava das investigações.

Com V sob vigilância policial e, após isso, em um hospital psiquiátrico, as mortes em série deixariam de acontecer. Em pouco tempo iriam juntar as peças, somando ao fato de que ele tinha sido diagnosticado com um transtorno psiquiátrico após matar um homem. O fato de ser um assassino organizado e ter matado de um jeito tão sujo e não premeditado, poderia causar confusão em um primeiro momento. Porém, iriam considerar que alguém que atinge a presidência de uma multinacional teria a capacidade de planejar crimes cuidadosamente em momentos de estabilidade.

Cheguei à conclusão de que, quando chegassem a V, também chegariam a mim. Não seria nada difícil de isso acontecer. Eu, conhecendo a minha incapacidade de agir sem V, após o desastre que fiz ao trazer Taehyung de volta, sentia-me francamente perdido. Era uma realidade desconhecida estar sem ele.

Por esse motivo, quando Jimin disse que poderia me colocar no hospital psiquiátrico com V, eu não hesitei em aceitar. Qual seria o sentido da minha vida, no fim das contas? Tudo indicava que eu acabaria sendo investigado e condenado, então porque não ir ficar junto dele? E, mesmo que eu pudesse ser livre, não havia o que fazer com a tediosa liberdade.

Toda a memória de minha vida anterior a ele era cinzenta, apagada. Quando V e Taehyung apareceram, deram sentido à minha existência. Adorar minha mãe, um ser simplório e moral, não era nada comparado a adorar a dualidade, complexidade e imoralidade que V e Taehyung significavam. Eles alimentavam a minha alma e, em troca, eu cedia minha devoção. Era difícil encontrar um ser ideal na vida e perdê-lo poderia significar nunca mais ter um sentido novamente.

Com aquela como minha única certeza na vida, eu forjei uma tentativa de suicídio. Com a ajuda e influência de Jimin e com o dinheiro de V, foi fácil que eu fosse internado no hospital psiquiátrico certo. O amigo de infância de V e Taehyung sempre tinha uma expressão preocupada no rosto, mas, com uma calma resignada e, provavelmente, com medo de que V ainda tivesse influência sobre o mundo exterior, ele fez o que era necessário.

Quando Jimin entrou com a minha cadeira de rodas no refeitório do Le Paradis, tudo o que eu vi foi ele, a escultura maculada, sentado na ponta de uma das mesas. Seus olhos estavam voltados para a janela, onde um jardim de um verde incandescente brilhava sob o sol. A expressão impassível e o "fingir que não me via" eram idênticos aos nossos anos de escola. Ele era tão bonito quanto naquela época e era assim que eu queria sempre me lembrar dele.

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