Olá, seres humanos.
Uma pequena observação: O presidente citado nesse capítulo não existe. Porém, o seu nome e sobrenome é a junção de nomes de dois ex-presidentes franceses.Palavras: 3280
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Os olhos de Olga, verdes e redondos, observavam o apartamento com curiosidade. Apesar de trabalhar para V há anos, a mulher nunca tinha ido até o covil de seu chefe. Ela não disfarçava a curiosidade e eu tive que me sentar e esperar, pacientemente, até que ela terminasse sua minuciosa vistoria. No fim, a russa sentou-se ao meu lado, parecendo satisfeita.
— Aprovou o apartamento? — Perguntei, erguendo as sobrancelhas. Olga me olhou com um pequeno sorriso nos lábios.
— É um lugar agradável e elegante, como esperei que fosse. Contudo, um pouco desprovido de personalidade. — Deu de ombros, em sua constante impassibilidade. — Onde V está?
— Ele disse que viria depois que resolvesse algumas coisas.
Apesar de já conviver com Olga há meses, a forma com que ela dizia "V" e o tratava com uma intimidade maior do que o profissionalismo permitia, irritava-me. Outras coisas nela me irritavam, como o fato de ter uma sensatez inabalável, assim como sua frieza e calculismo. Olga era presunçosa, mas o fato de parecer perfeitamente inteligente era o pior de tudo.
Nós estávamos ali juntos, naquele fim de tarde de abril, em plena primavera, apenas porque V nos convocou. Quando recebi a ligação, no meu escritório na polícia, V parecia animado, quase em êxtase. No dia anterior, ele havia, sozinho, ido a uma festa da nata da alta sociedade, sem querer me revelar onde exatamente era. Eu não tinha o visto desde então, porque eu havia saído cedo e ele ainda não tinha voltado para o apartamento.
Suspirei, olhando para o meu relógio de pulso. Com sua euforia, V tinha me feito sair mais cedo do trabalho, apesar da grande quantidade de casos pequenos que tinha em minha mesa, visto que a maioria da força investigativa estava voltada para o Serial Killer. Todos os policiais pareceram especialmente agitados naquela tarde, mas eu tinha saído do prédio rapidamente, sem falar com ninguém. Olga, por sua vez, havia tirado o celular da bolsa e mexia seus dedos em uma digitação frenética. Agíamos como se estivéssemos na sala de espera do dentista.
Com meu eterno desinteresse por aparelhos eletrônicos, apenas devaneei. Minha relação com V estava estável nos últimos tempos. Eu seguia suas regras e ele era atencioso. Eu não questionava o que ele fazia, ou as decisões que tomava, e ele sorria docemente e tocava meus cabelos quando estávamos deitados juntos. Eu matava por ele e V me deixava fodê-lo, mesmo afirmando categoricamente que ele era quem estava "permitindo" que eu o fizesse. Era uma troca.
Matar não havia se tornado mais fácil com o decorrer dos meses, mas eu o fazia assim mesmo. Sentir remorso não era exatamente um problema para mim, mas o medo sempre era apavorante. A adrenalina de estar tão próximo de ser pego não tinha se tornado menos amarga, como V afirmou que aconteceria. Contudo, eu engolia cada pedaço amargo daquelas ações.
O que importava, no fim das contas, era que eu fazia o que ele queria e tinha minhas recompensas.
— Ele estava muito empolgado quando te ligou? — Questionei Olga.
— Parecia normal. — Respondeu, pensativamente, desviando os olhos do celular e fixando-os nos meus. — Por que a pergunta?
— Ele estava empolgado quando me ligou. — Tentei esconder meu tom triunfante, porque aquela disputa era unilateral.
Antes que Olga pudesse dizer algo inteligente, que faria o meu sentimento de conquista parecer meramente imbecil, V abriu a porta do apartamento. A primeira coisa que notei foi o brilho em seus olhos.
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Ultravioleta
Mystery / Thriller[A sinopse contém spoilers de Dois Tons] "Todos estão errados, Jungkook. A tempestade vem após à calmaria." Jungkook e V viveram treze anos com falsas identidades, sempre na corda bamba e confiando apenas um no outro em um país estrangeiro. Com Jung...