Capítulo 27

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Palavras: 3200

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Taehyung

Uma voz falava ao longe e, pouco a pouco, foi ficando mais próxima. Silhuetas foram se formando à minha frente antes que eu pudesse distinguir as palavras. Quando uma mulher idosa, com os cabelos grisalhos presos em um coque, apareceu no meu campo de visão, eu ainda não entendia palavra alguma das que ecoavam.

ㅡ Onde eu estou? ㅡ Perguntei, apertando os olhos. A idosa estava sentada em uma cadeira, mas havia um homem ao seu lado, com os cabelos ruivos e sardas por todo o rosto. Pude vê-lo encarar a mulher de soslaio, enquanto ela estava com a mão erguida em um pedido mudo para que esperasse. A minha mente rodava.

ㅡ Como você se chama? ㅡ Ela falou em francês, com uma voz aveludada, diferente da voz masculina que antes falava as palavras incompreensíveis.

ㅡ Taehyung... ㅡ Respondi, um pouco hesitante. Quando tentei esfregar os olhos, para afastar a sensação de ter dormido por muito tempo, notei estar algemado. A expressão no rosto marcado da mulher era intrigada. ㅡ Por que estou com algemas? ㅡ Olhei ao redor, percebendo que eu parecia estar em um consultório, sozinho com a senhora de branco e o homem ruivo. Na fresta por baixo da única porta, eu via a sombra de alguém parado.

ㅡ Eu sou a Diana. Já percebi que você fala francês, Taehyung. ㅡ Ela pronunciou meu nome de um jeito estranho, mas eu apenas a observei, desviando os olhos vez ou outra para o homem. ㅡ Mas também fala russo?

ㅡ Não... eu não... ㅡ Ainda me sentia muito confuso. Diana acenou para o ruivo, que fez, mais uma vez, as palavras incompreensíveis aparecerem. Eu identifiquei como sendo a língua russa, mas ainda não entendia o significado das palavras. ㅡ Eu realmente não entendo, Madame. Só... Onde está o Jungkook? Você sabe se ele está vivo? Ele está bem?

ㅡ Você tem muitas perguntas, eu entendo. Porém, primeiro, preciso saber do que você se lembra. Qual é a sua última memória? Se eu souber disso, vai ser mais fácil ajudá-lo. ㅡ Diana sorriu, os lábios finos esticados sobre dentes levemente protuberantes.

ㅡ A minha última memória? ㅡ Apertei os olhos tentando me lembrar. ㅡ Acho que foi o Jungkook no chão, deitado em seu próprio sangue... Ele está vivo? ㅡ Meu lábio inferior tremeu.

ㅡ Aparentemente você não tem lembranças dos últimos dias, Taehyung. ㅡ Ela começou a anotar alguma coisa em uma prancheta e eu contraí a mandíbula, rangendo os dentes. ㅡ Eu vou...

ㅡ O JUNGKOOK ESTÁ VIVO?! ㅡ Gritei. Se ela não dizia era porque ele não estava. Meus olhos voltaram a vasculhar a sala, procurando alguma coisa, qualquer coisa que eu pudesse usar para morrer também.

ㅡ Sim, ele está vivo. ㅡ O tom ainda era suave, como se eu não tivesse perdido o controle há pouco tempo. O homem ruivo pareceu ligeiramente incomodado e, por um momento, fiquei envergonhado. ㅡ Pode ir, Dimitri. Merci.

Ele assentiu e se retirou, mesmo parecendo estar com um olhar preocupado. Talvez estivesse preocupado de me deixar sozinho com a mulher, eu sentia isso. Pressionei os lábios um contra o outro, enquanto ela fazia anotações vagarosas na prancheta.

O Jungkook estava vivo, só isso importava. Era como se um peso enorme tivesse sido retirado dos meus ombros. V daria um jeito de nos juntar novamente, eu tinha certeza.

ㅡ Taehyung, você tem consciência sobre o seu Transtorno Dissociativo de Identidade? ㅡ Ela pareceu falar aquilo mecanicamente, como se fosse uma obrigação. V já devia ter contado muitas coisas a ela, eu imaginava.

ㅡ Sim, eu tenho.

ㅡ Desde quando?

ㅡ Desde a adolescência. ㅡ Ela voltou a anotar na prancheta, um som constante da caneta riscando o papel.

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