Twenty one

2.9K 154 53
                                    

Xxx Capítulo na régua, Verdinha no top #10, e eu não ganhei o sorteio 😭😭😭😭😭, to só o choro! Boa noite, sem mais por hoje! Enjoy xxX

Ludmilla Pov

- Eu não acredito! É você mesmo? Já faz tanto tempo que não te vejo que já estava esquecendo seu rosto!-
Respirei fundo ao ver Marcos estender os braços em minha direção, com um sorriso divertido, e não pude deixar de rir, mesmo que pouco, de sua recepção exagerada. Ao vê-lo depois de dois dias tão turbulentos e completamente distantes de minha realidade, me dei conta de que minha vida tinha, de certa forma, voltado ao normal: eu tinha uma mãe que me amava, um melhor amigo que me apoiava em praticamente tudo, e uma namorada simplesmente fascinada por mim. A cada passo meu que ecoava pelo frio pátio do colégio, uma simples pergunta se intensificava em minha mente, tornando-se quase impossível de ser ignorada. Mas não de ser respondida.
O que mais eu poderia querer?
- Que saudade. – foi tudo que consegui dizer quando cheguei perto dele, abraçando-o com força. A sensação de poder contar com alguém que provavelmente não me mataria se descobrisse meus segredos, e inclusive já sabia de uma boa parte deles, era extremamente revigorante.
- Hm, não gostei desse seu tom de voz. – ele murmurou, ainda me abraçando, e eu sorri fraco, comprovando minha teoria de que estava pra nascer uma pessoa que me conhecesse tão bem como ele. – Acho bom a senhorita me contar tudinho, ouviu? E a propósito, cadê a Pepa?-
- Ela não vem hoje. – respondi, e ele desfez o abraço pra poder me ver, com a expressão confusa. – Está no hospital..-
Marcos arregalou os olhos, assustado, e meu rosto adotou traços pesarosos.
- Ludmilla Oliveira... O que raios você fez com ela? – ele sussurrou, e se eu não estivesse tão esquisita, teria rolado de rir. Mas apenas sorri fraco novamente e balancei a cabeça em negação.
- Calma, não é nada do que você tá pensando. – expliquei, e ele colocou a mão sobre o peito, um pouco mais aliviado. – Ela tomou sol demais e acho que está com um princípio de insolação. Tive que insistir muito com ela hoje de manhã pra que ela concordasse em ir ao médico e ignorasse o fato de que tinha que dar aulas.-
Sim, eu finalmente a tinha convencido a ir ao hospital, depois de um certo esforço. Antes de ir para a escola, ajudei Pepa a vestir uma blusa e um short, e a coloquei dentro de um táxi, já que dirigir seria um pouco difícil pra ela. Como não podia acompanhá-la, por medo de sermos flagradas juntas, pedi ao motorista do táxi que a ajudasse a se locomover e a esperasse durante seu atendimento (óbvio que tive que gastar um pouco de minha mesada nessa transação, mas não deixei que Pepa visse essa parte), e pedi também para que o sempre simpático porteiro, Andy, a ajudasse a subir até seu apartamento na volta. Mesmo sabendo que tudo ficaria bem, um certo aperto em meu peito por não poder estar com ela insistia em me deixar deprimida. Pelo menos fiz Pepa prometer que me ligaria assim que chegasse em casa, o que de certa forma me tranquilizava um pouco.
- Coitadinha. – Marcos lamentou, fazendo cara de pena, e eu assenti. – Mas não se preocupe, vai ver que ela melhorará rapidinho. E você, não tomou sol não? Tá parecendo um zumbi, credo.-
- Tomei sim, tá legal? Você sabe que meu bronzeado não dura, e quando dura, é pra ficar descascando logo depois. – resmunguei ofendida, cruzando meus braços e fazendo Marcos rir. – Então eu prefiro que ele não dure mesmo.-
- Sei sim, você é toda problemática. – ele assentiu, ainda rindo um pouco, mas logo sua expressão se tornou séria e sua voz diminuiu de volume. – Ih, falando em problema...-
Franzi a testa em sinal de dúvida, mas assim que percebi a fixação do olhar de Marcos em direção a algo atrás de mim, já soube do que se tratava. Nem me dei ao trabalho de virar para saber quem havia acabado de chegar. Três segundos depois, Brunna passou bem ao nosso lado, e seu perfume adentrou minhas narinas, assim como meus olhos se fixaram inconscientemente em seus cabelos bagunçados, seu caminhar e...
Puta merda, Gonçalves. Precisava ter vindo de preto? Justo de preto? Por que ela tinha que jogar tão na minha cara que tinha um corpo simplesmente perfeito? Argh, vai pro inferno, demônia.
- Problema? – gaguejei, desviando meus olhos involuntariamente grudados ao corpo de Brunna (mais especificamente, à sua bunda ressaltada pela calça justa) rapidamente e voltando a olhá-la com uma pontada de frustração e ressentimento. – Não vejo problema nenhum.-
Marcos ergueu uma sobrancelha, cético, e minha firmeza vacilou um pouco.
- Desde quando você atingiu esse ponto de autocontrole? – ele perguntou, e eu apenas revirei os olhos, fingindo desinteresse.
- Não é autocontrole. – respondi, balançando negativamente a cabeça e tomando todos os cuidados necessários para não olhar para Brunna, por mais que a porta da sala dos professores ficasse na mesma direção de Marcos e ela estivesse passando por ali naquele exato momento. – É determinação. Eu amo Pepa, e ela também me ama... Por que eu precisaria de mais alguém?-
- Não sei. – ele deu de ombros, abandonando a expressão desconfiada e mudando para uma distraída. – Sexo, talvez.-
- Marcos! – exclamei, empurrando-o de leve, e um sorrisinho safado surgiu em seu rosto, assim como minhas bochechas devem ter corado.
- Ah, Ludmilla, fala sério... Sexo é ótimo e você sabe muito bem disso. – ele riu baixo, apontando pra mim e fazendo cara de sabido. – Não tente bancar a santinha, porque comigo não cola.-
Apesar de desaprovar seu comentário desnecessário (e seu alto teor de fatos reais), não consegui responder nada. Minha concentração se esvaiu novamente e meus olhos foram cruelmente arrancados de Marcos e conectados a Brunna, que agora fazia o caminho inverso ao anterior para entrar no prédio onde ficavam as salas. Conforme se aproximava da entrada do prédio, que por sinal era onde eu e Marcos estávamos paradas, sua expressão fechada se tornava cada vez mais nítida, e, infelizmente, mais bonita. Não que eu ligasse para isso, claro.
Respirei fundo, afastando todo e qualquer pensamento indesejado de minha mente, e finalmente consegui rebater a brincadeira idiota de Marcos, alto o suficiente para que Brunna me ouvisse ao passar bem atrás dela.
– Posso até não ser santa... Mas não sou um mero brinquedo.-
Assim que as últimas palavras saíram de minha boca, Brunna parou de andar, logo atrás de Marcos. Meu olhar ávido acompanhou seu rosto enquanto ela o virava na minha direção, e logo os aros mel de seus olhos se tornaram plenamente visíveis. Sua testa estava franzida sobre eles, e seus lábios estavam firmemente fechados, formando uma linha reta e demonstrando sua seriedade. Não desviei meu olhar do dela; pelo contrário, intensifiquei nossa conexão visual até que ela se desse conta de que estava me olhando por tempo demais e passasse a encarar o chão, voltando a andar logo em seguida. Marcos, confuso demais para entender alguma coisa, apenas olhou para trás tentando acompanhar meu olhar ainda fixo, e ao encontrar a porta do prédio já vazia, voltou a me encarar, desconfiada.
- Se antes eu já estava achando que precisava saber de algo, agora eu tenho certeza absoluta disso. – ele murmurou, me analisando minuciosamente, e eu não conseguia tirar meus olhos do local onde antes Brunna me encarava. – Mas seja lá o que esse algo for, tenho a impressão de que não é nada pacífico.-
- Alguém já te disse que seu poder de dedução é simplesmente incrível? - sorri de um jeito maldoso, satisfeita por ter conseguido alfinetar a idiota da Gonçalves, e voltei a olhar para Marcos, que ainda me fitava daquele jeito desconfiado. De pacífica, aquela história não tinha absolutamente nada. Aliás, tudo que envolvesse Brunna Gonçalves em minha vida jamais seria pacífico.
E tal constatação me fez concluir, agora com certeza, que minha vida havia realmente voltado ao normal.
^^^
Metade da segunda aula. Física. Uma professora de 45 anos toda esticada pelas sucessivas cirurgias plásticas e com menos roupa do que eu, no maior estilo brotinho, tentando enfiar na cabeça de seus alunos ainda sonolentos algumas fórmulas sobre elétrica. Duas palavras: não, obrigada.
Eu rabiscava incessantemente em meu caderno, imaginando que espírito havia se apossado de minha mão para mantê-la tão inquieta. Primeiro, fiz cubos deformados devido à minha incapacidade de desenhar algo que prestasse. Depois de uns vinte desses nas bordas da folha, acabei desistindo de formas geométricas e comecei a esboçar um olho gigante no centro. Enquanto arrumava alguns detalhes de seu contorno, tentando ignorar a voz irritante da professora esbravejando as fórmulas na frente da classe, me lembrei do dia em que li num site sobre o significado dos rabiscos que as pessoas fazem quando estão distraídas, e que podem às vezes transmitir seus sentimentos. Olhos e cubos, pelo que eu me lembrava, representavam uma situação na qual a pessoa está frente a frente com uma decisão importante ou um fato decisivo, e não quer ou tem medo de encará-la. Revirei os olhos pela futilidade desse tipo de análise, e repeti mentalmente as mesmas duas palavras: não, obrigada.
Até que meu olho estava indo bem, mesmo com o fato de minha habilidade artística ser uma merda, mas foi inevitável não pular na cadeira e tremer meu traço quando o celular vibrou dentro do bolso da calça. Só podia ser Pepa. Aleluia.
Pedi à professora para ir ao banheiro, e ela mal me olhou, compenetrada demais em supostamente ensinar os poucos alunos interessados a aplicar suas fórmulas ridículas de tão fáceis. Saí quase que correndo da sala, e assim que fechei a porta atrás de mim, atendi à chamada, sem nem olhar para o número.
Ligação On:
- Lud?– a voz de Pepa emanou do aparelho sem que eu nem precisasse dizer nada, e um sorriso aliviado surgiu em meu rosto.
- Oi, amor. – respondi, caminhando lentamente em direção ao banheiro. – Como você tá? Já voltou do hospital? Foi tudo bem? O que te disseram lá?-
- Calma, uma coisa de cada vez. – ela riu, e eu não pude deixar de imitá-la de um jeito nervoso, só então notando minhas perguntas afobadas. – Eu estou bem, já estou em casa, foi tudo bem por lá, mas... Eu tenho uma notícia não muito agradável.-
- Desde que você não fique desse jeito pra sempre, ou por muito tempo, não vejo nada que possa ser tão ruim. – adiantei ansiosamente, desistindo de chegar até o banheiro e me apoiando na parede ao lado de uma sala de aula qualquer.
- Segundo o médico, eu vou voltar ao normal em breve, não se preocupe com isso. – Pepa disse, com a voz levemente divertida, e o alívio cresceu ainda mais dentro de mim. – O problema é que eu vou precisar de cinco dias de descanso para isso. E quando eu digo descanso, estou dizendo que não poderei ir à escola. Ou seja... Não vou poder te ver.-
Meus olhos, que observavam o corredor deserto, despencaram até encontrar meus próprios pés após aquela notícia. Cinco dias sem Pepa, ainda mais agora, que eu precisava dela como nunca para me manter firme em minha decisão e não me deixar abater, seriam quase uma eternidade.
Mas tudo bem. Eu era forte o suficiente para aguentar, certo?
Respirei fundo, me preparando para dizer que não me importava e que havia grandes chances de sobrevivência para mim, mas antes que eu pudesse abrir a boca, a porta da sala da qual eu estava praticamente ao lado se abriu, e a professora Gonçalves irrompeu dela, quase trombando comigo ao fazê-lo. Seu jaleco absurdamente branco, em contraste com sua roupa preta, esvoaçou escandalosamente devido ao seu movimento brusco para frear e não tocar em mim, ao contrário de seus olhos, que se depararam com os meus carregados de uma surpresa assustada. Senti que fui atingida por uma nuvem de seu perfume assim que ela freou bem perto de mim, e para o meu próprio bem, tentei não respira-lo. Em vão, claro, porque quando finalmente consegui bloquear minhas vias respiratórias, já havia inspirado o suficiente para que aquele cheiro viciante dominasse meus pulmões por completo. Como eu era idiota.
Brunna não disse nada (e eu não esperava que ela o fizesse, ainda mais vendo que eu estava falando ao celular), e apenas continuou bruscamente seu caminho até as escadas, descendo-as velozmente e me deixando desnorteada. Eu tinha um certo problema com proximidade exagerada, em especial quando a pessoa desconfortavelmente próxima era ela; era como se eu fosse um aparelho eletrônico que sofresse interferência diante de seu corpo e ficasse todo desregulado.
- Eu sei que a notícia não é nada boa, mas também não precisa ficar nesse silêncio fúnebre.– Pepa murmurou, com um certo humor na voz, e eu acordei de meus devaneios. Nota mental: dar um jeito nessas minhas viagens na maionese pós Gonçalves.
- Ah, não, eu... Eu vou ficar bem, não se preocupe. – falei, tentando não parecer tão afetada pela breve presença de Brunna. – Descanse bastante e fique bem logo, é só o que eu quero que você faça.-
- Pode deixar, eu vou fazer. – ela sorriu, ainda falando um pouco baixo, e diminuiu ainda mais o volume de sua voz ao continuar. – Vou morrer de saudades.-
Fechei os olhos e mordi meu lábio inferior, sentindo meu coração finalmente dar seus primeiros sinais de normalidade após o momento relâmpago de adrenalina, e respirei fundo antes de respondê-la, sendo tão sincera com ela quanto eu não me lembrava de ter sido por muitas vezes.
- Eu também.
- Eu amo você. – Pepa sussurrou, e mesmo mal conseguindo ouvir sua voz, soube que ela estava sorrindo ao falar.
- Volte logo... – cochichei, abrindo os olhos novamente, e soube que não era preciso repetir suas palavras para que ela entendesse que eu sentia o mesmo. Pepa desligou logo em seguida, e mesmo após o fim da chamada, mantive meu celular próximo de minha orelha, com duas últimas palavras presas em minha garganta. Mesmo sabendo que ninguém as ouviria, minha alma precisava que eu as dissesse, consumida por toda a agonia que eu guardava dentro de mim, e assim eu o fiz.
- Por favor.
Ligação off:
^^
- Baile de primavera?
Empaquei diante do grande e colorido cartaz afixado numa das paredes do pátio, após ler as três palavras que apareciam em seu título.
- Nossa, só agora você reparou nisso? – Marcos perguntou, surpreso com meu choque. – Está aí há umas duas semanas, pelo menos.-
Impossível. Essa era a palavra que ecoava em minha cabeça, como uma sirene de ambulância. Era absolutamente impossível que aquele cartaz estivesse ali há duas semanas. Como eu poderia ter passado por ele durante quase dez dias e não o ter visto? Quer dizer... Uma coisa tão divulgada como um baile de primavera deveria ter saltado aos meus olhos, certo? Olhei em volta, caçando outros cartazes, e não precisei ir muito longe para encontrá-los. E não foram poucos. OK, talvez eu tenha andado preocupada demais com conflitos internos para reparar neles.
Eu nunca reparo em nada que acontece naquela escola mesmo, a não ser que envolva pessoas de meu interesse.
- Um baile de primavera? – repeti, ainda incrédula, e só então meus olhos se dirigiram à data do evento. – Nesse sábado?-
– Isso mesmo, Ludmilla, um baile de primavera. – Marcos bufou, revirando os olhos e me puxando pela mão até o lugar onde costumávamos ficar durante todos os intervalos. - Para pessoas sociáveis interagirem e se divertirem, o que não costuma se aplicar a nós, pelo menos não no meio dessa gente.-
- Se ser sociável é ser fútil que nem o Duarte e os outros alunos dessa escola, nunca quero deixar de ser anti social. – falei, e ela concordou com um aceno de cabeça. – Na verdade, nem sei por que fiquei tão afetada com esse baile... Não vou participar mesmo.-
- Nem eu. – Marcos deu de ombros. – Você podia dormir lá em casa, né? A gente comprava barras de chocolate e passava a noite falando de homens bonitos... Ou mulheres.. O que acha?-
- Eu topo, mas prefiro que seja lá em casa. – assenti, me lembrando de minha mãe e da saudadezinha que eu já estava sentindo dela, assim como de meu quarto, meu reino sagrado, meu santuário imaculado e todos os outros nomes religiosos que você pode imaginar. – Já passei muitas noites fora de casa ultimamente.-
- Tenho certeza de que nossa noite vai ser muito mais divertida do que a desse povo fútil. – ele disse, convicto, e eu ri de sua expressão convencida. – Falando em futilidade, acabei de me lembrar de que preciso pegar o livro de geografia para a próxima aula... Vem comigo até meu armário?-
- Claro. – respondi, rindo novamente de seu comentário sobre geografia e futilidade, opinião com a qual eu concordava plenamente, levando-se em consideração que nosso professor era ninguém mais, ninguém menos que Antonio Reid (ou simplesmente L.A, como alguns o chamavam).
Chegamos rapidamente ao armário de Marcos, e assim que ele o abriu, um pedaço de papel caiu de dentro dele. Ele franziu a testa, desconfiado, e pegou o papel do chão, lendo seu conteúdo logo em seguida. Seus olhos se arregalaram após ler o curto texto escrito no bilhete, e vendo que ele estava paralisado diante do que lera, arranquei o papel de sua mão, curiosa.

Secret Love - Brumilla Onde histórias criam vida. Descubra agora