Thirty five

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Xxx Piscou e Oh, capítulo novo. Enjoy xxX

Ludmilla Pov

Respire. 
Mantenha a calma. 
Pense. 
Tudo vai dar certo. 
Agora... Hora de reagir.

Voltei a fixar meus olhos na diretora, e entrei na sala, fechando a porta atrás de mim. Caminhei rapidamente até a cadeira vazia, que graças a Deus, ficava na ponta, ao lado da de Brunna. Pelo menos eu não precisaria ficar perto de Pepa, muito menos de Caio.
- Imagino que saibam por que estamos aqui, certo? – a diretora Bottega disse, olhando para mim e para Brunna, que assentiu. – Não deve ser surpresa para nenhuma das duas o fato de que a professora Ferreira fez algumas acusações a seu respeito, então.
Engoli em seco, vendo-a nos encarar incisivamente. Um silêncio tenso caiu sobre nós, até que Brunna o quebrou.
-Ainda assim, eu gostaria de ouvir o que a professora Ferreira tem a dizer. – ela falou, extremamente séria, e ela ergueu uma sobrancelha, como se achasse seu pedido uma perda de tempo. – Receber uma punição sem ouvir as acusações seria o mesmo que assinar um contrato sem lê-lo.
Após alguns segundos de reflexão, a diretora pareceu convencer-se.
- Por favor, professora Ferreira, repita o que me disse há pouco. – ela assentiu, voltando seu olhar para Pepa, assim como todos nós. Ela me lançou um rápido olhar antes de começar a falar, e eu me senti estranhamente enjoada.
Talvez prevendo o que viria.
- Eu fui ameaçada.
Franzi a testa, sem me recordar do momento em que tal fato havia acontecido. Talvez porque ele não tenha acontecido.
- Ela sempre teve essa obsessão por mim, desde que comecei a dar aulas para a sua turma. – Pepa prosseguiu, e eu senti que precisaria de muito esforço para que meu café da manhã, ainda sendo digerido em meu estômago, não fosse parar sobre a mesa da diretora. – Eu sempre tentei evitar qualquer tipo de aproximação desnecessária, até o dia em que ela se cansou de meu comportamento profissional e ameaçou me acusar de abuso sexual se eu não aceitasse um relacionamento íntimo.
Meu rosto estava congelado numa expressão incrédula, ultrajada e revoltada. Eu só podia estar delirando... Não havia outra explicação plausível.
- Eu preciso do emprego, não tenho a vida ganha. – ela continuou, com a expressão inocente, e minhas mãos se fecharam em punhos em torno dos apoios laterais da cadeira. – Por isso, temendo que ela realmente me denunciasse, eu aceitei sua condição, mas sempre pensando numa forma de fazê-la voltar atrás e retirar sua ameaça. Felizmente, após algum tempo, convencida de que eu jamais poderia retribuir seus sentimentos, ela me libertou de sua chantagem. Infelizmente, porém, seu foco desviou-se para outra professora.
- No caso, a professora Gonçalves. – a diretora disse, e Pepa assentiu. Meu olhar estava inconscientemente cravado nela durante todo o seu falso depoimento, e eu não me surpreenderia nem um pouco se ela e Caio começassem a pegar fogo dali a alguns segundos devido ao meu ódio. Olhei rapidamente para Brunna, vendo-a encarar a mesa com o rosto isento de expressão.
Ela já esperava truques baratos como aquele. Eu também já. Mas não tão baratos como simplesmente jogar toda a culpa para cima de mim. E ainda por cima, trazer Caio, cuja presença eu ainda não entendia.
- Não foi muito difícil para ela fazê-la corresponder seus sentimentos, já que seu histórico entre as alunas do colégio sempre foi bastante comentado. – ouvi Pepa falar, e decidi adotar a tática de Brunna e não olhar mais para ninguém; mantive meus olhos baixos e o maxilar trancado, recusando-me a assistir àquele momento deplorável. - E honestamente, diretora, eu não creio que seja esse o tipo de profissional que uma instituição de ensino tão renomada queira ter em seu corpo docente. Além do fato de que a srta. Oliveira claramente necessita de suporte psiquiátrico, afinal, ninguém em seu perfeito estado mental faria o que ela fez. -
Vai pro inferno, desgraçada, minha consciência dizia, e eu respirei fundo para não externar as palavras. Virei meu rosto na direção oposta à de Pepa e todos os outros presentes, sentindo meu corpo inteiro queimar de ódio. Filha de uma senhora puta.
- O que as senhoras têm a dizer? – Debora perguntou alguns segundos depois, e nem precisei olhá-la para saber que se referia a mim e a Brunna. Ela suspirou, preparando-se para falar, porém as palavras simplesmente irromperam de minha boca, sem que eu sequer me desse conta de que elas estavam subindo por minha garganta.
- Se eu dissesse que é tudo mentira e que quem precisa de suporte psiquiátrico é ela, a senhora acreditaria em mim? -
A diretora piscou algumas vezes, surpresa com a minha resposta rápida, e eu a encarei com determinação. Se ela achava que conseguiria nos afundar sem que eu lutasse contra isso, estava muito enganada. Ela podia ter sua determinação, mas ela nem se comparava à minha.
Eu tinha por quem lutar. Ela só tinha a si mesma.
- Acreditaria. – ela disse, devolvendo meu olhar determinado com firmeza. – Se fosse apenas a sua palavra contra a da srta. Ferreira. O que não é o caso.
Cerrei levemente meus olhos, sem entender, e foi então que uma quinta voz finalmente se pronunciou, explicando o motivo de sua presença.
- Eu vi a professora Gonçalves e a Oliveira se beijando no laboratório de biologia. – Caio mentiu, me lançando um olhar de censura. Fechei meus olhos por um breve momento, soltando um risinho descrente, e voltei a baixar meu olhar. Sério mesmo, Duarte?
- Há uma testemunha contra vocês. – a diretora observou, entrelaçando seus dedos por sobre a mesa. – E isso não pode ser ignorado.
- É mentira. – Brunna se pronunciou, sem perder a inexpressividade, porém com muita certeza do que dizia. – Nós nunca fizemos nada nos laboratórios. Mesmo que ele seja uma suposta testemunha, é a minha palavra contra a dele.
- Ah, é? E você tem como provar que seu argumento é verdadeiro? – Caio perguntou, esquecendo-se de comportar-se educadamente.
- Você tem como provar que o seu é? – rebati, encarando-o com desprezo e destruindo sua autoridade num segundo. Brunna não estava sendo totalmente sincera, mas nunca havíamos sido flagrados no laboratório, sempre nos precavíamos. Aquele testemunho era absolutamente inconcebível.
- Com licença, diretora Bottega. – ouvi uma voz masculina dizer da porta, e todos nos viramos para ver o inspetor. – Desculpe interromper.
- Tudo bem. – ela bufou, incomodada com a intervenção. – O que houve?
- A mãe de uma aluna acabou de ligar para a secretaria. – ele explicou, e eu franzi a testa ao ver duas cabecinhas familiares por sobre seu ombro. – Ela disse que está vindo para o colégio falar com a senhora.
Prestei pouca atenção em suas palavras, mais concentrada em saber o que raios Marcos fazia do lado de fora da secretaria, acenando discretamente para mim e acompanhado de Marielle Guzman. Totalmente confusa, olhei rapidamente para Brunna, que ostentava a mesma expressão perdida que eu.
- Esta manhã eu não posso atender mais ninguém. – a diretora falou, balançando negativamente a cabeça. – Peça a ela para vir amanhã.
- Com licença, diretora. – Marcos chamou da porta, e o inspetor pareceu irritado com a intromissão. – A mãe que está vindo é a dela.
Arregalei os olhos ao vê-la me indicar com um aceno de cabeça, e olhei novamente para Brunna, recebendo um olhar surpreso de volta. Pelo visto, ela não sabia muito mais do que eu, e isso me confortava de certa forma.
- A sra. Oliveira? – Debora perguntou, e logo após ver Marcos assentir, ela dirigiu seu olhar para mim. – Ela sabe de tudo isso?
- Ela sabe a verdade. – corrigi, encarando a diretora com firmeza. – E tudo isso não é a verdade.
- Ela não é a única. – novamente Marcos disse, olhando com certa indignação para o inspetor que bloqueava a porta, e logo em seguida invadindo a sala com Marielle em seu encalço. – Eu e a srta. Guzman também sabemos.
Olhei para Marcos, em pânico, e o vi esboçar um sorriso satisfeito. Com toda a certeza do mundo, eu havia perdido algo.
- Pois não, senhores. – a diretora Bottega assentiu após alguns segundos de hesitação, e dispensou o inspetor com um aceno de mão. – Sou toda ouvidos.
- Se incomoda em começar? – Marcos perguntou, virando seu rosto para Marielle, assim como todos os outros presentes. Notando que era o centro das atenções, ela respirou fundo antes de falar.
- Eu ouvi uma conversa entre as duas há alguns meses... Numa sala vazia. – ela começou, parecendo tímida, porém bastante certa do que dizia. – Eu saí da sala para ir à enfermaria tomar um comprimido para dor de cabeça, e assim que apareci no corredor, vi a professora Ferreira puxando Ludmilla pela mão para uma sala perto dos banheiros. Fiquei curiosa e me aproximei para ouvir a conversa delas por trás da porta, e só consegui escutar alguns pedaços. E bem... Eu ouvi claramente a professora Ferreira dizer que queria beijá-la. -
- Eu não admito que uma aluna faça uma acusação dessas sem poder provar! – Pepa exclamou, exaltada, e a diretora ergueu uma mão, ordenando que ela se acalmasse.
- Ninguém aqui tem provas concretas, professora. – ela esclareceu, olhando para Marielle em seguida. – A senhorita tem certeza do que disse?
- Absoluta. – Marielle confirmou, e só então eu me dei conta de que mal respirara desde que ela começara a falar. Se eu não estava enganada, aquele momento ocorrera no dia seguinte ao nosso primeiro beijo. Como fomos tão descuidadas a ponto de permitir que alguém nos visse e ouvisse?
Minha mente mergulhou em questionamentos, mas parte dela manteve-se atenta a tudo que acontecia à minha volta. A diretora assentiu, respirando fundo, e olhou para Marcos.
- E o senhor... O que tem a dizer?
- Será que eu posso me sentar? – ele perguntou, fazendo uma caretinha, e eu quase ri da forma confiante através da qual ele lidava com a situação. – A história é um pouco longa, e eu faço questão de ser bem detalhista.
- Eu vou buscar duas cadeiras em alguma sala vazia. – Brunna se ofereceu, levantando-se antes mesmo que a diretora se pronunciasse, e todos se mantiveram quietos até que ela retornasse.
- Muito obrigado, professora, a senhora é muito gentil. – Marcos agradeceu enquanto ele e Marielle se acomodavam, sorrindo para Brunna e logo em seguida lançando um rápido olhar de desprezo para Pepa. – Agora eu posso contar tudo. Hm... Por onde começo?
Quinze minutos se passaram, durante os quais a voz de Marcos fora praticamente soberana na sala. Apenas a diretora fazia algumas perguntas, que eram muito bem respondidas, enquanto o resto dos presentes, incluindo eu, ouvia em silêncio. Observei o rosto de Pepa, já um pouco nervosa diante de todo o relato verídico e convincente de Marcos, e meu coração acelerou. Desviei os olhos para Brunna, que olhava atentamente de Marcos para a diretora, e então olhei para Marielle, cochilando sobre o próprio ombro. Típico.
- Com licença, diretora Bottega. – o mesmo inspetor interrompeu, e todos nós o olhamos. – A sra. Oliveira acabou de chegar.
- Peça-a para entrar, por favor. – Debora pediu, e meu coração quase parou ao ver minha mãe entrando, poucos segundos depois, na pequena sala já tão cheia de gente.
- Bom dia, diretora. – ela sorriu, sem o menor sinal de nervosismo ou raiva, e logo em seguida olhou para Brunna. – Olá, querida. Como vai?
- Bem, e a senhora? – ela disse imediatamente, sorrindo de maneira amigável, e ela assentiu, respondendo-a.
Espera um pouco aí.
O que diabos eu havia perdido afinal? Eu tinha ficado desacordada por algumas semanas? Desde quando minha mãe conhecia Brunna?
- Bom dia, sra. Oliveira. – a diretora cumprimentou, alguns segundos depois, parecendo tão pega de surpresa com a simpatia entre as duas quanto eu e Pepa, que mal conseguia disfarçar sua indignação. – Por favor, sente-se.
- Fique à vontade. – Brunna adiantou-se, ficando de pé e fazendo um gesto para que minha mãe ocupasse o seu lugar.
- Muito obrigada. – mamãe falou, obedecendo-a e dando um breve sorriso para mim enquanto Brunna parava atrás de minha cadeira e apoiava suas mãos no encosto dela.
Apenas pisquei, olhando para Marcos e vendo-o prender um sorrisinho. A voz da diretora me trouxe de volta à realidade, e eu me concentrei para guardar minhas dúvidas e prestar atenção nela.
- Pois bem... A que devo sua presença?
- Primeiramente, eu trouxe alguns bilhetes que encontrei no criado-mudo de minha filha. – ela começou, mexendo em sua bolsa e retirando alguns pedaços de papel dobrado dela, logo depois colocando-os sobre a mesa. - São bilhetes da professora Ferreira, pelo que pude perceber. E se a senhora ler qualquer um desses, terá como se certificar de que a caligrafia é dela. -
Encarei os bilhetes sobre a mesa, totalmente perplexa. Como minha mãe os havia descoberto? Tentando encontrar uma resposta racional, apenas observei a diretora abrir um deles e lê-lo em voz alta: 

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