Seventy

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Xxx Vamos de Capítulo? Kkkk Enjoy xxX

Ludmilla Pov

- Então?! Não vai me explicar essa história, Isabela?!
- Ludmilla, convenhamos, isso é história dessa mulher. Você sabe que eu não tenho nenhuma irmã mais nova, estudamos juntas desde pequenas, namoramos..
- Eu nunca conheci sua família, Isabela.
- Acredite em mim, não tenho irmã nenhuma. Isso é uma história barata que essazinha está tentando empurrar pela sua garganta. Não acha estranho?! Logo no dia em que você sai com uma pessoa, ela aparece com essa versão.
- Até que você tem razão. – massageei o queixo, pensando se deveria ou não acreditar em Brunna. Bem ou mal, nunca ouvi Isabela comentar de nenhuma irmã. – Acho que..
- Ludmilla, não me fala que vai acreditar nessa mulher e não em mim.
- Brunna, você me traiu.
- Eu não trai você, porra! – o rosto dela voltou à coloração avermelhada e os garçons estavam começando a falhar na tarefa de segurá-la. – Não estou mentindo e eu posso te provar!
Voltei minha atenção para Brunna e franzi o cenho, olhei novamente para Isabela e ela parecia tensa, enquanto estancava o sangramento do nariz com mais guardanapos. As pessoas que jantavam agora tinham seus olhares sob nós e eu odiava esse tipo de exposição. Caminhei com calma até Brunna e pedi para que os garçons soltassem seus braços, de início, hesitaram, mas meu olhar tranquilo os convenceu. Segurei o rosto dela entre minhas mãos e encarei aqueles olhos que eu tanto amava, pulsando de ódio.
- Como você vai me provar isso, Brunna?
- Nadia está aqui.
- O que?! – ouvi a voz de Isabela explodir atrás de mim e ela levantou do chão, correndo até nós e parando a dois passos de Brunna. – Como assim a Nadia está aqui?! Você além de trair sua mulher com ela, ainda tem coragem de trazê-la junto?! Brunna, percebe o circo que essa pessoa está fazendo?! Não acho que..
- Isabela, cala essa boca, por favor! – fechei os olhos e respirei fundo, antes de encontrar Brunna com um olhar amargurado. – Traz ela.
Me sentei em uma das cadeiras e um garçom me ofereceu um copo de água com açúcar, sentia minha cabeça dando voltas e só desejava sair correndo dali. Isabela conversava com outro garçom e ele lhe oferecia mais guardanapos, pelo visto, as pancadas de Brunna tinham feito um belo estrago. Bebi a água toda e assim que coloquei o copo em cima da mesa, ouvi um pigarro atrás de mim. Virei minha cabeça e encontrei uma menina ruiva, muito bonita. Ela tinha alguns traços de Isabela, como a boca e o formato do rosto. Os olhos também me lembravam os de Isabela quando ela era mais nova. Não tive dúvidas quanto a colocação de Brunna, Nadia era sim irmã da minha ex.
- Bo.. Boa noite.
- Então.. você é a Nadia?
- Sou.. eu..
- Sente-se. – apontei para a cadeira em frente à minha e Nadia olhou para Brunna, provavelmente se certificando de que eu não a atacaria ali mesmo. A menina lançou um olhar assustado para Isabela e abaixou a cabeça, fitando os próprios pés. - Nadia?
- Sim.
- Será que você pode me contar o que aconteceu? Não se preocupe, não vou te morder.
- É que.. eu.. não posso..
- Se contou para a Brunna, pode falar pra mim também. Não?
- Mas a professora Gonçalves escutou minha conversa com a minha irmã, por isso ela sabe.
- Sua irmã, é?! Isabela?
- É..
- Nadia, vou te dar uma chance de sair desse restaurante com o rosto melhor que o da sua irmã. Por isso, acho bom começar a abrir a boca e me contar tudo.
- Me desculpa.. – a ruiva lançou um olhar magoado para Isabela, que levou as mãos à cabeça e soltou um murmurro irritado. – Eu juro, não queria ter nenhum tipo de relacionamento com a professora Gonçalves. Não sou lésbica, tenho até namorado.
- Então como chegou nisso?!
- Meu sonho sempre foi fazer medicina, mas meus pais não têm condições financeiras à altura de uma boa faculdade. Minhas notas também não eram lá essas coisas, por isso não consegui uma bolsa. Foi então que minha irmã apareceu.
- O que ela fez?
- Isabela voltou para casa com um diploma da Columbia e meus pais rasgaram elogios à ela, até mesmo a minha mãe, que é madrasta dela. Mas não era só isso que ela queria. No primeiro dia de residência dela, me contou que ainda era apaixonada por uma menina que ela se relacionou no colégio. Tenho que confessar, essa notícia me pegou desprevinida, nunca pensei que minha irmã mais velha, fosse lésbica. Ela me perguntou sobre minhas ambições e eu contei sobre meu sonho de cursar medicina. Foi ai que começou o circo.
- Deixa eu adivinhar, te propôs uma matrícula na Columbia se você tirasse Brunna do caminho dela? – Nadia abaixou a cabeça e assentiu, voltando a fitar os pés. – Minha nossa, Isabela, você já foi melhor nisso. Precisou persuadir sua irmã mais nova, fazê-la tentar seduzir uma mulher, só porque você não teve a capacidade de me reconquistar. Que papelão.
- Situações extremas pedem medidas extremas. Eu precisava fazer alguma coisa, e sabendo do histórico da Gonçalves, foi fácil criar alguma coisa.
- Não se envergonha de ter exposto sua irmã dessa maneira?!
- Não, Nadia aceitou o trato porque quis. Falando nisso, está desfeito. Arrume alguém para bancar seus últimos dois meses de faculdade, Yanik.
- Mas, Isabela.. você.. prometeu.
- Quem mandou dar com a língua nos dentes?! Agora se vira, pede pra sua mãe. – cerrei os olhos para Isabela e senti meu sangue borbulhar. Nadia escondeu o rosto nas mãos e escutei seu soluço. – Para de chorar e levanta dessa cadeira, vamos embora.
- Moreira, quero te dar uma coisa antes de ir embora. – abri um sorriso amigável, fazendo Isabela sorrir e se aproximar do meu rosto. – É uma coisa que eu tenho certeza que você nunca mais vai esquecer.
- E o que é?
- Isso. – fingi aproximar meus lábios dos dela, quando vi que Isabela já estava de olhos fechados e esperando por um beijo, abri a palma da mão e acertei seu rosto em cheio. – Pensou mesmo que eu fosse te beijar depois de tudo isso?! Você quase destruiu a minha família e meu casamento. Ninguém ameaça a minha felicidade por egoísmo e sai impune. Se você voltar a cruzar o meu caminho, Isabela Moreira, eu juro por Deus, não vou responder por mim. Esse sangramento no seu nariz é fichinha perto do que eu posso e vou fazer. Suma da minha frente agora.
- Tu.. tudo bem. Vamos, Nadia. – a menina levantou da cadeira e ameaçou acompanhar Isabela para fora do restaurante, mas eu segurei seu braço, fazendo com que ela me olhasse assustada. – O que está fazendo?!
- Eu vou deixar essa menina em casa, você pode ir embora. Anda, sai daqui.
- Mas ela é minha irmã!
- Não. Para você, ela é só mais uma armadilha para tentar me apanhar. Vai embora, Moreira.
Isabela alternou seu olhar entre eu e Nadia, virou as costas e saiu quase correndo do restaurante, deixando algumas pessoas assustadas. A menina estava tremendo enquanto eu a segurava pelo braço, mas abri um sorriso terno para ela, que pareceu ver que não tinha com o que se preocupar. Sentamos novamente na mesa e ela mordeu o lábio inferior, completamente envergonhada. Chamei o garçom e pedi duas águas, bebida alcóolica não seria uma opção no momento. Olhei em volta e não encontrei Brunna no restaurante, só espero que ela não tenha ido atrás de Isabela para tirar mais satisfações.
- Me desculpa. – minha atenção foi voltada para uma Nadia encolhida na cadeira, brincando com os próprios dedos. – Eu.. quase destruí seu casamento. Desculpa.
- Não tem com o que se desculpar, você fez isso por causa da faculdade. Gosta tanto assim de medicina?
- Sou apaixonada, vivia lendo os livros que Isabela tinha em casa.
- Já sabe em o que vai se especializar?
- Neurocirurgiã.
- Carreira promissora, tenho certeza que vai alcançar seus objetivos. Nadia, só te mantive aqui, porque quero lhe propor uma coisa.
- Que tipo de coisa?! Não vou precisar seduzir mais ninguém, né?! Já foi difícil explicar pro Matthew, meu namorado, que estava fazendo tudo isso à mando da minha irmã e..
- Nadia, calma! Não, você não vai precisar se jogar em cima de ninguém, fique tranquila. O que eu tenho pra lhe propor é muito simples. Eu vou pagar seus últimos dois meses de faculdade com uma condição.
- E qual é?!
- Que vai tirar nota máxima, conseguir uma vaga como neurocirurgiã em um hospital excelente e que vai dar um chute na bunda da sua irmã por mim.
Os olhos da ruivinha se encheram d'água e ela pulou em cima de mim, me apertando em um abraço. Devolvi com a mesma intensidade e senti meu corpo leve, Brunna não tinha me traído. Minha mulher continuava fiel à mim. Abri um sorriso de felicidade e deixei uma lágrima emocionada escapar pelo canto dos olhos. Tudo estava voltando ao normal.
Depois de deixar Nadia em casa, dirigi com pressa até a casa de Harry. Eu sabia onde ele guardava as chaves extras e entraria sem que Brunna me visse. Já passava das onze da noite e Manhattan parecia longe de dormir. Estava louca para ver meus filhos, apesar de estar apenas a algumas horas longe deles. Na realidade, estava necessitada de uma coisa em especial. Queria os lábios de Brunna e suas mãos passeando pelo meu corpo. Senti meu coração dar dois pulos dentro do peito quando estacionei em frente ao prédio de Harry e ver o carro dela bem ali. Estacionei atrás e desci, tomando fôlego enquanto atravessava a porta giratória.
- Senhorita Oliveira, boa noite! Como está? – recebi um aceno animado de Hugh, um porteiro de cinquenta anos e um amor de pessoa.
- Boa noite, Hugh. Estou bem, espero que você também esteja.
- Ah, como sempre! O vinho me mantém vivo. – soltei uma gargalhada junto com ele e neguei com a cabeça, me perguntando se deveria ou não perguntar por ela. – Olha, a senhorita Gonçalves chegou tem mais ou menos uma hora com Chronos e Atena. Seus filhos estão enormes!
- Viu só?! Imagina o que eu não passei enquanto estava grávida.
- Sinceramente, prefiro não imaginar. – me fingi de ofendida e ele levantou as mãos, se rendendo ao meu desapontamento. – Bom, antes que a senhorita acabe tomando horror de mim, aqui estão as chaves extras do apartamento do senhor Moura. Ele comentou que você viria.
- É.. o Harry sabe das coisas. Vou subir, Hugh, estou morta de cansaço e quero dar um beijo nos meus filhos. Boa noite.
- Tenha uma boa noite, menina.
Entrei no cubículo de aço e apertei o botão do 15º andar. A cada número diferente no painel, sentia minhas pernas dançando sozinhas, loucas para correr. Como eu ia começar uma conversa com Brunna? Não podia chegar e simplesmente agarrá-la depois de todo esse circo, isso foi e ainda é uma situação delicada para ambas. Eu sabia que ela se sentia magoada, afinal, cheguei ao ponto de duvidar da fidelidade dela depois de tantos anos juntas. Girei o anel de Hera no meu dedo e respirei fundo, passando pela recém aberta porta do aço no 15º andar. À medida que me aproximava da entrada do apartamente de Harry, conseguia ouvir o barulho da televisão, provavelmente no Discovery Kids. Aproximei meu rosto da porta e escutei as risadas de Chronos e Atena.
- Mama, vem ver desenho com a gente!
- Já vou, filho. A mamãe está fazendo pipoca. – escutei um barulho de pratos e potes mexendo e em seguida, como se um corpo tivesse acabado de cair em cima do sofá. –Muito bem, deuses gregos, qual filme vamos ver?
- Hércules! – escutei Chronos e Atena gritarem em coro e coloquei a mão na boca para abafar minha risada, estava nervosa e queria invadir aquele apartamento, mas ao mesmo tempo, queria surpreendê-los.
- Pronto, o filme já vai começar. Atena, senta aqui do outro lado da mamãe.
- Mama, a mamãe não vem?
- Eu.. acho que não, filha. Ela estava ocupada.
- Com a amiga dela?
- É.. assuntos importantes. Bom, agora vamos ver o filme.
Ouvi o filme iniciar e a luz apagou, tornando propícia a minha entrada sem ser descoberta. Harry tinha a péssima mania de colocar o sofá da sala virado de costas para a porta de entrada, dizia que era melhor assim. Enfiei a chave na maçaneta e esperei para que a música de introdução estourasse, evitando de que eles escutassem a porta abrir. Consegui essa proeza e me esgueirei pela parede, retirando os saltos e deixando-os no canto. Olhei as cabeças de Chronos, Brunna e Atena, concentrados no desenho. Abri um meio sorriso e larguei a bolsa em cima da mesa, sentando em uma cadeira.
- Mama, o Hércules virou humano!
- É, filho! Igual a você.
- Eu sou um Deus?!
- Você e sua irmã, eu e sua mãe achamos vocês quando viajamos para a Grécia.
- Viu só, Tetena?! Nós somos deuses!
- Sim, vocês são. – soltei automaticamente e os três viraram a cabeça para trás. Atena e Chronos berraram juntos, pulando do sofá e correndo para me dar um abraço apartado. – Estavam vendo filme sem a mamãe?!
- Mas a mama falou que você não vinha.
- Ela falou, é?! Que feio. – olhei para Brunna e ela estava estática, me analisando sem nem piscar os olhos. – Vamos sentar no sofá com a mama, não podemos perder o desenho do Hércules, né?
- Vem, mama, senta aqui.
Caminhei com os dois até o sofá e me sentei ao lado de Brunna, que mal conseguia respirar. Abri um sorriso para ela, que me encarou sem entender nada. Chronos e Atena voltaram a atenção para a televisão e continue fitando Brunna, que decidiu fazer o mesmo que eu. Nossa troca de olhar era intensa, estávamos conversando sem dizer uma palavra. Aquele mar cor de mel me engoliu e eu me aproximei, selando nossos lábios sem aviso prévio.
- Eu te amo, Gonçalves.
- Eu amo você, Oliveira.
- Mamães estão juntas de novo?! – Chronos e Atena perguntaram ao mesmo tempo, nos pegando de surpresa e estourando a pequena bolha que formamos por alguns segundos. – Em, mamas?!
- Não sei.. estamos, Brunna?!
- Não sei.. estamos, Ludmilla?!
- Não me importaria em voltar com você. Se importaria em voltar comigo?
- Está pedindo para reatarmos?
- Está funcionando?!
- Vem aqui. – Brunna me puxou para mais um beijo, dessa vez mais desesperado. Chronos e Atena batiam palminhas, esquecendo do desenho que passava na televisão. Quebrei o beijo com alguns selinhos e sorri com a testa encostada na dela. – Nunca mais faça isso, entendeu, Oliveira?!
- Vai me punir, professora?!
- Quem sabe. Agora, todo mundo prestando atenção no filme, quero ver o Hércules matando a hidra.
Brunna, Chronos e Atena viraram a atenção para a televisão e eu os observei com um sorriso no rosto. Minha família estava reunida de novo, não tinha do que reclamar. Minha esposa continuava fiel à mim, meus filhos cresciam cada dia mais espertos e tinha o emprego dos sonhos. Depois de passar por tantas tempestades, finalmente consegui respirar aliviada. Tombei a cabeça para o ombro de Brunna e aconcheguei Chronos no meu colo. Aquele era um momento nosso, nada vai passar por cima disso de novo.
O relógio do quarto de Harry marca duas e meia da manhã. O apartamento estava silencioso, Chronos e Atena dormiam em um sono profundo depois de brincarmos até uma da manhã. Olhei para cima e vi inúmeras estrelas, estavam brilhando mais que o normal. Uma brisa gostosa batia na varanda e cheguei a me encolher, abraçando meu próprio corpo. Abri um sorriso involuntário ao lembrar de Brunna socando a cara de Isabela e deixei uma risada alta escapar, mas tampei rapidamente a boca quando ouvi o barulho da porta do quarto.
- O que tem tanta graça?
- O soco que você deu na Isabela hoje. Bela direita.
- Não sou tão velha quanto aparento. – Brunna abriu um sorriso sentou de frente pra mim, respirando fundo e deixando o ar escapar dos seus pulmões com facilidade. – Então.. acho que precisamos conversar.
- Pode começar.
- Não sou eu quem tem que começar alguma coisa, Ludmilla.
- Espera, quero fazer uma coisa. Vou pegar minha bolsa e já volto. Não sai dai.
Corri para dentro do quarto e comecei a vasculhar minha bolsa atrás de um pedaço de papel amassado. Enquanto procurava alguns papéis para dar entrada com o divórcio, encontrei essa relíquia perdida no meio dos meus documentos e resolvi mostrar a ela. Não seria ruim, certo?! Bom, espero que não. Voltei para a varanda e Brunna abriu um meio sorrindo, me acompanhando com os olhos enquanto eu me sentava em frente a ela. Desdobrei o papel e Brunna franziu o cenho com dúvida.
- O que é isso?
- Algo que uma pessoa me deu alguns anos atrás, isso foi mais uma bala certeira do que um conjunto de palavras, mas veio a calhar hoje. Tomei a liberdade de mudar algumas coisas, se não se importar. – Brunna deu de ombros, completamente confusa. – Escute bem, tá bom?!
- Luz, o que..
- "Oi, amor,
Sei que não foi e nunca será de escrever cartas, acho que o verdadeiro sentimento precisa ser dito cara a cara ou por gestos. Por isso que jamais duvidei de nenhum dos seus sentimentos por mim, o problema é que aconteceram muitas coisas que andaram me tirando o sono e, consequentemente, me fizeram desconfiar, não de você, mas da força do nosso casamento. Talvez você seja fraca demais para aguentar toda essa pressão de ser cada com uma mulher, de vinte e sete anos, com o corpo já formado e uma vida bastante vivida. Talvez eu não seja forte o suficiente para suportar um casamento com uma mulher mais do que vivida, de trinta e sete anos, com inúmeros relacionamentos fracassados nas costas e milhares de experiências que eu não vivi.
Nós vivemos esse embate, você se acha velha demais e eu me acho nova demais. Só Deus sabe o quanto eu não preciso de uma máquina do tempo para o meu corpo, porque não precisamos ter a mesma idade para que eu me apaixone todas as vezes que olhar pra você. Comecei a faculdade com você indiretamente do meu lado e terminei da mesma maneira. Montamos uma família e provamos para todos que nosso amor vai durar da minha adolescência até o dia da nossa morte. Eu também queria ter o poder de te colocar em uma bolha e carregar você comigo aonde eu for, pra que nunca saia dos meus cuidados. Queria sempre te ter embaixo das minhas asas, para que você nunca pudesse voar pra longe de mim, para longe dos meus braços.
Eu sei que fui uma verdadeira filha de uma bela puta na época da escola, que te causei inúmeros problemas, que virei seu mundo de cabeça pra baixo, mas, Brunna, você também virou o meu. Eu pensava todo segundo, todo minuto, toda hora em você, no que estava fazendo e pensando. Quando Pepa me chamou para viajar até a casa de praia, eu não imaginava que seria logo a sua, mas não tinha do que reclamar e nem impedir, afinal, você não era nada minha e Pepa estava comigo. O problema é que você não se segurou em casa, precisou ir até lá, ver se ela estava me tratando bem, se eu estava dormindo bem ao lado dela, se ela me passava toda e qualquer sensação fora do normal, se estava me fazendo rir até perder o ar ou oferecer o ombro dela quando eu precisasse chorar.
Não me arrependo nem um pouco de ter recebido você lá, eu te amei naquele dia como se não fosse amar de novo. Te pedi para voltar e aquilo pareceu aquecer meu coração de uma maneira que ninguém nunca havia aquecido. Cada beijo, cada toque, cada troca de respiração, me fazia ir da Terra à Lua em apenas segundos.
A cada briga, cada troca de farpa que tínhamos, eu via que nenhuma mulher poderia me atingir da maneira que você atingia. Só você conseguia acabar com minha teimosia, só você me desarmava com o olhar e, no fundo, eu amava isso.
Você perdeu o emprego e a melhor amiga por minha causa, mas acho que isso te fez mal, né?! Pelo contrário, você só me amou mais ainda. Isso só te deu mais força pra me provar que era você e iria continuar sendo você, mas você sabia que uma hora ou outra, passaríamos por algumas situações desagradáveis que te fariam fraquejar e desistir por ser exatamente como eu falei, fraca demais.
Eu entrei na Columbia, realizando finalmente meu sonho. Para cada universidade que eu mandei uma carta de admissão, você mandou uma para dar aula. Queria ficar perto de mim e ter certeza que eu não te trocaria por um bombadinho do time de futebol ou uma loira líder de torcida. Fiquei mais do que feliz quando recebi a carta da Columbia avisando que eu tinha conseguido a bolsa e quis rezar para todos os santos agradecendo por você também ter conseguido um emprego lá. Foi para a minha casa me entregar o carro de presente e quem acabou recebendo o presente, fui você. Meu coração se encheu de alegria sabendo que você ia para a Columbia também e eu teria a chance de te ter mais ainda. Você comprou o apartamento naquela manhã, porque estava decidida a ir para a Columbia e tinha a certeza que eu também ia. Sei que ficou chateada por eu não aceitar morar contigo, afinal, era o seu maior sonho, mas acabou percebendo que foi realmente melhor.
Quando você viu a Lucy naquela faculdade, ficou sem reação, não sabia o que fazer ou como agir em relação a isso e como contaria para mim sobre ela e Pepa. Eu acabei descobrindo dela, mas não que ela tinha sido sua namorada no passado. Um dos maiores motivos de você ser como era, insegura como era, foi por causa dela. Ser trocada pela sua melhor amiga é no mínimo, a pior das facadas e também uma das piores maneiras de sofrer. Você não fez nada contra Pepa na época, nem queria. Teve a consciência de que se você realmente amava a Lucy, tinha que deixá-la livre para ser feliz com quem ela quisesse, mesmo que não fosse contigo.
Por favor, não se preocupe, jamais pensei que você veio até mim com o intuito de se vingar dela por algo que aconteceu no passado, porque sei que não fez isso. Eu realmente te amo com toda a minha vida e com cada fibra do meu ser. Você é o meu anjo da guarda e é a pessoa com quem quero dividir tudo, mas sei que na época não tinha certeza se significava a mesma coisa para mim.
Por isso, através de uma carta, usando apenas palavras por ter sido fraca demais para falar isso na minha frente sem desabar, você me deixou livre. Queria que eu encontrasse a felicidade da maneira certa, sem me sentir nova demais para isso. Queria que viajasse o mundo e que vivesse todas as experiências que eu pudesse, não importando com quem eu estivesse.
Se no final da minha jornada, se depois de todas as coisas faladas e vividas, eu ainda te quisesse, a burra velha de trinta anos de idade estaria aqui. Como sempre esteve e sempre estaria."
Respirei fundo e limpei uma lágrima que descia pelo canto do meu olho. Demorei muito tempo para tentar reorganizar as palavras dela, queria que ela visse o que aconteceu. Brunna estava com o rosto molhado e o nariz vermelho, fungando vez ou outra. Ela se aproximou de mim e selou nossos lábios, mas a afastei, voltando a encarar o papel.
- O que foi, Luz?
- Deixa eu ler esse final.
- Tudo bem. – Brunna se ajeitou na cadeira e secou a bochecha, abrindo um sorriso cerrado.
- ".. Você me pediu para que se eu ainda te quisesse, no final da minha jornada, fosse te procurar. Bem, aqui estou eu. Não precisei viver nenhuma aventura, muito menos experimentar coisas novas. Você é e sempre será minha primeira e única experiência. Obrigada pelos dois filhos lindos que temos, pelo casamento maravilhoso que construímos e por sempre estar ao meu lado. Você não faz ideia do quanto eu te amo, Brunna, mas espero que um dia chegue a medí-lo. Aliás, isso é impossível, parece que a cada dia que passa, ele cresce mais. Não existo sem você, professora Gonçalves. Minha pior professora de laboratório.
Eu te amo muito.
Sempre sua, Ludmilla."
Brunna ajoelhou na minha frente e arrancou a carta da minha mão. Nos encaramos por vários minutos, até ela finalmente erguer minha mão esquerda e beijar o anel de Hera, me fazendo olhar para cima e deixar que algumas lágrimas de felicidade e alívio descessem pelo meu rosto. Voltei minha atenção para ela, que tinha um sorriso torto no rosto. Sempre que Brunna estava prestes a aprontar alguma coisa, abria aquele sorriso. Cruzei os braços e a encarei, que soltou uma risada divertida.
- O que foi, Luz?
- Por que está rindo desse jeito?
- Casa comigo?
- Mas, Brunna, nós já somos casadas.
- Eu falei casamento, não assinatura de papéis. Parece que compramos uma casa e não é assim que sonhei em fazer. Quero fazer tudo como manda o manual, inclusive a parte de viajar para ter uma lua de mel, já que ficamos aqui. O que me diz?
- Véu e grinalda?!
- Véu, grinalda, buquê, um buffet para alimentar nossos parentes gordos que não vemos à séculos, uma vasilha gigante de ponche. Tudo, exatamente como você sempre quis. Topa?! Claro, tem o acréscimo de dois deuses gregos e um cachorro.
- Só nós?!
- Só eu e você, pelo resto das nossas vidas.
- Marque a data, Gonçalves. Eu aceito.
Brunna abriu um sorriso enorme e me levantou, selando nossos lábios. Não seria tão ruim tê-la pelo resto da minha vida. Afinal, ela já representava grande parte, mais um pouquinho não faria mal a ninguém. Muito menos a mim. Seríamos nós contra o mundo, mais uma vez.

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