Sixty

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Ludmilla Pov

"Senhores passageiros, dentro de cinco minutos pousaremos no Aeroporto de La Guardia. Esperamos que tenham feito boa viagem e agradecemos a preferência."

A voz mecânica da aeromoça informava que já estávamos próximos de Nova York. Meu coração dava saltos dentro do meu peito e minha perna balançava constantemente, minha ansiedade não me deixou dormir por todo o voo. Olhei para o lado e vi Brunna dormindo. Parecia tão exausta, talvez pelo choque emocional de saber que Lucy, seu amor do passado, estava em perigo de vida. Por incrível que pareça, não senti ciúmes daquilo. Lucy sempre foi uma mulher atenciosa comigo e me ajudou a passar por situações de aperto quando o assunto era Brunna, tinha uma enorme dívida com ela e não a via como ameaça.
- Brunna.. – fiz um carinho na bochecha dela e a mesma se mexeu um pouco na poltrona. – Ei, acorda. Já vamos pousar.
- Hum.. já? – ela se ajeitou e abriu um sorriso fraco para mim. Estava com os olhos inchados e com enormes bolsas roxas embaixo deles. – Quanto tempo eu dormi?
- Todo o voo. Sei que quer ir comigo até o hospital, mas.. tem certeza que não prefere ir para casa descansar? Eu te mando notícias.
- Não, Luz. Eu quero vê-la.
- Talvez ela já tenha ido para a sala de cirurgia, a possibilidade de você conseguir falar com ela é muito baixa.
- Não custa nada tentar.
- Tudo bem. – suspirei derrotada e Brunna segurou meu rosto, depositando um beijo calmo em meus lábios. – Só quero que você seja forte, sabe.. se acontecer algo e eu falhar.
- Ei.. você não vai falhar. Não existe uma cardiologista melhor do que você em toda Manhattan. Se acalma, tudo vai dar certo.
- Obrigada.

"Senhores passageiros, coloquem suas poltronas na posição vertical e ajeitem seus cintos. Estamos nos preparando para pousar. Boa noite."

No momento em que a aeronave pousou, Brunna saiu em disparada pelo estreito corredor, me puxando pelo braço. Não tínhamos muito tempo e, se ela quisesse falar com Lucy, teríamos que chegar ao hospital mais rápido do que o trânsito nos permitisse. Brunna pegou nossas malas com tanta pressa, que quase passou por cima do pé de alguns passageiros que esperavam sua bagagem perto da esteira. Não cheguei perto do volante do carro, deixei que ela dirigisse, afinal, eu não era páreo para ela quando o assunto era correr e desviar do trânsito.
Admito que, pela primeira vez, tive medo de Brunna no volante. Chegamos no hospital em um piscar de olhos e, mesmo depois de estacionar, ela permaneceu com os dedos em volta do volante e olhava para frente como se estivesse hipnotizada. Respirei fundo e me aproximei dela, retirando a chave da ignição e puxando o rosto dela para que me olhasse.
- Acalme-se. Por favor. Tudo que a Lucy menos precisa no momento, é mais uma pessoa nervosa perto dela.
- E quem é a outra?
- Você duvida que Pepa não está ai?! Pelo que nós conhecemos, ela já deve estar careca. – Brunna abaixou a cabeça e soltou uma risada fraquinha. Bem ou mal, apesar de tudo que já aconteceu entre nós três, eu sabia que ela sentia falta da sua velha amiga de guerra.
- Vamos logo, quero tentar ver a Lucy antes dela ir para a sala de cirurgia.
O hospital estava estranhamente agitado naquela noite. Estagiários e médicos correndo para todos os lados, pelo visto, um acidente grande aconteceu e mandaram noventa por cento das vítimas para cá. Puxei Brunna pela mão e corri até minha sala. Enquanto ela acendia as luzes e sentava no pequeno sofá, vesti meu jaleco e bipei Sean, um dos meus estagiários. Não demorou muito para o jovem afobado aparecer na porta da minha sala, completamente suado. Coloquei meu óculos de grau, enrolei o estetoscópio no pescoço e dei uma olhada em algumas fichas que estavam em cima da minha mesa.
- O que aconteceu com você?
- Perdão, Doutora Oliveira, mas é que o hospital está uma loucura e eu, como estagiário, tenho que correr para fazer o que meus superiores mandam.
- Bom, vou ser direta. Quero saber o quarto onde a paciente Lucy Vives está. Este é um caso de extrema urgência.
- Trezentos e vinte.
- Ótimo, me siga. Vem, Brunna. – minha noiva levantou do pequeno sofá e vi os olhares de Sean para ela, mas tratei de cortar a graça. – Sean, vou até o quarto da paciente. Chame o diretor geral e mande ele encontrar comigo lá. Agora.
- Sim, Doutora. – o rapaz saiu correndo pelos corredores e eu apertei o passo, ouvindo a risadinha de Brunna atrás de mim.
- O que foi?
- Você está com ciúme de um fedelho.
- Cala a boca, Gonçalves. – puxei ela pelo braço e entramos no elevador, chegando rapidamente no terceiro andar e paramos em frente ao quarto de Lucy. – Está pronta?
- Não.
- Perfeito.
Dei três batidas na porta e abri bem devagar. Lucy estava em coma induzido, mas parecia dormir e diversos aparelhos estavam ligados a ela. Seu coração batia lento, quase parando. O caso era mais sério do que eu imaginava. As luzes principais estavam apagadas e só um abajur fraquinho iluminava um pouco do cômodo. Segurei a mão de Brunna e a coloquei dentro do quarto, não havia ninguém, o que eu estranhei. Por que diabos Pepa não estava com a esposa? Será que ela era egoísta até nesse ponto?! Tirei o estetoscópio do bolso e fui medir manualmente o pulso de Lucy, enquanto isso, Brunna andou até o outro lado da cama e segurou a mão da amiga.
- Ei, Lu.. – olhei por cima do óculos e percebi que Brunna estava se segurando para não chorar. Ela sorria fraco, mas alguns filetes desciam de seus olhos. Preferi não falar nada, continuei verificando Lucy. – Desculpa por não estar por perto nesses dois anos, muitas coisas aconteceram, né?! Veja você.. casou-se com a cafajeste da Pepa, finalmente. Sei também que esse bebê, já é o seu segundo. Por que não tive a chance de conhecer sua ou seu primeiro filho? Você lembra que combinamos que eu seria a madrinha do seu e você do meu? Tenho certeza que do primogênito, eu já perdi a chance. – ela deu uma risada, enquanto algumas lágrimas corriam pelo seu rosto. Brunna limpou as bochechas e sentou na ponta da cama, olhando para mim e tendo a certeza que podia fazer isso. Fiz apenas um sinal de que não tinha problema e ela apertou mais ainda a mão de Lucy. – Eu gostaria que você estivesse acordada, tenho tantas coisas para conversar e explicar. Poxa, Lu, você.. foi meu primeiro amor. Não se preocupe com a Ludmilla, ela está bem aqui e não parece me olhar como quem vai me assassinar assim que eu sair daqui.
- Ai, Brunna, cala a boca. – sorri fraco e ela gargalhou.
- Bom.. você foi o meu primeiro amor, mas antes disso, era minha melhor amiga. Aprendi tanta coisa contigo, vivi muitas coisas também e tenho que confessar que te perder pra Pepa, foi um dos piores golpes que eu já sofri. Eu sei que a gente não escolhe por quem nos apaixonamos, exemplo disso, sou eu. Enlouquecidamente, perdidamente, fodidamente apaixonada por uma menina dez anos mais nova que eu. Tem noção do risco que eu corri me envolvendo com essa pirralha? – olhei para Brunna fuzilando-a, mas ela nem pareceu ligar. Estava se divertindo e eu achava bom que se distraísse um pouco. – Pepa também se encantou pela Ludmilla, mas no fundo, eu sempre soube que ela jamais largaria você. Lucy, não existe uma pessoa nesse mundo que te ame mais que aquela imbecíl, egoísta e egocêntrica da Ferreira. Já tive muita raiva dela, confesso que até alguns meses atrás, ainda tinha, mas.. isso é passado. Sei que Fernanda faria de tudo por e para você.
- Brunna, afaste-se dela. – eu avisei assim que vi que a pressão arterial de Lucy estava aumentando rapidamente e vi algo na barriga dela se mexer. – Ela está entrando em trabalho de parto. Merda. – bipei rapidamente a equipe de obstetras e mandei preparar a sala de cirurgia. Estava na hora. – Brunna, por favor, afaste-se.
- Não, eu não terminei de falar. – uma equipe de paramédicos entrou com uma maca no quarto e minha noiva se recusou a soltar a mão de Lucy. – Só quero dizer uma coisa, por favor. Espera! – os paramédicos tiraram a maca do quarto e começaram a empurrar com pressa pelo corredor, a caminho da sala de cirurgia. Brunna correu, se aproximou da amiga e deixou que mais algumas lágrimas caíssem. Beijou a testa dela e falou alto o suficiente para que eu escutasse. – Eu te amo, Lu. Para sempre. Obrigada por não desistir de mim e por ter me ajudado a seguir em frente. Te espero. Assim que sair desse hospital, nós vamos encher a cara e comemorar. Ludmilla estará lá com você. – a medida que os paramédicos empurravam a maca, Brunna foi soltando a mão de Lucy, caindo ajoelhada no corredor e se arrastando até encostar com as costas na parede.
- Eu dou a minha palavra, ela vai ficar bem. Agora, tente achar a Pepa. – dei um beijo em sua testa e ela me abraçou. Me desvencilhei dos braços de Brunna e corri para o corredor, tentando alcançar a maca.
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Toda a equipe estava a mil por hora. Colocaram o corpo de Lucy na mesa de cirurgia e começaram a ligar os tubos e aplicar a anestesia nela. Enquanto me limpava e preparava para operá-la, um dos estagiários se aproximou de mim e me entregou os relatórios e o que deveria ser feito. Engoli em seco e suspirei. Seria complicado, mas eu teria que dar tudo de mim. Passei pela porta que dava para a sala de cirurgia e a equipe de obstetras, meus estagiários e enfermeiros me olharam.
- Vamos começar.

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