Fifty six

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Xxx Trolei as garotas do grupo. Mas agora tem capítulo mesmo! As coisas começam a mudar aqui. Boa noite!!

Música: Unfold - The XX

Ludmilla Pov

"Chamando a Dra. Ludmilla Oliveira, emergência no sexto andar. Dra. Ludmilla Oliveira, compareça ao sexto andar."

A voz mecânica do hospital me chamava pela segunda vez. Estava deitada em um dos quartos onde os médicos podem descansar e abri lentamente os olhos, senti meu corpo doer assim que me sentei na cama. Tive mais um pesadelo. Tornaram-se constantes desde que Brunna partiu para a Grécia e dava poucas notícias. Motivo? Simples, estava embarcada em um dos navios de expedição e sinal de celular era algo inviável. Conclusão, não sabia quando ela ia voltar e nem como estava.
Dois anos já haviam passado. Dediquei meu tempo e minha vida ao meu trabalho e pesquisas na área da cardiologia, o que me gerou inúmeros prêmios e lucros. Como Harry havia proposto, íamos no apartamento de Brunna uma vez a cada duas semanas para ver se estava tudo em ordem e fazer uma pequena faxina. Sempre evitei em entrar no quarto dela, sabia que se fosse, iria sucumbir de saudade. O mesmo acontecia com o quarto do bebê, deixava para que Harry cuidasse desses dois cômodos.
- Qual a gravidade? Quero os dados do paciente. Onde está o estagiário?! – cheguei na ala da emergência e alguns enfermeiros me preparavam para a operação. Hummels, um dos meus estagiários, chegou afobado e desandou a falar.
- Doutora, o paciente é um senhor de cinquenta anos. Nome, Willian Jones.. – quando Hummels falou o nome, meu cérebro me levou de volta ao meu primeiro ano de faculdade, quando o Dr. Jones faleceu em decorrência de um infarto. Independente desse homem ter alguma ligação com ele, não deixaria que outro Jones morresse por conta de um problema no coração. – A artéria coronária está obstruída, precisamos proceder à cirurgia de revascularização do miocárdio.
- Sei exatamente o que devo fazer, obrigada, Hummels. Pode sair. Avise a família do paciente que ele passará pela cirurgia de Ponte de Safena. Vamos evitar que esse homem sofra um infarto.
Assim que ele deixou a saleta e tudo estava pronto para iniciarmos a operação, dei uma olhada no rosto de Willian Jones. Era terrivelmente parecido com meu falecido professor, seriam parentes?! Agora não tinha tempo para suposições, eu precisava fazer esse homem sobreviver e ter a certeza que dormiria com a consciência limpa por salvar mais uma vida. Seria uma cirurgia demorada, mas esperava obter sucesso.
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Último ponto da sutura feito. Batimentos cardíacos estáveis. Paciente salvo. Doze horas de cirurgia. Eu estava esgotada, mas o sorriso no meu rosto era maior que meu cansaço. Os assistentes davam leves tapinhas nas minhas costas e me parabenizavam. Respirei aliviada e agradeci a todos, avisando que estava na hora de conversar com a família do homem. Retirei as luvas e a máscara, jogando no lixo da saleta e lavei as mãos. Caminhei calmamente pelos corredores em direção à sala de espera. Havia cerca de quatro famílias sentados, que levantaram assim que abri a porta.
- Família do senhor Willian Jones?
- Sim, somos nós. – uma mulher com cerca de quarenta anos se aproximou, acompanhada de dois adolescentes. – Como ele está?
- A cirurgia foi um sucesso. Ele está estabilizado e daqui a uma hora, será levado para a sala de recuperação pós-anestésica. Quando estiver bem acordado, vai para o quarto e, só então, poderão vê-lo.
- Muito obrigada, Doutora. Deus lhe abençoe. – a mulher apertava minha mão com força e sorri. Nada era mais reconfortante, do que ver a felicidade da família de um paciente após uma longa e cansativa cirurgia.
- Bom, se me dão licença, vou mandar que preparem o quarto para o senhor Jones e, quando for liberado, serão avisados.
Me despedi da família e me arrastei até a recepção, passei todas as informações e em menos de quinze minutos, uma equipe foi acionada para preparar o quarto onde o homem ficaria. Aproveitei esse tempo e corri para conseguir um café no restaurante do hospital. Precisava me manter acordada por mais três horas e então, finalmente ir para casa. Faziam dois dias que me recolhi no hospital, preferia ficar por aqui do que dormir sozinha em casa. Às vezes, ia para casa de Harry e Peter, passava a noite com eles, mas os pesadelos não cessavam. Infelizmente, a única pessoa que podia fazer com que parassem, não dava notícias e estava à quilômetros de distância.
- Dia difícil, Doutora? – Kyle, um homem negro e bem alto, me perguntava enquanto me servia café fresco.
- Nem diga, Kyle. Acabei de sair de uma cirurgia de doze horas, estou esgotada e chorando pela minha cama.
- Você está a dois dias nesse hospital, não faz sentido passar tanto tempo aqui.
- Eu sei, mas prefiro passar minhas horas nesses corredores com "cheiro de hospital". – fiz aspas com os dedos e ele riu fraco, negando com a cabeça. Deixei a cabeça descansar no balcão e suspirei.
- Você é uma das médicas mais simpáticas e dedicadas daqui, fico feliz que ame tanto o seu trabalho. Alguns estão aqui apenas pelo dinheiro.
- Posso imaginar. Conheço três ou quatro pessoas daqui que gostam de trabalhar só pelo que ganham, o que irrita bastante. Infelizmente, não posso expulsá-los daqui. – senti meu bipe vibrando e percebi que estava na hora de ver o senhor Willian Jones e explicar os procedimentos do pós-operatório. – Bom, Kyle, obrigada pelo café. Agora, vou ver como está meu paciente e finalmente, ir para casa descansar. Bom dia.
- Bom dia, Doutora. Descanse bem.
Acenei para ele e me arrastei até o elevador que me levaria até os leitos. Encostei a cabeça na fria parede de aço, enquanto sentia aquele cubículo me levar em direção ao andar do meu último paciente da semana. Precisava de um descanso de quatro dias, no mínimo. Talvez uma ida à Miami para visitar minha mãe, não seria má ideia e de quebra, visitaria Marcos e Coyote.
- Muito bem, como estamos? – abri um largo sorriso enquanto entrava no quarto de Willian Jones, que já estava acordado e conversava com a mulher, possivelmente sua esposa.
- Estou me sentindo ótimo, doutora. A senhorita é um anjo.
- Você é um homem forte, senhor Jones. Deixa eu dar uma olhada em você. – verifiquei o pulso, seus reflexos, pressão. Tudo normal. – Vou te explicar o que fizemos, tá bom? – ele assentiu e eu liguei uma tela, onde estava uma imagem computadorizada de seu coração. Ele e a família olhavam atentamente para mim, que retirei uma caneta do bolso para mostrar algumas coisas. – Bom, retiramos parte da veia safena, que fica na perna, e religamos artérias do coração obstruídas por placas de gordura. Com a nova ligação, que chamamos de ponte, foi possível normalizar a circulação de sangue no local para evitar um infarto fatal.
- Meu Deus. E sobre minha rotina após a saída do hospital?
- Embora o principal objetivo da cirurgia seja torná-lo apto a exercer livremente todas as suas atividades, nos primeiros meses após a cirurgia, você sentirá alguns desconfortos e necessitará de cuidados especiais. Após este período inicial, que chamamos convalescência, você deve voltar a sua vida normal. Mas lembre-se, sempre com cuidados redobrados em alguns aspectos.
- Vou cuidar para que ele não extrapole em nada. – a mulher olhava para Jones de uma maneira terna, sorri fraco e percebi que havia um sentimento forte ali, como se os dois fossem ligados além do laço matrimonial.
- Bom, senhora Jones. Posso chamá-la assim?
- Claro, Doutora.
- Perfeito. Continuando, este período inicial, ou convalescência, é o que vai da sua saída do hospital até cerca de dois meses. Nesta fase você poderá ficar muito fraco e sensível física e emocionalmente falando. Aconselho a música e a leitura, podem ajudá-lo a equilibrar os seus descontroles emocionais. – o senhor Jones torceu o nariz, parecia não querer passar por todo esse procedimento, ou estava pensando que tudo não passava de uma grande bobagem. - Evite situações que possam deixá-lo cansado ou irritado. Nesta fase você terá que cuidar-se. Não é permitido neste período o uso de bebida alcoólica e..
- E um cigarro? Será que até isso terei que cortar?!
- É de fundamental importância que você deixe de fumar. Agora! Tente entender que a sua saúde está muito frágil e que não deve abusar.
- Mas, só um cigarrinho..
- A Doutora falou que não, Willian. Quer morrer?! – a mulher parecia mais impaciente que eu, mas respirei fundo para prosseguir com as recomendações.
- Procure fazer algumas das suas atividades em casa. As que conseguir, não se esforce muito. Durante este tempo de convalescença, de seis a oito semanas de pós-cirurgia, realize atividades domésticas leves, desde que se sinta em condições.
- Quando posso voltar a dirigir? Eu posso tomar sol?
- O senhor é bastante apressadinho, não acha? – os adolescentes deram uma risada baixa e eu neguei com a cabeça. Nunca tive um paciente tão teimoso quanto esse homem. – Sobre dirigir, após oito semanas da cirurgia. Evite dirigir por períodos muito longos e interrompa quando se sentir cansado. Tomar sol, bem.. Exposições prolongadas ao sol não são recomendadas para ninguém. Enquanto suas incisões estiverem cicatrizando, sua pele estará sensível e os raios solares poderão queimá-la e propiciar o aparecimento de cicatrizes. Portanto, durante seu restabelecimento, evite exposições diretas ao sol por seis a oito semanas.
- Mas que droga.
- Willian, não fale assim. Lembre-se que perdemos seu irmão por conta de um problema no coração e não queremos que ocorra outra tragédia desse tipo na família. – a mulher afagava os cabelos grisalhos do homem e um estalo bateu em minha cabeça. Será?
- Com licença, mas.. o seu irmão era médico na Columbia?
- Sim, cardiologista.
- Ele.. foi meu mestre. Se tenho conhecimentos sobre a cardiologia, é graças à ele.
- Mas que divina coincidência. – a senhora Jones abriu um largo sorriso e caminhou até mim. – Fico feliz que Charles deixou um legado tão bom. Salvou a vida do irmão dele, sem nem ao menos saber. Nossa família será eternamente grata.
- Obrigada pelo carinho. Quanto a você, senhor Willian Jones, farei questão de acompanhar seu caso de perto. Não quero que nada de ruim aconteça com mais um Jones. – o homem, que antes estava com os braços cruzados na altura do peito, abriu um sorriso fraco e me olhou com carinho. – Deixarei vocês a sós, preciso ir para casa, estou a dois dias nesse hospital. Peguem meu número, qualquer problema, corro para encontrá-los.
- Obrigada mais uma vez, Doutora.
Deixei o quarto e estiquei os braços, sentindo cada osso estalar. A sensação de dever cumprido e a felicidade em salvar o irmão do meu falecido professor. Meu dia estava finalmente caminhando de uma maneira agradável. Agora era só pegar algumas coisas na minha sala e ir embora. Teria uma boa noite de sono, apesar de ser quase certo de que um jantar com o pessoal aconteça. Alcancei meu celular e o mesmo indicava quatro novas mensagens. Duas de Harry, uma de  Patty e outra de um número desconhecido.

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