Capítulo cinco ✨

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Any Gabrielly

Deixa rolar, linda!

Pânico! Medo! Vontade de chorar! Vontade de gritar! Eu grito! Por que ninguém me ouve? Cadê todo mundo? Cadê meus irmãos?
Sentimentos desesperadores me atropelam de uma só vez, me sufocando.
Não, não, eu não quero!! Carter? Luccas? Shiv? Cadê vocês?
Meus pulsos doem! Minha perna dói. Não tenho mais forças, não consigo...

— NÃO! — Grito me sentando na cama na velocidade da luz. Minha cabeça dói demais. Estou suada. Meu coração bate forte, acelerado em minha caixa torácica. Consigo ouvir o barulho dele. Olho assustada para o quarto e vejo tudo escuro, apenas uma pequena fresta de luz entra pela minha janela. Consigo escutar alguns carros lá fora, o que me conforta um pouco. Mas, novamente, preferiria que fosse sapos e grilos. Tento acalmar meu pobre coração.

Respira Any, respira! Foi só um pesadelo.

Minha mente sabe disso, ela sabe que isso não é real, mas meu coração e meu corpo não. Estou travada na cama, não consigo me mexer. Minhas pernas não obedecem meu comando.

Olho para o relógio. 5h30h da manhã ainda, tenho mais duas horas para dormir.

Penso em casa. Mamãe e papai já estão acordados a essa hora.

Falta um mês ainda para eu ir visitá-los.

Inferno!

Dou sinal para o táxi e ele estaciona em minha frente. Fico feliz por ser uma mulher no volante.

Meu estômago ronca um pouco, mas não dou atenção a ele. Sai de casa um pouco atrasada.

Depois de vinte minutos, estou no grande prédio da KID. Pessoas entram e saem de lá apressadas. Aliás, todo mundo em Nova York é apressado. Parece que eles estão sempre atrasados para algo. Muito diferente da minha pequena cidadezinha, onde as coisas são calmas e tranquilas.

Pego o elevador para o último andar. Meu cabelo está molhado, gelando minhas costas. É raro usar ele assim no trabalho, mas hoje não deu. Não passei nenhuma maquiagem, nenhuma roupa colorida. Coloquei minha calça de moletom cinza, minha blusa preta de manga curta e vim. Penteei o cabelo com os dedos sem finaliza-los. Graças a Deus, ele forma cachos sozinho, mas sei que quando ele secar, vai ser um emaranhado de nós que sairá apenas com uma reza. O padre que lute!

Recebi uma mensagem de Rony dizendo que semana que vem, a faculdade iria entrar em uma semana de recesso, sabe-se lá o motivo, e ele me pediu para ficar lá em casa.

São quase oito horas de viagem. Esse garoto deve estar sentindo muito minha falta.

O elevador, enfim, se abre e sinto olhos em mim.

— Any? Bom dia! Está tudo bem?

Faço uma carranca. 

Olho para Cecile e vejo preocupação em seu olhar. Suavizo um pouco a expressão. Aposto que ela está se perguntando onde está a Any animada, ligada no 220 e que distribui sorrisos a rodo.

Bom, querida Cecile. Dopei ela de remédio! Não vai aparecer. Pelo menos hoje não.

— Sim, tudo ótimo! Vou para a minha sala.

Respondo já saindo de lá.

Hoje será um longo dia...

Josh Beauchamp 

Bufo irritado. O encontro com Kate foi legal, mas agora essa mulher não sai do meu pé. A culpa é minha por ter saído com ela mais de uma vez. Eu nunca repito encontro por conta disso. Não me ache um babaca. Todas as mulheres em que já me deitei, sabem disso. As trato super bem, mas só quero uma coisa delas. É pegar ou largar. Entretanto, Kate fode bem e eu precisava disso, então meio que não deu para resistir.

Agora ela está me enchendo o saco.

Digito uma mensagem pra ela e ouço a porta bater com força me fazendo pular da cadeira.

— Desculpa.

Levanto os olhos para a pessoa que se dirige para a mesa de Any Gabrielly e abro minha boca pra falar que ela não pode fazer isso. Mas paro.

Essa voz é de Any e o corpo também.

-— Any? —  Chamo.

Ela olha para mim e meu coração erra uma batida.

Sem maquiagem, sem roupa colorida, cabelos molhados. Nunca reparei que o cabelo dela fosse tão grande assim. Está sempre seco e preso, não tem como saber. Ele é bonito. Muito bonito.

— Está tudo bem?

Ela respira fundo e parece contar até 10 antes de me responder. Coisa que faz com bastante frequência.

— Sim Josh, está tudo perfeitamente bem!

Ela responde e percebo a ironia, o sarcasmo. Mas não seu sarcasmo habitual. Aquele com o qual já estou acostumado e se eu parar para pensar, até gosto. Não, esse tá diferente.

Fico olhando para ela. Ela está com olheiras, parece que dormiu mal. Desde ontem, quando ela saiu mais cedo, estou pensando nisso.

Any bate no teclado com força, me assutando de novo.

Que porra!

— Droga de computador!

Me levanto.

— Você quer ajuda? — Pergunto me aproximando um pouco.

— Em troca de que? — Ela pergunta ácida.

Por Deus!

— De ganhar pontinhos com o papai do céu, talvez? Em troca de nada, só quero ajudar, Any!

Ela fecha os olhos e gira a cadeira para a parede, ficando de costas para mim.

Permaneço onde estou.

— Ok! Tudo bem — Ela engole em seco e continua — Esse teclado parou de funcionar.

Vou até a cadeira dela e me debruço sobre para tentar ver o que é. O cheiro de Any invade minhas narinas e eu fico tonto.

Cheiro doce, suave.

Baixo mais o corpo para ter mais desse cheiro. Preciso que se grude em mim. Qual perfume ela usa? Terei que comprar um igual só pra poder cheirar todos os dias.

— E então? — Ela pergunta.

Josh, que merda você está fazendo?

Me ajeito e começo a mexer no computador com o mouse. Arrisco umas teclas aqui e ali e, logo depois, ele volta a funcionar.

— Estava desconfigurado. Acho que trocaram seu teclado. Ele não tinha umas paradas rosa?

Any olha para o teclado com atenção e suspira.

— Sim. Esse não é meu teclado, não tinha reparado. Obrigada.

Ela diz e sei que é minha deixa para sair de lá.

Assinto e vou me sentar.

— Comecei o slides de finanças, se quiser dar uma olhada depois...duas cabeças pensam melhor que uma.

Dou de ombros.

— Ah sim, ok, por mim tudo bem.

Estamos nos tratando civilizadamente hoje.

Any está estranha. Não parece ela sem a roupa colorida e sem o sorriso no rosto. Não que ela sorria para mim, mas para outras pessoas sim. Seu rosto está fechado, ela quase não fala.

Sinto uma coisa dentro de mim, mas não sei o que é e não quero descobrir.

Contraste | beauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora