Letargia O Despertar

Capítulo 11

Para minha alegria, meu advogado me surpreendeu. Tive o retorno que há muito almejava. Um documento chegou às minhas mãos, era um envelope pardo, muito bem lacrado com o símbolo do escritório de meus advogados. Respirei bem fundo e abri o pacote com cuidado, de maneira que pude tirar todos os papéis sem danificar nenhum sequer, comecei a ler, atenta a cada parágrafo.

Quando não entendia algo, voltava para ter certeza do que acabara de ler, as informações eram de que a esposa de Eduardo havia falecido há nove anos. Nos papéis, os registros acusavam que a morte provavelmente fora por suicídio. Como sabia que o pai dela morava na fazenda em Goiás, o advogado o procurou e ele relatou o fato. Mas, para ter certeza, meu representante buscou nos registros de óbitos da região e me enviou uma cópia de tudo. Eloísa havia morrido já há muito tempo e, como Eduardo nunca mais quis ter notícias nem contato com ninguém da região, não ficou sabendo. Chamei-o para lhe dar a ótima notícia... quer dizer, a ótima triste notícia!

— Estes papéis acabaram de chegar. O Sr. Medeiras encontrou o paradeiro de sua mulher e as notícias são... — hesitei nas palavras, e ponderei. — Não são tão boas. Quer dizer, nem sei como reagir... Espero que compreenda o que fiz. Precisa se preparar para algo que não poderia imaginar.

— Espera um pouco, mas como? Como conseguiu essa informação tão rápido?

— Quando estive em Belo Horizonte, pedi que meus advogados encontrassem essa mulher, me desculpe, mas... Há muito eu quero você! — Ele sorriu timidamente.

— Se não fosse por você, garanto que não sentiria prazer em saber do paradeiro dela. Diga-me que não vou precisar olhar o rosto daquela mulher novamente?! — Eduardo caminhou até a cozinha e fui logo atrás, ele precisava confrontar esse monstro que assombrava seu passado.

Depois de tirar o chapéu, soltou-o com cuidado sobre a mesa, apoiou suas mãos sobre ela e se firmou em seus braços, descansando o corpo numa atitude de rendição. Isso deixava clara a expectativa com que aguardava as notícias e a maneira com que as enfrentaria. Ele verdadeiramente passou a odiá-la, até o nome dela o irritava, mas acredito que jamais imaginava o que acontecera.

— Ela se suicidou, provavelmente pelas más escolhas feitas na vida.

Ao ouvir essas palavras, não hesitou, aproximou-se de mim e segurou os papéis nas mãos, lendo todo o relatório que o Sr. Medeiras havia escrito. Ao terminar, ficou sem reação; como comemorar a morte de alguém? Mesmo tendo odiado aquela mulher, querendo ou não, ela chegou a fazer parte da vida dele. E quantos sonhos e projetos não morreram com ela?!

— Não sei o que sentia por essa mulher, mas... sabendo que ela morreu... Com clareza, posso afirmar que é uma pena, lamento, realmente, porque ela procurou ser feliz e as escolhas que fez só a tornaram uma mulher muito fútil. No fundo, ela queria apenas que eu tivesse lutado pelos meus direitos. Sonhava com momentos de luxo, para ela, apenas o presente era importante. Somente uma pessoa sem a menor opção de vida poderia se suicidar. Ela só pensava em dinheiro e eu a decepcionei. Eloísa acreditou que eu... Saber que ela se suicidou é estranho... Esse é o nível mais baixo a que um ser humano pode chegar, o mais triste e sozinho fim. Nem todos têm a graça de ser presenteado com o dom da vida. Desprezar esse presente é como dar um tapa na cara de Deus e apertar a mão do próprio demônio, é realmente algo imperdoável.

Ao ouvir suas palavras carregadas de tristeza, preferi deixá-lo sozinho. Virei em silêncio e saí, observando toda natureza, também queria ficar sozinha.

Eduardo permaneceu por um bom tempo isolado, enquanto fiquei sentada na varanda. De modo repentino, ele passou por mim, não disse nada, segurou a minha mão e me levou até onde os animais descansavam selados. Ao vê-lo montar, o acompanhei, ele não queria conversar, também não deixou transparecer o que pretendia fazer. Saímos em disparada, consegui o acompanhar nessa corrida, claro que a certa distância. Cavalgar me fazia muito bem, correr em cima daquele belo animal, sentindo o vento suave e o perfume do campo... Estar em meio à mata envolvida pelo céu aberto faz qualquer um digerir notícias desagradáveis; compreendi que era isso o que ele pretendia com aquele passeio. Ver que, apesar das más notícias, existe um mundo imensurável para ser admirado e apreciado por nós.