CAPÍTULO 32

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Naquela noite era impossível dormir, mil coisas vieram à minha mente, vê-lo era inevitável. Belo Horizonte se comparava a um ponto de encontro e isso só piorava minha aflição, tínhamos vários hospedes transitando pela casa. Um em especial atemorizava-me: Humberto. Para meu tormento ele acabara de conhecer Eduardo. Era impossível não se alarmar com esse encontro que me transportava à tragédia vivida apenas por mim.

Assim que cheguei à sala, fiquei estática ao deparar-me com Eduardo de terno, se assemelhando a um homem de negócios. Poderia sim afirmar que ele me aguardava, andando de um lado ao outro tomado de aflições, carregado de angustia. Ao pressentir minha presença, ele se virou e veio cego em minha direção, implorando que pudéssemos nos falar a sós. Com voz firme, fui logo afirmando.

— Desculpe-me, Eduardo, preciso ajudar a preparar o café! Com licença — envergonhada, olhei para o chão e tentei desviar-me. Seu corpo imóvel impedia meus passos tornando inevitável aquele confronto.

— Espere um pouco, preciso falar com você, Kaila, você não pode ficar fugindo de mim a cada instante.

— Aqui não é o lugar e nem o momento para conversarmos, logo todos estarão de pé. — Sem sucesso, tentei afastá-lo com as mãos, mas Eduardo com palavras insistia.

— Não me importo com isso, não tenho nada a esconder de ninguém, Kaila, meu pai me contou que está grávida e essa criança é minha! Olhe nos meus olhos e diga se estou mentindo! — ele sussurrava essas palavras com intensidade, mas tendo cuidado para que ninguém as ouvisse. Podia sentir seu hálito doce, vindo de uma respiração ofegante, e isso me consumia. Eduardo precisava compreender de uma vez por todas o que eu já havia decidido: mantê-lo vivo e bem, esse era meu único objetivo. Diante daqueles olhos verdes, reuni forças para esclarecer a ele.

— Não se preocupe, essa criança terá um pai, mas não é você Eduardo, Rodolfo cuidará dele. E por favor, não gostaria que ninguém soubesse por enquanto dessa gravidez.

— Não tem como esconder uma barriga, Kaila! Querendo ou não aconteceu e agora temos que passar por isso juntos. — Sem que percebêssemos, conforme nós dois íamos discordando das ideias, elevávamos o tom de nossa voz gradativamente.

— Eduardo, estou grávida, e esta gravidez não é um problema seu! — Humberto foi adentrando a sala, e infelizmente notei em seu rosto que minhas últimas palavras, foram audíveis. A pergunta que ele me fez, afirmou isso.

— Você está grávida? Que loucura é essa, Kaila?

Como compassado marcado pelo destino, Bela, acompanhada de sua mãe, vinha logo atrás de Humberto, ao ouvir o comentário dele, repetiu a frase, que pelo jeito, se tornaria a mais comentada daquela manhã.

— Você está grávida? Que lindo, Kaila! Tio Rodolfo sonhava em ser papai... espere um pouco! Não está muito cedo para saber se está grávida? Casou-se há pouco?!

Como desgraça pouca é bobagem, Tomaz, para minha angústia, entrou sorrindo, e diante das últimas palavras de Bela, brincou:

— Quer dizer que vou ser titio! Você é rápida mesmo, em Kaila?

Em volta pelos muitos olhares interrogativos, para socorro de minha alma, Rodolfo apareceu como meu anjo da guarda. Eduardo agitado, deslizava os dedos parecendo buscar sentir a macies do rosto bem barbeado, a outra mão sobre a adaga, afirmava a mim sua inquietação, enquanto todos falavam ao mesmo tempo, aos meus olhos, era como se ele gritasse o quanto se sentia incomodado e aflito com toda situação. Pelo andar da carruagem, aquele dia seria um tanto desgastante...

Abaixei o rosto cobrindo os olhos constrangida, a pergunta de Bela atraiu meu olhar, instantaneamente.

— Tio, acabamos de saber que será papai, isso é verdade? Mal se casaram! — Rodolfo sorriu.

Letargia O DespertarWhere stories live. Discover now