Capítulo 30

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Dois meses se passaram, foram ótimos dias. Tomaz continuava aproveitando sua vida e tirando de Rodolfo tudo o que conseguia. Fazia alguns serviços, mas vivia pela bondade daquele homem, usufruindo ao máximo. Rodolfo às vezes viajava até mesmo para Encosta da Serra; quanto a mim, continuei vivendo um dia após o outro naquela encantadora fazenda.

Papai me escrevia sempre, isso era um consolo. Sabe quando se vive sem preocupação? Apenas se vive. A vida é um presente que ganhamos; então, por que não aproveitar cada segundo? Colhendo frutas, fazendo invenções na cozinha e, às vezes, acompanhando Rodolfo às festas...

Os dias eram ótimos, mas como nem tudo é perfeito, comecei a ter sintomas desconfortáveis, meu estômago continuava embrulhado. Fui ajudar Deusdite com o café, mas enquanto preparava o bolo de laranja, tive de correr para vomitar. Voltei rapidamente, a tempo de servir Rodolfo. Sem que percebesse meu rosto expressava nojo.

— Você não vai tomar café comigo hoje?

— Amanheci muito indisposta, mas sei o que é. Amanhã estarei pronta, é apenas um mal-estar!

— Precisava falar com você, vejo que não há uma hora melhor. Deusdite, você pode trocar o leite?

Isso significava que ele gostaria de ficar a sós comigo. Sentei-me e me obriguei a tomar um pouco de leite com café. Concorrendo com o barulho da louça, Rodolfo confessou.

— Querida, não sei como dizer... Você não quer tocar nesse assunto, mas agora é inadiável essa conversa.

— O que foi Rodolfo? Quantos rodeios! É algo que devo me preocupar?

— Talvez! Preciso falar com você sobre meu filho. Desde que saiu da fazenda em Goiás, não tocou no nome dele, isso me faz crer que ainda tem sentimentos fortes por ele.

Sorri para despistar e brinquei com toda a situação:

— Eduardo é encantador, muito matuto. Foi uma falta muito grande não perguntar como ele tem passado. Interessante é que, falando nele, penso que seria muito bom revê-lo, mas ele deve ter os afazeres na fazenda e recém-casado...

— É bom ouvir isso... Ele virá me visitar, já está marcado. — Engasguei com a notícia.

— O quê?

Era mentira o que eu acabara de dizer. Rodolfo notou que eu tentava ser forte, mas ignorar a presença de Eduardo seria impossível para mim. Essa conversa de Rodolfo me fez ver o mundo girar. Abaixei minha cabeça e ele notou que algo de errado acontecia comigo. Rapidamente tentou me amparar, segurou minha mão, chamando-me de joelhos diante de mim:

— Kaila, o que está acontecendo?

Tive a sensação de apenas piscar, mas Rodolfo parecia assustado. Não entendi o motivo de estar ali, apavorado, batendo delicadamente em meu rosto com o olhar aflito.

— O que foi? Senti uma fraqueza! Estou bem... Só estou meio tonta, não tenho comido direito.

— A notícia que dei te abalou; você desmaiou, Kaila!

Um silêncio se fez presente, mas meu rosto estava desfigurado pela angústia, não havia como omitir de Rodolfo tudo o que eu sentia. Saí para o meu quarto, fugindo de tamanha tortura, mas ele determinado como uma sombra me acompanhou, insistindo. Não conseguia parar de chorar.

— Me deixe sozinha!

— Querida, você não pode esconder esse sentimento de mim, ele é meu filho e você também é como uma filha. Como devo agir?

— E o que pensa que devo fazer, Rodolfo?! Destruir o casamento dele? Ver o filho dele sofrer nas mãos daquela louca da Eloísa? Uma mulher que é capaz de suicídio é capaz de qualquer coisa, tenho medo dela... Talvez deva me declarar e me tornar amante? Rodolfo, ele pertence àquela mulher e não posso fazer nada. No meu mundo, não existe Eduardo, não pode existir... não vai existir, não vou permitir que isso aconteça! Eu preciso proteger ele. — Como doía dizer tais palavras e, ao mesmo tempo, como precisava aprender a vivê-las.

Letargia O DespertarWhere stories live. Discover now