Capítulo 2

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A noite chegou rapidamente e sem pedir licença, as pessoas caminhavam tranquilamente para se recolher. Como todas as noites, ficamos conversando na varanda. Essa em especial estava mais fria e as estrelas faziam festa. Recostei-me na pequena cerca da casa olhando para aqueles belos olhos verdes que me roubavam as palavras. Fiquei surpreendida pela aproximação inesperada de Eduardo. Estávamos apenas nós dois naquele lugar, ele se achegou devagar. O barulho dos animais não permitia que o silêncio dominasse o ambiente; e graças a um olhar, nada mais me atraia a atenção. Já não era possível esconder o que sentia ao lado daquele homem, tampouco queria isso. A cada passo que ele dava, pedia dentro de mim que não parasse; estar perto dele, era agradável e me fazia muito bem. Depois de um suspiro, ele soltou sua voz.

— Amanhã já faz uma semana que está aqui. Você pensa mesmo voltar para São Paulo?

— Já não sei, Eduardo. Encosta da Serra, agora, me parece bem mais atraente. Havia até mesmo me esquecido que preciso voltar.

Ele, sem pedir licença, chegou bem perto de mim, como nunca havia feito antes e colocou de forma sedutora em dúvida minha resposta.

— Precisa?

Sua roupa tocou na minha e isso já foi o bastante para que um frio se instalasse dentro de mim, não conseguia fazer parar de tremer o meu corpo, não queria que ele percebesse o meu nervosismo devido à sua aproximação.

Senti a respiração mudar completamente. Como ele podia ter tanto poder sobre mim?! Aquele homem não dizia uma só palavra e também se negava a desviar o olhar, talvez por isso me via aprisionada. Com seus lábios selados, me encarava; sua boca visivelmente úmida o obrigou a engolir, até que, por fim, descansou a mão no esteio em que me recostava, deixando seu braço a centímetros do meu rosto. Também engoli o inexistente.

— Já lhe disse que é uma pessoa fascinante, Kaila? Você é diferente, vai da candura à empáfia em segundos, não enxerga os desafios; tão forte, ao mesmo tempo em que é tão doce. Posso ver nos seus olhos a singeleza. Por que não fica mais tempo... comigo? Quer dizer, na fazenda? — Por favor, não pare de falar e não pare de se aproximar — pensei, enquanto ele acariciou uma pequena mecha do meu cabelo.

Diante do meu silêncio, Eduardo estendeu a outra mão, fazendo com que os seus braços me cercassem, impedindo, assim, qualquer fuga. Seu rosto bem barbeado foi se aproximando pouco a pouco; meus olhos decidiram ter vontade própria e saltavam, ávidos, sem saber ao certo em que ponto quedar. Inexplicavelmente, um calor nasceu de dentro de mim. Permaneci imóvel com a inebriante presença daquele homem, que sabia se achegar. Via-me hipnotizada com seu olhar tão profundo. Levantei uma de minhas mãos, tomada pelo impulso de um ardente desejo e me permiti, pela primeira vez, sentir a maciez de seus cabelos. Como sonhei poder acariciá-los até que minhas mãos ficassem emaranhadas naqueles suaves fios, tão macios que escorregavam por entre os meus dedos.

Calada, decidi esperar até que pude sentir sua respiração e até mesmo o seu ofegar. O perfume do seu hálito era doce; propositalmente sua boca parou a centímetros da minha, era como se ele esperasse o meu sim. Após uma leve ameaça, depois de tocar seus lábios nos meus e se afastar por um segundo, me olhando, ele retornou sedento e me beijou. Paramos no tempo. Enfim nos rendemos. Pude sentir o sopro de um vento impetuoso que bagunçou todos os meus pensamentos naqueles breves e eternos segundos; era um beijo perfeito, doce e cálido, um beijo que me preenchia completamente. Pude enfim experimentar em vida o desfecho do meu sonho. E que desfecho...

Ao perceber que havia me entregado à sua presença, as mãos dele seguraram a minha cintura com força, lentamente elas começaram a escalar as minhas costas, desejosas em sentir cada centímetro. Como eu queria tê-lo perto de mim! Por isso o envolvi em meus braços. Sem que pudesse controlar meus impulsos, busquei por ele ardentemente e se ele quisesse se soltar, teria dificuldade.

Letargia O DespertarWhere stories live. Discover now