Capítulo 14

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O almoço ficou pronto e Eduardo não chegava, meu coração estranhamente se inquietava, avisando que algo poderia ter acontecido.

Uma nuvem de poeira me chamou atenção, ela cortava a estrada e subia como um sinal. Saí na esperança de que ele tivesse chegado. Ao longe reconheci, era José que corria assustadoramente apressado. De longe, ele gritava sem parar o meu nome, que conforme ia se aproximando se tornava audível e estranhamente assustador.

— Kaila, D. Kaila... — O animal se agitava sob seu corpo e se movia espantado, José com a boca visivelmente seca e os olhos arregalados nem ao menos parou. As palavras dele foram ditas com grande desespero:

— D. Kaila, o Sr. Eduardo foi preso! Ele tentou matar o Dr. Humberto.

Perdi totalmente as forças de minhas pernas, mas precisava ser forte e saber o que poderia ter acontecido. Trêmula, escutei o esclarecimento rápido de José; Humberto com certeza não sofria risco de vida. Chamei por Carlos e fomos até a delegacia saber o que de fato ocorreu.

Lá, um homem que se dizia delegado informou que havia ido visitar Humberto e presenciou uma tentativa de assassinato, ou seja, Eduardo tentara matar Humberto devido a uma discussão a respeito de um valor que não batia e, sem hesitar, sacou de sua arma e atirou.

— Isso não é verdade, quero falar com Eduardo.

— Não pode!

— O senhor não está entendendo, vou falar com meu marido! Não estou pedindo, estou comunicando ao senhor. — Fui entrando, o corpo do delegado me barrou.

— Aqui a senhora não comunica nada. A senhora pode obedecer ou também vai ser presa com o bandido.

Senti tanta raiva quando ele disse isso com empáfia. Por que as pessoas insistiam em chamá-lo de peão, empregado e agora bandido? Não pensei duas vezes, voei na garganta do delegado que recuou assustado, Carlos me segurou ainda no ar.

— A senhora não pode fazer isso — suplicou —, tem de ficar em liberdade para ajudar o patrão.

— Onde está Humberto? Preciso saber o que aconteceu... Carlos, vou à fazenda dos Calados. Quero que você vá até a Marcas D'água e pegue, na quinta gaveta da minha cômoda no meu quarto, um envelope com informações da ex-mulher do Eduardo. Nesse envelope, tem o telefone do Medeiras, peça para ele vir imediatamente para Encosta da Serra ou mandar o melhor advogado existente em Belo Horizonte. Diga a ele que meu marido foi preso.

Tinha certeza de uma coisa, moveria céus e terras para que Eduardo não dormisse na prisão. Fui direto para a casa de Humberto, onde me falaram que ele já se sentia bem e que poderia explicar os fatos. Chegando à fazenda, vi que havia dois homens armados na entrada, parecendo quererem me encarar. Olhei diretamente para eles, demonstrando ser a caçadora daquele espécime; para mim, eram como chacais metidos a leões de chácara. Subi as escadas correndo e, sem me preocupar com a ética, invadi aquela casa. Dr. Getúlio aparentava bastante assustado com o ocorrido.

— Preciso falar com Humberto — disse sem rodeios.

— Ele está bem, não foi nada grave, Bela está com ele no quarto.

Não esperei terminar a frase, subi as escadas correndo, desesperada por uma informação coerente. Quando abri a porta do quarto, Humberto levantou a cabeça para ver quem havia chegado. Ao ouvir minha voz, teve a certeza de minha presença. Debilitado, balbuciou abaixando a cabeça:

— Ah, é você!

— Humberto, por tudo que é mais sagrado, o que aconteceu? Você viu, Bela? — Ela apenas abaixou o rosto em silêncio para que seu marido respondesse.

Letargia O DespertarWhere stories live. Discover now