Capítulo 21

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O tempo passou lentamente... mas passou. Chegou o grande dia, papai e Jorgina me acompanharam até a estação. Sr. Gusmão garantiu a papai que cuidaria de mim.

Não via a hora de chegar a Belo Horizonte. Mal conversamos durante a viagem, mas do pouco que falamos, pude conhecer mais do Sr. Gusmão e descobrir nas entrelinhas o porquê de seu primeiro plano.

— Como morava em Belo Horizonte e tinha uma casa em São Paulo?

— Minha história é muito complicada, mas o que precisa saber é que a casa em São Paulo era de meus pais. Perdi tudo o que tinha em apostas, até a casa deles; arrependo-me muito. Meu amigo Rodolfo tentou me ajudar, mas não pôde. Ele tem um grande coração, mas está certo. Por que ficar bancando o vício de um amigo?

— Ele vai devolvê-la a você, mas depois que parar de apostar. Ele não a transferiu, nem mesmo fará isso, e sei que é para lhe devolver. Rodolfo não cansava de me surpreender, ele adorava... — as palavras morreram na porta dos meus lábios diante do olhar de Gusmão vidrado. Limpei a garganta constrangida e forcei um sorriso. — Então... o dia parece que vai ser bem quente.

Ele maneou a cabeça como se desistisse de entender e prosseguiu com a conversa.

— Parece ser uma boa pessoa, menina, um tanto estranha, tenho que reconhecer... — disse as últimas palavras a si mesmo. Após uma pausa breve, prosseguiu em outro assunto —, mas não me explicou por que quer tanto conhecer Rodolfo? Fala dele como se já o conhecesse, ao mesmo tempo, pede para que a apresente a ele...

— Rodolfo só será o canal de uma benção, vamos dizer assim. Através dele, vou conhecer a pessoa que verdadeiramente preciso conhecer. A esposa de Rodolfo ainda está viva?

— Que eu saiba não. Se não me engano, ela faleceu há muito tempo. Por quê?

— Não me lembro em que período ela morreu...

— Garota, você é muito estranha! — Sorri, ciente de que ele dizia a verdade.

Precisava controlar os meus comentários. Sem desejar, às vezes, falava coisas que poderiam comprometer a minha sanidade e isso, interpretado de forma errada, poderia me levar a ser entregue a um hospício, destino pior que a própria morte. Os piores lugares para uma pessoa estar eram os hospícios, apenas pensar nessa possibilidade me causava desespero.

Fomos direto para um hotel depois que chegamos. Gusmão, temeroso, escondia seu rosto. Infelizmente, apesar da minha insistência, não fomos para a fazenda; devido a seu grande cansaço, pediu para que deixássemos para o dia seguinte esse encontro.

Durante a noite, tentei de todas as maneiras fazer os cálculos, precisava descobrir em que período Eduardo conheceu Eloísa; provavelmente, seria neste mesmo ano. Isso me deixava desesperada, como poderia ir até Goiás? Rodolfo só era uma ponte. Por isso, treinei durante a noite o argumento com que chegaria a ele? Pus-me a falar sozinha para o espelho:

— Sr. Rodolfo, podemos visitar uma de suas fazendas? O que acha de... Goiás?! — Ele vai perguntar como sei dessa fazenda... — Por que não me apresenta ao Sr. Eduardo? — Ele vai ficar mais espantado ainda e pode pensar que eu seja bruxa ou tenha algum demônio no corpo. — Preciso fazer um estudo climático em suas fazendas, possui alguma na região central do País? — Gostei... talvez com essa eu consiga!

No outro dia pela manhã, saímos bem cedo e fomos direto para fazenda de Rodolfo. Tudo era como me lembrava; árvores, plantações, tudo do mesmo jeito. Os negros com um lindo sorriso cuidavam de todos os afazeres, dando vida a toda a fazenda. Ao nos aproximarmos, nenhum sinal de Rodolfo, minhas mãos frias suavam de ansiedade, precisava de alguma maneira reconquistar meu velho amigo. Ao descermos da charrete, o Sr. Gusmão sorriu, notando minha aflição, pensou em voz alta.

Letargia O DespertarWhere stories live. Discover now