Capítulo 7

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Ciente de que ele havia demonstrado seus sentimentos, casar era uma questão de tempo. Sorria sozinha ao pensar naqueles olhos enamorados por mim. Não abriria mão de sua presença, havia me apaixonado pela fazenda e, principalmente, por quem a administrava.

À tarde, ao descer, notei que ele conversava com dois funcionários, obviamente dando instruções. Quando me viu, os dispensou e ficou me aguardando.

Falei, decepcionada.

— Pelo que vejo, Humberto não apareceu... E o pai dele?

— Também não! Sei que precisa viajar, não podemos esperar mais, Kaila. Deveriam ser vocês dois, mas como ele não deu sinal, posso fazer isso e você toma as decisões. Explico tudo e o que decidir será feito. Vamos?

Já havia dois cavalos preparados na entrada da casa, montamos e ele me levou até um curral separado, bem afastado dos demais animais. De longe, enxerguei alguns compartimentos e cerca de trinta animais em observação.

— Destes animais, aqueles dois cavalos devem ser sacrificados, há mais de um mês quebraram a pata traseira. Não sei ao certo sobre esses bois, mas, se olhar nos olhos deles, verá que estão lacrimejando e não parecem nada bem. Humberto não sabe o que pode ser, ele descartou várias doenças apenas pelos sintomas. A dúvida está em sacrificá-los ou não. Não posso esperar mais por uma decisão, fica caro cuidar de tantos animais doentes, não é vantagem para os negócios, Kaila. O problema é que tudo o que decido ser o melhor, ele pede para fazer o contrário, não posso desacatar uma ordem.

— Aquelas vacas, o que têm elas?

— Estavam doentes, mas agora estão bem melhores. Conseguimos identificar o que elas tinham e numa semana estarão de volta ao pasto.

— Mande sacrificar os cavalos. Quanto aos bois, talvez seja o melhor enviá-los para estudos, podemos ajudar na descoberta de novas doenças. Eles já não nos servem mesmo! Estão sendo medicados?

— Diariamente, essa ala é dos animais que são medicados todos os dias. — Enquanto conversávamos, Humberto chegou bastante irritado, até mesmo seu cavalo demonstrava agitação. Seus olhos pareciam lâminas afiadas; no agir, deixava transparecer a dificuldade de suportar Eduardo.

— Dizia a Sra. Kaila que não podemos esperar mais, Dr. Humberto, precisamos sacrificar os cavalos e ela deu uma boa ideia quanto aos bois.

— Pode ir Eduardo, decido com a Kaila e depois passo as instruções para você pessoalmente.

Fiquei calada olhando Eduardo se afastar e pensei comigo mesma que seria impossível continuarmos com Humberto. O que o movia já não era mais ciúmes, era a honra ferida. Apanhar de um peão e continuar tendo de lidar com ele era o fim da sua dignidade.

— Você demorou — falei, desviando o olhar.

— Kaila, não quero sacrificar esses cavalos, sei que é o certo, sei que é preciso fazer, mas não estou tendo coragem de dar essa ordem. Tenho um carinho muito grande por ambos. Estão sofrendo, mas...

Ainda montada, enquanto Humberto falava, me aproximei lentamente dos dois animais; meu cavalo era bem tranquilo e recebia os comandos muito bem. Parei em frente às baias e olhei para Eduardo, que conversava com outros peões. Humberto ficou em silêncio, consciente de seu erro. Levantei a barra do vestido, colocando a minha mão por dentro, e novamente desprendi a minha arma da liga. Com a Colt nas mãos, atirei num dos cavalos, firmando o cano em sua têmpora.

O animal em que eu estava no mesmo instante se movimentou, demonstrando insegurança pelo barulho. Eduardo veio correndo, sei que ele teve medo, afinal o animal em que montava poderia disparar colocando minha vida em risco. Quando se aproximou, olhou fixamente para a arma, visivelmente incrédulo por achar que havia lhe enganado.

Letargia O DespertarWhere stories live. Discover now