Capítulo10

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Enquanto todos brincavam e se divertiam, notei que um ar de preocupação começou a despontar nas feições de Eduardo, sutilmente aquilo passou a incomodar. Conforme o tempo discorria, via que algo o inquietava, por algum motivo ele se calou e ficou mais pensativo, vez ou outra eu o pegava longe de nós.

— O que foi? Já está cansado? Quer ir embora?

— Não é isso, é que... — Seus olhos visivelmente demonstravam preocupação. — Tem algo me inquietando e eu não sei como resolver...

— Diga, por favor!

Depois de suspirar, segurou minha mão e me tirou do meio de todos, me sentei num tronco largo, caído, ele se abaixou diante de mim, com os braços apoiados nas minhas coxas, prendeu as mãos no meu quadril e tentou se explicar, firmado sobre os pés.

— Kaila, você é viúva, só que... ainda sou casado. Não posso me casar com você... Dei-me conta agora. Isso é uma loucura, não sei o que vou fazer! Não pensei que pudesse voltar a gostar de alguém. Na realidade, tinha prometido a mim mesmo que nunca mais me envolveria com mulher nenhuma! Não cheguei a te contar, mas até mesmo o filho que Eloísa disse ser meu, o pai dela me garantiu que era de outro. Quando ele me viu brigando pela morte da criança, teve prazer de jogar isso na minha cara, tive vergonha de dizer. Odiei-me tanto por confiar naquela mulher! Não queria me envolver com mais ninguém. Nem mesmo as cartas que ela escreveu eu quis responder, nunca mais aceitei o mínimo contato. Não tenho a menor ideia de como encontrá-la.

— Não se preocupe, vai dar tudo certo. Há algo dentro de mim dizendo que vamos encontrá-la.

Depois dessa conversa, Eduardo não saía do meu lado. Sempre que me olhava, seus olhos brilhavam de uma maneira carinhosa, parecia exalar amor, tudo o que ele fazia era perfeito. Sempre que eu contava algo, ele me olhava fixamente, como se cada palavra minha tivesse seu valor. Às vezes, até mesmo me constrangia tanta atenção.

Agora que a situação civil dele resolveu o assombrar, não via a hora de falar com Medeiras, com certeza algum rastro ele já deveria ter encontrado.

Terminada a fogueira, fomos todos juntos para a fazenda. Carlos e Eduardo ficaram conversando um pouco. Enquanto eles se distraiam, fui até o meu quarto e peguei o endereço do escritório do meu advogado, precisava saber se ele tinha notícias de Eloísa. Eduardo nem imaginava que um dos motivos da minha viagem a São Paulo também fora para descobrir onde encontrar essa mulher.

Antes de me deitar, desci e vi Eduardo sentado, pensativo, com as marcas de preocupação na testa.

— O que aconteceu? Foi algo que Carlos te disse?

— Sim! Vou ter de me mudar, Kaila, não posso ficar aqui.

— Por que não? O que foi que Carlos lhe disse? — Ele queria falar, mas pareceu conter as palavras.

— Amanhã vou para a casa externa do administrador, ela é confortável, vamos continuar perto um do outro, mas será melhor para nós dois.

Assim ele fez. Na mesma noite, arrumou suas coisas e, no outro dia pela manhã, mudou para a casa externa do administrador.

Ela ficava próxima, mas era desligada da casa principal. Fia foi quem me consolou, rindo da minha tristeza, que era, na verdade, causada por um motivo simples e banal. Continuaríamos nos vendo, inclusive nas refeições. Ela tentou me explicar que isso iria evitar comentários maldosos. Apesar de não me importar, tive de aceitar. Já Anastácia, adorou a ideia, era a oportunidade de que ela precisava.

— Abelhuda, isso sim! — resmunguei comigo. — Avise para aquela menina, Fia, que seu eu a vir rondando Eduardo, como um urubu na carniça, ela vai ter sérios problemas.

Letargia O DespertarWhere stories live. Discover now