Acordar se tornou algo desesperador para mim. Despertei na manhã seguinte com lágrimas nos olhos. Desci para tomar o café e percebi que ninguém havia tocado na comida. Fui à parte externa da casa e lá estava o Dr. Otávio conversando com minha tia. Temendo ser vista, me escondi atrás da porta e calada, procurei escutar tudo o que eles diziam. Tia Receba em nenhum momento deixava de expressar seu desprazer.
— Lamentável dia... Não estava em meus planos receber essa visita, Otávio!
— Você se lembra de mim, Rebeca? Vejo que sim, pelo seu olhar assustador e... Parece que você está bem financeiramente, quando a vi pela última vez parecia meio histérica, se lembra? — com as mãos nos bolsos ele vagarosamente rondava o ambiente.
— O que você quer aqui? Não pedi para me deixar em paz?! Esquecer o meu nome?! Sua família causou muito mal à minha, não quero mais contato com nenhuma pessoa de sua ascendência.
— Não acha estranho me fazer esse pedido, afinal não fui eu quem sequestrei alguém que te pertencia.
— Kaila é minha sobrinha, tenho tanto direito quanto você.
— Sabia que vou começar a atender no vilarejo? Quem diria, encontrar você em Encosta da Serra... De quem foi a ideia?
— Implorei para Filemom não vir, mas ele cansou de se esconder.
— Quer dizer que você pensou que poderia fugir para sempre de mim? Até quando achou que iria conseguir? Você sabia que existem detetives em vários lugares à sua procura. Nunca imaginei que eu teria tanta sorte, Deus é muito bom, não acha?
— Por favor, depois nos falamos, aqui não! Vamos nos encontrar em outro lugar, você escolhe o horário...
— Se você prefere assim, mandarei recado. Primeiro vou me estabelecer na região e depois nos falamos. Até mais, Rebeca... E não pense em fugir de mim novamente. A propósito, fiz muito bem em amar a pessoa certa...
Suas últimas palavras acertaram de modo cruel o meu coração. Elas foram repetidas com a mesma entonação de voz. Assim que minha tia entrou e Dr. Otávio saiu, pude respirar. Corri para o pomar tentando me esconder. Lágrimas de desespero banhavam meu rosto, meus gritos não eram ouvidos e cheguei a rasgar uma parte de meu vestido tentando tirar de dentro de mim a loucura que agora me rodeava. Então, disse a mim mesma em meio aos soluços e lágrimas:
— Pode ser que não seja loucura... E se realmente estiver vivendo tudo novamente? Talvez possa ter sonhado com o meu futuro. Se tudo está acontecendo igual... existe uma chance. Será que ele está em algum lugar, vivo e quatorze anos mais novo, assim como eu? Certo, Otávio é realmente o meu pai, disso não tenho mais dúvidas — me levantei e me pus a andar de um lado ao outro —, provavelmente também deve ser casado e tenho irmãos, será? Se eu estiver correta, quer dizer que de alguma maneira estou revivendo o que já vivi e mesmo se mudar a história, ela tende a voltar para o eixo natural. O que devo fazer? Isso não pode acontecer, é impossível alguém retornar ao passado! O que faço, meu Deus? Ajude-me a não enlouquecer...
Eu tinha que tentar descobrir quais eram os pontos principais que cominaram no meu destino. Corri para meu quarto e lá, olhando para a janela, meus pensamentos voaram até Eduardo, será que ele existe? Até onde isso tudo foi real?
Andando em círculos no quarto, tentava me lembrar do que aconteceria por aqueles dias, mas já fazia tantos anos que o tempo não me ajudava com essas lembranças; mais de quatorze anos haviam se passado. O futuro era imprevisível. O que me restava era tentar ver as coisas com outros olhos, assim procurei fazer.
Desci para ajudar meu tio e quando Humberto chegou à venda, eram provavelmente umas cinco horas.
— Você não devia estar trabalhando, Kaila, quase morreu há dois dias! Ainda parece pálida.
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Letargia O Despertar
RomanceUma das mais belas histórias de amor, onde o romance se divide com o suspense. Kaila, agora mais velha, se vê rodeada por conflitos inesperados. As lembranças do passado ressurgem e as decisões, que um dia foram tomadas por ela mesma, cobram o seu p...