01. Casamento em crise

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— Estou saindo — Kevin anunciou em um grito. Corri para chegar rápido até a porta do nosso quarto, porém nem assim consegui encontrá-lo.

— Amor? — Gritei de volta, mas nenhuma resposta me foi dada. — Já? — Apertei o roupão em meu corpo e criei coragem para caminhar pela casa, correndo o risco de ser vista pelos nossos funcionários. — Kevin! — Insisti. Caminhei até o topo da escada e o encontrei na sala falando ao telefone.

— Sim, eu sei — suspirou. Meu marido estava de costas e não me percebeu ali, felizmente. Eram raras as vezes que eu conseguia ouvir conversas suas. — Prometo fazer uma visita no fim do ano. Sim, mãe, é o meu único tempo livre — passou a mão pelos cabelos, nervoso. — Não quero saber de notícias dele. Pra mim, esse cara não existe — bufou. — Mãe, eu tenho que ir agora. Tchau — desligou a ligação e enfiou o celular no bolso enquanto virava-se para trás. Kevin olhou para cima antes que eu pudesse sair e franziu o cenho ao me ver daquele modo. — O que é isso?

— Eu... Eu vim me despedir.

— Tchau — disse sério. Ele pegou a sua pasta, que estava em cima do sofá, e me olhou de novo. — Volte para o quarto. Não fique perambulando pela casa de roupão. Você é uma mulher casada! — Pressionou os lábios fortemente e caminhou até a porta.

— Kevin — chamei e ele me olhou com impaciência. — Meu beijo — falei de forma acanhada e o maior riu soprado, aproximando-se com lentidão; eu diria até que com preguiça.

— Essa coisa de beijo antes de sair é bobagem — revirou os olhos enquanto subia a escada. Após se aproximar suficientemente, me deu um selinho rápido e uma tapa na bunda. — Entra lá — apontou para o quarto. O loiro piscou o olho enquanto sorria e eu não segurei o breve riso.

Sem dizer mais nada, caminhei com pressa até o quarto e me tranquei lá. As atitudes de Kevin não andavam sendo muito adequadas ultimamente, mas eu entendia que faziam parte de um momento conturbado. Ele estava em uma fase importante nos seus negócios e a impaciência guiava as suas ações em todas as esferas da sua vida. Eu fazia a linha esposa compreensiva e atenciosa, mas era óbvio que estava sofrendo calada. Imaginava que as coisas estivessem bem diferentes com dois anos de casamento.

— Bom dia, pessoal — sorri abertamente para os mais velhos. Fui retribuída com alegria e tive que rir ao ver um deles comemorar a minha chegada. — Como se sente hoje, senhor Hemmings?

— Melhor do que nunca — ele respondeu em completa animação.

Consegui esse trabalho voluntário na casa de repouso há quatro meses e estava amando, pois me sentia útil e importante para alguém. Kevin passava a maior parte dos seus dias trancafiado naquela construtora e eu precisava estar com pessoas para sair do fundo do poço. Não tinha amigos e nem trabalho. Acabei me afastando de todos e saí do emprego após perder um filho em um abordo espontâneo. Foi um ano muito doloroso e eu estava voltando ao normal aos poucos, assim como o meu marido.

Conheci Kevin Park em um jantar de noivado. Dois amigos em comum iriam se juntar em matrimônio e nós estávamos lá para comemorar. Park pediu o meu número naquele mesmo dia e a partir dali não nos deixamos mais. Ele marcou diversos encontros, me encheu de presentes e me fez promessas que, infelizmente, começou a quebrar nos últimos meses. Parecia que toda aquela paixão não acabaria nunca e hoje eu tenho medo de estar errada sobre isso, pois ainda amo o meu marido; mesmo que nos dias atuais ele tenha um humor completamente instável.

— Senhora Park — assustei-me com o chamado logo atrás de mim. Assim que me virei, a mulher sorriu. — É um prazer conhecê-la.

— É? — Nós rimos. — Creio que não fomos apresentadas. Você é...?

Impostor | Park JiminOnde histórias criam vida. Descubra agora