Shawn
Ela pousou os cotovelos no balcão e se inclinou na minha direção. Seus olhos me deixaram hipnotizado. Pareciam poças feitas da mais pura calda de chocolate Hershey's.
Sim, era ela. Depois de todos aqueles anos, eu finalmente conseguia ver seu rosto. Ela era tão atordoantemente bela quanto eu me lembrava.
– Andei te procurando por toda parte – revelei.
Ela riu e isso me provocou arrepios no corpo todo. Eu me lembrava daquela risada; era música para meus ouvidos. Ela estendeu o braço acima do balcão, pousou a mão no meu braço direito e a deslizou suavemente até deixá-la sobre a minha mão.
– Copos cheios geralmente respondem às suas perguntas? – indagou ela, com um sorriso.
– Ei, espere um instante... Você é a garota do bar – disse eu, confuso.
– Ah, sou? – perguntou ela, com um risinho afetado.
Dessa vez ela inclinou o corpo todo por cima do balcão, apertou a bochecha contra a minha e sussurrou em meus ouvidos:
– Pergunta qual é o meu filme favorito – pediu, num murmúrio sensual.
Virei a cabeça e arrastei meu nariz pelo rosto dela. O cheiro de chocolate continuava ali. Mas aquilo não fazia sentido. Alguém começou a bater com força na porta do bar. Ela se afastou de mim e virou o rosto na direção das batidas.
Recuou dois passos enquanto as batidas continuavam.
– Espere! Não vá embora. Pelo menos me diga o seu nome – implorei.
Ela continuou recuando e eu olhei para o rosto dela com muita atenção tentando decorar cada detalhe: olhos castanhos, cabelos pesados em tom castanho mais escuro. Lábios em formato de coração e uma covinha em cada bochecha.
Também era essa a aparência da garota do bar. Só que aquela ali tinha os mesmos olhos e a mesma voz da MINHA garota. Que diabos estava acontecendo?
– Por favor, me fala o seu nome! – gritei mais uma vez.
Acordei e sentei na cama, assustado com o som de batidas fortes na porta do meu apartamento e o coração disparado como se eu tivesse corrido uma maratona.
Passei as mãos pelos cabelos e me joguei de costas na cama novamente, tentando me lembrar sobre o que tinha acabado de sonhar. Eu estava bem ali, nos limites da minha consciência, mas não conseguia captar as imagens por inteiro. Havia algo importante que eu precisava me lembrar sobre aquele sonho. Fechei os olhos e tentei trazer tudo de volta à mente. O silêncio durou dois segundos, antes de as batidas contra a porta da frente recomeçarem e me interromperem os pensamentos.
– PARA COM A PORRA DESSE BARULHO! – gritei, ao perceber que os socos na porta continuavam e irritado por não conseguir me lembrar do sonho.
Ó Deus, eu nunca mais beberia de novo.
Eu encarava os sonhos mais esquisitos toda vez que bebia. Por que diabos não conseguia me lembrar daquele? Peguei o travesseiro que estava ao lado do meu e o apertei entre os ouvidos, tentando abafar o som da porta sendo derrubada.
– Abra essa porra, seu comedor de cabritas! – gritou a voz abafada de Drew, que seguia socando minha porta da frente. Percebi que se não me levantasse ele iria continuar com o esporro e eu seria obrigado a matá-lo.
A bateção na porta continuou quando eu tornei a me sentar, tirei as cobertas de cima de mim com raiva e cambaleei pela casa alugada com os olhos fechados. Ainda havia caixas e mais caixas espalhadas pelo caminho com um monte de merdas da mudança. Eu ainda não tinha desembalado quase nada, e chutei os obstáculos para tirá-los do caminho enquanto tentava alcançar a porta.