P.O.R.N.O.

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Camila

A semana seguinte até que passou bem depressa, pelo menos quando eu não pensava em Shawn. Só que, para ser franca, eu pensava nele dezoito horas por dia.

Portanto, revendo a declaração, acho que o tempo não passou tão depressa assim. Na verdade ele passou tão devagar que eu senti vontade de enfiar um garfo enferrujado no olho, só para animar um pouco. Queria falar com Shawn e ver se ele estava bem, mas todas as vezes em que pegava o telefone e olhava o nome dele nos meus contatos, desistia e jogava o celular na bolsa. 

Apesar da forma deplorável como ele tinha descoberto tudo, pelo menos agora já sabia. Se desejasse conhecer a história completa, tivesse perguntas a me fazer, acalentasse preocupações ou quisesse arrancar fora a minha cabeça com uma dentada, a bola estava no campo dele. Shawn sabia onde eu trabalhava e sabia como me encontrar, caso quisesse conversar comigo. Talvez eu estivesse sendo teimosa, mas, ah, que se dane! Eu era uma garota e tinha todo o direito de bater o pezinho e prender a respiração até ficar roxa.

Descolei duas festas para Liz ao longo da semana e recebi três encomendas de bandejas de cookies das participantes, então as coisas estavam melhorando nesse aspecto. Além das festas eu andava muito ocupada. Durante o dia, preparava comidas e cuidava dos acabamentos para a loja. Às noites eu atendia no bar e tentava não olhar para a porta cada vez que um homem entrava, na esperança de ser o meu.

Na quinta-feira eu já tinha testado todos os produtos da mala mágica de Liz e decidi que não precisava mais dos homens. Eles poderiam ir todos para o inferno. Eu ia me casar com o Jack Rabbit. Fugiríamos juntos e seríamos muito felizes fabricando Coelhinhos juntos. Mas o vibrador teria que ganhar pernas e braços, senão o plano não daria certo. Depois de alguns anos casados, eu não conseguiria mais andar, é claro.

Passei a quinta-feira toda na cozinha da loja, preparando batatas chips cobertas de chocolate branco e cookies com recheio de amendoim e caramelo para a reunião de sábado à noite. Aquele seria o último encontro na casa das pessoas, pois a loja iria inaugurar na semana seguinte. Agora que eu sabia o porquê de esses brinquedinhos fazerem tanto sucesso, estava um pouco triste por assistir ao fim das reuniões. Mesmo assim, Liz disse que eu podia ficar com a mala mágica para sempre.

Exigi que Liz assinasse um documento declarando que, em caso de emergência ou morte de Camila Cabello, ela seria obrigada a remover a tal "mala mágica" do local onde a vítima (no caso, eu) morava, no máximo quinze minutos depois da supracitada emergência e/ou morte. Era sempre bom ter um plano desses pronto. Deus me livre! Já pensaram se seu pai ou sua avó chega à cena do incidente antes de todo mundo e encontra seu estoque de mágicas secretas? Não podemos deixar que um desastre desses aconteça. 

Também é uma boa ideia fazer com que seus amigos apaguem do computador todo o histórico de páginas visitadas na internet. Ninguém precisa especular o motivo de você ter procurado "patinho amarelo vibrador" no Google, ou de estar acompanhando com curiosidade, no eBay, o leilão de uma vela votiva preta com o formato de um pênis.

Não me julguem. O Google é meu comparsa depois de algumas taças de vinho.

Também assinei um documento onde eu me comprometia a entrar na casa de Liz e Jim para apagar o histórico do navegador deles quinze minutos após seu acidente ou morte, além de jogar fora todos os filmes pornô que encontrasse na estante do quarto, debaixo da cama e na prateleira superior do closet. Tinha ainda que apagar os pornôs gravados no aparelho de tevê a cabo. Por fim, devia recolher o material escondido na terceira gaveta a partir da esquerda no armário da garagem e levar os filmes guardados no fundo do armário da cozinha, atrás das tábuas de cortar carne.

MALICEOnde histórias criam vida. Descubra agora