Vem de ré que eu já engatei a primeira

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Camila

Puta que pariu! Onde está a porra do filho da puta do macaco que tinha me chutado a cabeça e cagado na minha boca?

– Acho que estou morrendo – grasnei.

A risada de Shawn fez a cama balançar e um pouco de vômito surgiu na minha garganta. Tapei a boca com a mão e respirei fundo pelo nariz, para fazer a vontade passar.

– Por favor, chega desse papo de "morte". Ainda nem amanheceu direito e não estou acordado o suficiente para dizer coisas bonitas – replicou, massageando minhas costas em círculos lentos.

Pensei em perguntar sobre que diabos ele estava falando quando o latejar em minha cabeça começou a me trazer flashes das coisas que tinham rolado na véspera.

– Ó meu Deus! Enviei uma foto dos meus peitos para Jim – lamentei, sentindo uma nova onda de náusea.

– Você também vomitou no estacionamento da Emergência, ligou para Drew e contou a ele que é a Rainha do Coice no Boquete. Depois, redigiu um testamento num guardanapo do Burger King e pediu à atendente para ela ir reconhecer firma.

Nunca mais vou beber. Nunca mais vou beber. Nunca mais...

– Por que eu não sou uma daquelas pessoas com amnésia alcoólica ou que simplesmente apagam quando ficam de porre? Seria ótimo não precisar me lembrar desses micos no dia seguinte – murmurei.

Senti o colchão afundar mais uma vez ao meu lado. Alguns segundos depois, o braço de Shawn veio por trás e colocou diante de mim um guardanapo com coisas escritas.

– Desculpe, amor, mesmo que você tivesse esquecido, eu ainda teria a prova do seu mico – disse, com uma risada. Peguei o guardanapo da mão dele e apertei os olhos para conseguir ler os garranchos, enquanto ele se enfiava debaixo das cobertas, ao meu lado.

Perguntei a mim mesma se alguém tinha me dado um calmante na véspera. Foi a primeira vez na vida em que eu torci para ter sido sedada, nem que fosse para culpar o medicamento por tudo que aconteceu, em vez da bebida.

– Tudo bem, eu queria um testamento de verdade, escrito por um advogado, e também uma nova certidão de nascimento para Gavin onde aparecesse o seu nome como pai. É claro que devia ter feito isso antes de beber mais que o meu peso em vinho – expliquei.

– Para sua sorte, sou fluente no bebedês, ainda mais o seu. Mesmo tendo sacado que você mal sabia o que falava ontem à noite, deu para perceber que julga isso importante. Também é importante para mim, por falar nisso. Deus nos livre de nos acontecer alguma coisa. Caso isso ocorra, porém, eu me sentiria melhor sabendo que Gavin ficará bem. Já temos o seu pai. Meus pais, apesar de você ainda não ter conhecido eles, certamente topariam na hora dar uma força para criar Gavin. Mesmo assim, acho que deveríamos escolher alguém mais jovem como plano B, só por garantia. Sei que você vai estar tremendamente ocupada no próximo mês porque a loja vai abrir amanhã, e não temos tempo para sentar e discutir isso com calma, mas talvez fosse uma boa visitar nossos amigos nos próximos dias e ver como eles interagem com Gavin. Sabe como é, uma espécie de pesquisa secreta.

Senti uma vontade súbita de colocar tudo para fora mais uma vez, mas segurei firme, pois Shawn merecia minha atenção total e sem vômito.

– Não acredito que você levou a sério alguma coisa do que eu disse ontem.

Shawn chegou mais perto, deitado, pressionou o corpo no meu e me envolveu a barriga com os braços.

– Levo a sério tudo que você diz e faz, mesmo depois de fotos proibidas enviadas para nossos amigos e seus berros na janela do drive-thru, ameaçando quem cuspisse no seu hambúrguer ao prepará-lo – afirmou, beijando minha fronte.

MALICEOnde histórias criam vida. Descubra agora