Pés formigando e sorrisos amarelos

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Camila

Para nossa surpresa, o mico federal transmitido ao vivo pela TV local e retransmitido, quiçá, no mundo todo, não impediu ninguém de dar uma passadinha na grande inauguração da Malícias & Delícias. Mas se mais alguém fizer alguma piadinha com alusões a "vem de ré", pretendo socar a criatura na altura do fígado.

Shawn, Gavin, Liz, Jim e eu fomos para a loja bem antes de abrir, a fim de acertar detalhes de última hora e arrumar tudo. Felizmente não tínhamos anunciado pênis e peitos de chocolate para venda durante a festa de inauguração porque, na véspera, Drew não resistira e devorara todos os doces que não estavam grudados na minha bunda. Pensando bem, ele talvez tenha comido esses também. Eu me lembro dele comentar alguma coisa sobre a "Regra dos três segundos para bundas", uma variação da famosa lenda urbana segundo a qual uma comida pode ser degustada sem perigo para a saúde depois de ter caído no chão, desde que isso ocorra em menos de três segundos. Parei de prestar atenção ao papo quando Drew comentou que minha bunda era tão limpa que ele apostava que Shawn conseguia ver o próprio rosto refletido na superfície.

Para nosso choque e surpresa, já havia uma fila de pessoas na calçada à espera que a loja abrisse.

Aquela era realmente a minha vida? Como foi que eu tinha chegado àquele ponto? Alguns meses antes eu era uma mãe solteira sem vida social nem perspectivas de vida amorosa para os anos seguintes, e ganhava o pão servindo num bar, um emprego sem futuro algum. Agora eu estava abrindo meu próprio negócio, fazendo o que eu mais amava no mundo e tinha encontrado o amor da minha vida, que também era o melhor pai do planeta.

Ah, sem contar que minha periquita se exercitava com regularidade, quase todos os dias. Não posso me esquecer desse detalhe, afinal de contas, ele era importantíssimo. Acho que se minha vagina tivesse que esperar mais tempo para entrar em ação, iria desistir e acabaria fugindo de casa, escapando da minha calcinha durante a noite em busca de outro espaço entre duas pernas para se instalar. Eu me transformaria numa mulher falsificada. Quando abrisse as pernas eu seria uma Barbie com o capô reto, de plástico, sem a racha. Pelo menos Ken não sentiria falta de transar com ela. O pobrezinho usava apenas uma cueca branca apertada e sem protuberância. Talvez fosse por isso que eu, nos tempos de menina, sempre fazia os dois transarem de roupa mesmo. Afinal, não havia nada que eles pudessem fazer, mesmo que estivessem pelados e no maior atraso.

A Malícias & Delícias tinha aberto oficialmente fazia menos de duas horas e continuava lotada. Liz e eu mantivemos a porta entre as duas seções escancarada, para as pessoas poderem passar livremente de uma divisão para a outra. Confesso que estava um pouco receosa sobre a reação da boa gente de Butler ao ver um sex shop no centro da cidade, mas fiquei agradavelmente surpresa ao perceber o número de pessoas reprimidas que moravam ali. Liz iria ressuscitar as vidas sexuais de todo mundo na cidade usando um vibrador novo a cada mês.

Ela manteve a vitrine do seu lado quase vazia, exibindo o mínimo de produtos. Basicamente lingeries, óleos lubrificantes, cremes para massagem, velas e outras coisas de censura livre. Isso evitaria sustos nos desavisados que passassem pela rua. Mas deixou sobre o balcão catálogos com fotos de todos os itens estocados nos fundos da loja. Bastava o cliente apontar para o produto que queria; Liz pegava no depósito o objeto solicitado e o entregava dentro de um discreto saco plástico preto, para ninguém ver o que era.

Meu pai visitou a Malícias com o pouco entusiasmo que eu já imaginava. Ao passar pela porta divisória, parou de repente, petrificado, ao se ver diante de uma arara cheia de cintas-ligas e espartilhos coloridos. Deu uma boooa olhada em tudo, proclamou que aquilo era uma tolice, mas parecia divertido, e voltou para a Delícias.

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