A paciente precisa de uma lavagem intestinal com urgência!

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Shawn

A boca de Camila se encontrava no meu pênis.

Estávamos sentados no sofá depois do almoço e eu não conseguia desviar os olhos da boca de Camila, que estava com o queixo pousado sobre a cabeça de Gavin.

Aquilo era errado. Mil vezes errado!

Porra!... Lábios vermelhos e carnudos envolveram meu pênis e eu tinha dado um chute na dona daqueles lábios. Tudo bem que eu estava inconsciente, mas mesmo assim... Dei um chute como se ela fosse uma bola de futebol e a joguei a um metro do meu pau. Essa é a regra número um do sexo: nunca chute uma garota quando ela está com a boca no seu pau. Se os dentes dela estiverem em ação e ela estiver mordendo com força... Fodeu! Fodeu nunca mais!!!

Soltei mais um longo suspiro e voltei a atenção para o filme que passava na TV.

– Como é mesmo o nome desse desenho? – perguntei.

Gavin estava enroscado ao meu lado com os pés no colo de Camila.

– Procurando Nemo – murmurou ele.

Assistimos ao filme em silêncio por alguns minutos e eu tornei a me sentir uma criança, curtindo o que acontecia na tela. Já fazia um tempão que eu não assistia a um bom desenho animado.

– Cacete! Eles acabaram de assassinar a esposa daquele pobre peixinho? – reagi, chocado.

– Isso mesmo – confirmou Gavin. – O peixão mau comeu ela.

Disse isso com toda a calma do mundo, como se o assassinato de um lindo peixinho de desenho animado fosse a coisa mais normal do mundo. Que diabos estava errado com aquele filme? Aquilo não podia ser adequado para crianças.  Acho que não era apropriado nem para mim.

– Você tem certeza de que esse é um filme para crianças? – perguntei a Camila.

Ela riu e balançou a cabeça para os lados quando me olhou.

Uma hora mais tarde, Gavin dormia com a cabeça no meu colo e Camila estava recostada além, com o cotovelo no braço do sofá e a cabeça apoiada na mão.

Se eu ouvisse Nemo chamando "papai" mais uma vez, juro que ia me acabar de chorar, como um bebezinho. Peguei o controle remoto e desliguei o DVD.

Camila ergueu a cabeça da mão e me lançou um olhar de curiosidade.

– Precisamos colocar outro filme, porque esse é muito deprimente. Mataram a esposa do coitado do peixe nos primeiros cinco minutos, e agora temos que passar o resto da história vendo o pobrezinho procurar pelo filho sequestrado. Que tipo de gente doente da cabeça resolveu transformar uma história triste dessas num filme para crianças? – perguntei, aos sussurros, para não acordar Gavin.

– Seja bem-vindo à Escola Disney /Pixar sobre as dificuldades da vida – respondeu ela, com um tom seco.

Eu ri ao ouvir isso.

– Ah, qual é?!... Não é possível que todos os desenhos sejam assim. Eu não me lembro de ter ficado tão aterrorizado por um filme, nem no tempo em que era pequeno.

– Justamente porque você ainda era criança. Não compreendia direito o que acontecia na tela, do mesmo jeito que Gavin não entende. De qualquer modo, sempre achei que eles fazem esses filmes para os adultos – explicou.

Balancei a cabeça, incrédulo.

– Desculpe, mas eu me lembro de todos os grandes clássicos da Disney e garanto que não existe, em nenhum deles, nada que provoque pesadelos.

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