Shawn
A reunião de orientação na fábrica demorou horas. Quando acabou, Jim, Drew e eu resolvemos parar para tomar uma birita antes de irmos para a casa do Jim.
Estávamos sentados junto da janela, na mesa alta de um sports bar, num bairro próximo. Gostei mais ainda de Jim. Ele tinha pé no chão e era muito gente fina. Deu um monte de dicas sobre lugares aonde ir e coisas para fazer na região.
A conversa rolou com facilidade e parecia que nos conhecíamos há vários anos.
– Acho que preciso ouvir um pouco mais sobre essa tal Miss Trufa de Chocolate – pediu Jim, depois de virar o primeiro chopp. Fechei os olhos, desejando que ele esquecesse o comentário que Drew tinha feito na fábrica.
– Puxa, pensei que você nunca fosse perguntar – disse Drew, com um sorriso, inclinando-se na cadeira e entrelaçando as duas mãos na nuca.
– Ah, não... Nem pense em contar essa história, seu babaca – reagi.
– Shawn, eu sou a única pessoa CAPAZ de contar esse lance. Tenho a perspectiva de quem estava de fora da situação, sem falar da lembrança quase perfeita dos eventos que se sucederam naquela noite. Além do mais, sou eu que tenho que aturar seus choramingos constantes há cinco anos e sua eterna necessidade de parar em lojas femininas para cheirar loções e perfumes. Quem sabe Jim não coloca um pouco de bom-senso nesse teu cérebro de chocólatra.
Senti meu rosto ficar vermelho como um tomate, e não foi por causa do calor do ambiente. Não conseguia acreditar que Drew estivesse colocando para fora todas aquelas merdas. Teria que reavaliar seu posto de melhor amigo no fim da noite. Seu cartão do Clube dos Amigos do Peito do Shawn iria ser cancelado.
Bem... só de pensar nessa frase ridícula já me fazia sentir o "rei dos manés".
– Foi assim que o lance rolou... – começou Drew, ignorando por completo os olhares de revolta do tipo "vou te matar" que eu lançava em sua direção. – Cinco anos atrás, entramos de penetra numa festa da fraternidade de alunos da sua universidade.
– Espere um instante... Quer dizer que nenhum de vocês dois fez faculdade lá? – interrompeu Jim, parecendo muito empolgado.
Tente conter essa empolgação quando chegar a parte em que sou humilhado, babaca.
– Não! – respondeu Drew, quase latindo a palavra. – Eu soube da festa pelo amigo de um amigo, você sabe como são essas coisas. O fato é que assim que chegamos na balada o meu pequeno amigo Shawn viu uma garota do outro lado da sala. Juro que quase deu para ouvir a canção "Dream Weaver", uma daquelas bem mela cueca, e eu vi estrelas cintilando em torno da sua cabeça. Ele ficou vidrado nela por mais de meia hora antes de eu aconselhá-lo a deixar de ser viadinho e ir dar uma ideia na gata. Ela estava ao lado de uma amiga gostosa e eu fiquei interessado.
Girei os olhos de impaciência ao ouvir sua versão da história. Pelo que eu me lembro, Drew tinha me pedido para acompanhá-lo numa visita a uma feiticeira vodu cujo endereço ele encontrou no catálogo telefônico, depois de desconfiar que uma garota que conheceu naquela festa tinha feito uma macumba para o seu pau. Por mais de duas semanas ele dormiu com o saco envolto em farinha amarela com folhas de arruda, mas se recusou a sacrificar uma galinha preta.
– De repente ele começou a conversar com a gata – continuou Drew. – Entraram numa de citar frases famosas de filmes que curtiam, ou uma babaquice desse tipo que me encheu a paciência e me fez lançar meu charme para a amiga ao lado, a fim de passar o tempo. Gostamos um do outro logo de cara e deixamos os dois manés entregues à própria breguice. A garota ao lado era gostosíssima, dona de uma bunda de respeito. Entramos no quarto vazio mais próximo e trepamos como coelhos a noite toda.