"Periquita de Camila"

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Camila

Ó meu Jesus Cristinho. Que, merda. Será que uma pessoa pode morrer de humilhação? Merdaporracacete!

– Acho que vou ter um infarto. Ou talvez um derrame. Qual dos dois deixa o braço dormente, mesmo?

Eu tinha perdido as funções cerebrais. Acabou. Eu estava morrendo. Diga ao pessoal lá de casa que eu amo muito todo mundo.

– Um derrame – decidiu Liz, com a voz sem emoção, enquanto me seguia até a cozinha.

– Merda. Estou sofrendo um derrame. Sente minha pulsação. Ela não está esquisita? – perguntei a Liz, esticando o braço na direção dela.

Liz deu um tapa forte na minha mão.

– Pelo amor de Deus, Camila, controle-se.

– Shawn. O nome dele é Shawn. E ele não faz a mínima ideia de quem eu sou – lamentei, quase choramingando.

Porra, detesto mulheres que choramingam à toa. E o pior era que eu estava me transformando numa mulher insegura e chiliquenta. Preciso dar um chute forte na minha própria bunda. 

Liz se agachou diante do forno e deu uma conferida na lasanha. Depois, recuou um passo e cruzou os braços diante do peito, encostando o quadril na bancada do forno.

– Você acha que a coisa está ruim para o seu lado, bonitinha? Aquele idiota retardado do Drew acha que dormiu comigo. Dá para ver em seus olhos. Ele está tentando se lembrar de como eu sou nua. Até parece que eu iria deixar que minhas partes íntimas frequentassem o mesmo espaço de um sujeito que usa uma camiseta onde se lê "Já fiz o número 2 hoje". Ele nem se lembra de ter dado em cima de mim naquela noite, nem do quanto chegou perto de ter uma pica e dois colhões desenhados na cara de pincel atômico. Será que ele também se lembra da praga que eu roguei contra a trombinha dele? Aposto que realmente acreditou que eu era uma feiticeira, naquela festa. Que idiota!

– Sério mesmo, Liz? Você está realmente comparando um cara que nem se lembra direito se comeu ou não você, apesar dos seus inesquecíveis peitos muxiba, com o doador de esperma que trepou comigo uma única noite e estava sentado a poucos metros de mim, sem fazer a menor ideia de quem eu sou? Tá falando sério? É isso mesmo que está rolando aqui? Quero ter certeza de que entendi o lance direito, e olha que eu nem fumei um prensado malhado antes de vir para cá! – berrei.

– Dá um tempo, Tetuda Revoltada, baixa a bola – reagiu Liz, girando os olhos. 

Coloquei as mãos nos quadris e lancei meu melhor olhar do tipo "vou te dar uma porrada!".

– Escuta, tudo bem que essa não é a forma ideal de reencontrar o pai do seu filhinho, sou obrigada a reconhecer. Mas aconteceu! Ele está aqui e não há nada que possamos fazer a respeito, agora. Depois de todos esses anos de busca e encucação, você finalmente descobriu quem ele é, e pode contar sobre Gavin. Para de dar chiliques e de tentar tirar a calcinha pela cabeça. Enfrente a situação!

Olhamos uma para a outra em silêncio completo, por alguns instantes.

– Sei que você está tentando me dar uma força, mas não funcionou direito – avisei.

– Sim, percebi isso assim que acabei de falar. Da próxima vez vou pular a parte de você tirar a calcinha pela cabeça.

Comecei a andar de um lado para o outro na cozinha.

– Qual era a probabilidade de isso acontecer, Liz? Primeiro ele apareceu no bar como se caísse do céu, e agora surgiu bem aqui. Na sua casa! E está falando comigo como se eu fosse uma garota que ele acabou de encontrar e gostaria de conhecer melhor pra poder...

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