Camila
Ai, merda.
Meu pai ia matar Shawn antes mesmo de eu ter a chance de lhe contar que ele tinha um filho. Se bem que eu tinha quase certeza de que essa pedra já havia sido cantada. Ou ele era mentalmente perturbado (parecia) ou estava em estado de choque (com certeza). Mas havia uma terceira hipótese: talvez eu não tivesse percebido aquele detalhe antes: acho que ele gostava de falar aos berros sobre sacos cabeludos e levar surras.
Gavin também gostava de falar sobre o seu saco o tempo todo. Será que isso era hereditário?
– Você é o...? – sussurrou Shawn, olhando direto para Gavin como se tentasse calcular de cabeça a raiz quadrada de PI.
– Gavin Cabello. E você quem é, bobalhão?
– GAVIN! – ralhamos todos ao mesmo tempo, com exceção de Shawn. Ele continuava com cara de quem ia vomitar a qualquer momento.
Merda, não foi assim que eu planejei que as coisas acontecessem. Sabia que depois de todas as nossas conversas e do quanto eu passara a conhecer Shawn que eu teria que contar tudo... em breve. Aliás, tinha planejado contar naquele dia, com jeitinho. Depois de ter lhe fornecido álcool em quantidade suficiente para embriagar um cavalo, é claro.
– Esse é um dos amigos da mamãe, filhote – disse a Gavin.
"Amigo" me pareceu melhor, no momento, do que "o pai que você nem sabia que tinha" ou "o cara que embuchou a mamãe". Será que daria para esperar até Gavin atingir a adolescência para traumatizá-lo com essa informação?
Gavin pareceu ficar entediado com a falta de agitação na sala, já que todos continuavam paralisados na mesma posição, esperando o cérebro de Shawn explodir a qualquer momento. Gavin tinha a mesma capacidade de concentração de uma criança de dois anos que sofresse de DDA por abuso de crack.
Começou a se debater no meu colo, pedindo para ser colocado no chão. Prendi a respiração quando ele foi direto e parou diante de Shawn com as mãozinhas nos quadris.
– Você é amigo da mamãe? – questionou ele.
Shawn simplesmente concordou com a cabeça, mas manteve a boca aberta de espanto, sem emitir nenhum som. Tenho quase certeza de que ele nem mesmo ouviu o que Gavin tinha dito. Se alguém lhe perguntasse se ele gostava de assistir a filmes pornô gays enquanto pintava quadros de gatinhos felpudos, teria feito que sim com a cabeça.
Antes que alguém tivesse a chance de evitar, Gavin ergueu um dos seus punhos pequenos e deu um soco certeiro na virilidade de Shawn. Ele se dobrou para frente na mesma hora, apertando as mãos em concha entre as pernas e lutando em busca de ar.
– Ó meu Deus! Gavin! – gritei, correndo para ele, me agachando novamente e forçando-o a olhar para mim, enquanto meu pai e Liz riam como duas hienas de porre, bem atrás de mim.
– Qual é a sua, garoto? Não se bate assim nas pessoas. NUNCA! – ralhei, com severidade.
Enquanto Shawn tentava recuperar a respiração, meu pai conseguiu parar de rir por cinco segundos para pedir desculpas.
– Desculpe, filha. Provavelmente isso foi culpa minha. Deixei Gavin assistir Clube da luta comigo, ontem à noite.
Sou a suprema humilhação de Camila.
– Seus amigos te deixaram enjoada uma noite dessas, e você disse que esse aí era um dos seus amigos – explicou Gavin, como se isso fizesse todo o sentido do mundo.
Só serviu para meu pai rir mais alto ainda.
– Você não está ajudando em nada, papai – grunhi, com os dentes cerrados.