O som de um tapa estalado ecoou no ambiente, a criança caiu no chão pelo impacto e lágrimas vieram aos seus olhos verdes. Doeu. E o pequeno somente tinha pedido para não ir mais para a casa daqueles homens estranhos. Harry sempre voltava machucado, com dores estranhas e nunca conseguia sentar direito depois de ir "visitar" aqueles homens. O pequeno sabia que o tio recebia dinheiro por isso, mas achou que se pedisse direito ele pararia de mandar Harry fazer aquelas coisas. Se sentiu burro por pensar nisso, o tio gritou com ele, disse que a "aberração" tinha que pagar por morar ali e ser aturado por tanto tempo.
A criança chorava, tinha somente 11 anos... merecia passar por tanta dor assim? Merecia tudo aquilo somente por ser diferente? Se passou dois anos desde o dia que começou a ter novos "serviços", eram todos homens velhos que o levavam pra casa ou algum lugar estranho, o machucavam daquele jeito esquisito e pagavam ao seu tio por isso. Harry se sentia sujo toda vez que era tocado por aqueles monstros, se sentia cada vez menos como humano. Ao menos ele não "trabalhava" todo dia, ou toda semana. Havia meses que também não fazia, mas eram raros e ele agradecia quando isso acontecia, porque mesmo que apanhasse mais e sem motivo, preferia as surras a ser "fodido", ouviu um homem chamar aquilo desse modo e aprendeu a palavra.
Era agosto, início do mês e na noite anterior a criança tinha tido outro "cliente" e o homem o "fodeu" dentro de um carro, batendo em sua bunda e suas costas, deixando-o roxo e dolorido. Esse foi seu presente de aniversário de 11 anos. Por isso estava demorando mais para fazer suas tarefas do dia e seu tio brigou consigo. O pequeno explicou por que demorava e aproveitou para pedir para que o tio parasse de o mandar para aqueles serviços, o que resultou no tapa forte que deixou o rosto do menino inchado e dolorido.
Harry voltou as suas tarefas com dores a mais e com a vassoura farpada varria a poeira da casa, já tinha feito o café da manhã da família e Duda reclamava de algo que ganhou de aniversário a dois meses e quebrou. A campainha chamou atenção e o menino foi mandado recolher as cartas. Fez como ordenado e foi passando uma a uma para separá-las e entregar de maneira organizada.
Uma carta em específico chamou sua atenção, era um papel amarelado e as letras bem desenhadas eram em tinta verde, mas o que capturou seu olhar foi a quem estava endereçada:
H. Potter
Armário abaixo das escadas
Rua dos alfeneiros Nº 4
Surrey
Ele iria ler a carta endereçada a si, mas o primo gordo o empurrou no chão e saiu gritando para os pais:
— Harry recebeu uma carta! — o porco gordo parecia não se tocar que Harry era magro e já estava machucado por isso pisou na mão do primo enquanto corria para a cozinha.
— O que? — o tio gritou alto e pegou a carta com ódio — Não! Você não vai ler isso sua aberração.
Ele jogou a carta no fogo e tudo que o menor pôde fazer foi ficar triste, era a primeira carta que recebia e foi arrancada de suas mãos de maneira bruta.
Ganhou mais um tapa no mesmo lado que o primeiro e com a mão machucada somou as feridas do dia.
*******
O engraçado daquela carta era que: a pessoa que queria falar com Harry era insistente. Todos os dias recebia uma daquelas cartas, mas o tio ou a tia sempre o pegava tentando ler, assim como o primo que arrancava de suas mãos e queimava elas na lareira.
Isso até o 15º dia do mês, as cartas pararam aquele dia e tio Valter respirou aliviado, por algum motivo que Harry não conhecia.
No 23º dia do mês Harry estava cozinhando o almoço da família e se sentia tonto, fazia menos de um dia que um dos "clientes" o deu uma pílula pra tomar a força (não foi a primeira vez que aconteceu) e ele se sentia mal desde então, enjoado e tonto. Havia vomitado o pouco que comeu no dia anterior e a vista embaçava, também jurou ver coisas estranhas e monstros passeando pela casa. Mas se parasse ia apanhar do tio. Ouviu batidas na porta e o homem logo gritou para que ele atendesse. O menino desceu do banquinho que usava para cozinhar, desligou o fogo, continuaria a fritar a carne depois. Andou em passos curtos e lentos até a porta, seu corpo pesava. A visita bateu na porta novamente e Harry se apressou, quase tropeçando nos próprios pés, ouviu uma piadinha do primo e não se importou muito. Chegou à porta e a abriu, estranhou o homem que estava ali. Era alto e com rosto sério, tinha um nariz um pouco grande e os olhos castanhos escuros pareciam sérios demais, estava na casa dos 30? Talvez. Era branco claro e se vestia todo de preto, seus cabelos batiam abaixo do ombros e brilhavam oleosos. Teve medo... e se fosse mais um dos seus "clientes"? O homem não era feio propriamente, mas Harry aprendeu muito cedo que tanto homens "bonitos" quanto "feios" podiam o machucar muito daquele jeito esquisito.
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Seja um bom garoto Harry
FanfictionHarry não teve uma infância fácil, não teve uma família que lhe deu amor, mas ele vai aprender que família nem sempre é de sangue e que as vezes você pode sim desejar que os seus carrascos sofram, basta fazer direito.