2 - JOSH

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Sabina me abraça forte e eu retribuo.

Nossa amizade começou meio estranha, a gente disputou para ver quem seria o mais inteligente da sala de aula.

É claro que eu ganhei.

Não existe no mundo um cérebro mais inteligente do que o meu.

E nem mais humilde.

- Falou com a diretora sobre o projeto de pesquisa? - Ela pergunta enquanto caminha para o pátio. Sigo seus passos lentamente.

- Sim, ela adorou a ideia. Até o meio do ano isso sai.

- Meio do ano, Joshua? Achei que ia ser pra ontem.

- Hey, calma aí! Esse pode ser meu passe para Oxford, não posso botar tudo a perder.

Oxford.

Carrego esse nome desde que me entendo por gente.

Minha vida foi e é baseada em entrar nessa universidade.

E eu vou conseguir.

Sabina me entende, ela tenta uma bolsa também, só que para Yale.

Depois que descobrimos que queríamos faculdade diferentes, simplesmente começamos a nos amar e apoiar.

Engraçada a vida, né?!

- Seu passe para Oxford uma ova. Você já está dentro e sabe disso!

Queria ter a confiança que ela tem em mim. Não estou garantido, ninguém está. Confesso que minhas chances são maiores do que muitos ali, mas mesmo assim, um deslize e adeus sonho da minha vida.

- Ela tá de mau humor hoje de novo? - Pergunto. Nem preciso dizer quem é pois Sabina sabe muito bem.

- Me diz quando ela não está? - Ela bufa cansada.

Sinto pena da minha amiga.

Perdeu os pais há cinco anos. Os pais não. A mãe. Ela morreu em um acidente de carro e o pai abandonou dois meses depois. Sumiu no mundo. Deixando Sabina e Any sozinhas com a dor recente da perda. Mas eu sinto raiva de Any, deixou tudo nas costas de Sabina. Minha amiga teve que virar uma mãe para ela e perdeu, e ainda perde, sua juventude. Só olhar para ela que todo mundo vê os olhos cansados. As olheiras.

- Hey, vamos naquele bar hoje, não é?

Pergunto para ela me lembrando de súbito.

- Eu ainda acho que é uma péssima ideia. Estamos em terça-feira, Josh.

- E é as terças que Pepe está lá.

Digo levantando as sobrancelhas sugestivamente.

Ela solta uma risada e assente.

- Sim, é - Respira fundo e continua - Ok, vamos sim. Já avisei a Any que vou sair.

- Ok. A gente se encontra mais tarde então? Hoje não temos aulas juntos e tenho pendências a resolver na direção.

- Sim, senhor! - Ela me abraça de novo e vai em direção a sala.

Nem tinha percebido que já estavamos no corredor.

Vou até meu armário, tiro meu livro de lá e o fecho.

Sinto um formigamento na nuca e ao me virar, deparo com o olhar de Any sobre mim.

Ela estava a poucos metros.

Encaro a menina de cabelo cacheado de volta e levanto a sobrancelha.

Que que é?

Any balança a cabeça para um lado e para.o outro e vai em direção ao jardim.

Provavelmente vai matar aula de novo.

E eu não poderia me importar menos.

Trust | Beauany - (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora