26 - JOSH

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A melhor parte desse parque está acontecendo agora. Enquanto ando pelo portal, Any está grudada em mim. Literalmente grudada. Seus braços envolvem o meu como se ela dependesse disso para viver.

E, olhando para o contexto da situação, é tecnicamente isso mesmo.

O portal é um corredor largo e grande, que faz curvas em alguns lugares e há portas que saem coisas de lá.

Muito da hora!

O objetivo é chegar no final sem deixar umas dessas coisas nos pegar. Simples. Não sei porquê do medo.

— A gente tá andando muito devagar! Aposto que aqueles garotos já até saíram — Sussurro para Any que agora enterrou seu rosto em meu braço. Ela precisa me ajudar.

— Não consigo andar mais rápido que isso, Josh!

— Mas não tem nada aqui. Fala sério Any, cadê garota valentona que eu conheço?

— Vou te mostrar ela quando chegarmos lá fora.

Ela responde ácida e eu acho graça.

— Ok, vamos andando!

Continuamos nossa caminhada.

Está silencioso aqui e isso é o que assusta mais.

Viro pra falar com Any mas uma porta é aberta e de lá sai um Jason com uma serra elétrica ligada.

É assustador. É muito legal!

Any solta um palavrão e corre junto comigo. Quero rir mas não posso.

Cadê a garota que falou que não conseguiria correr? 

Depois de alguns minutos e de estarmos mais seguro diminuímos o passo, nos apoiamos nos joelhos, buscando o ar.

Dois sedentários dá nisso!

— Eu...te...odeio! — Ela diz sem fôlego.

Vou responder mas escuto alguma coisa vindo.

Com um impulso, empurro ela para um canto com meu corpo, pedindo pra ela fazer silêncio.

A "coisa" passa por nós sem nos notar.

Any respira com dificuldade e eu também. Mas tenho certeza que nossos motivos são totalmente diferentes.

(...)

Estaciono em frente ao prédio dela e desligo o carro. Depois que saímos do portal, ainda fizemos um monte de coisa mas ainda não esqueci a proximidade que nossos corpos se encontraram naqueles míseros segundos.

Minha mente está confusa.

Anos sendo indiferente com ela.

O que deu em mim?

— O que há com você?

Any pergunta e eu considero a ideia de ela ler pensamentos. Só faltava isso.

— Que? Por que?

— Você ficou diferente do nada.

— Diferente como?

— Diferente do tipo calado.

Reviro os olhos. Falei pelos cotovelos hoje. Como estou calado?

— É impressão sua, Any.

— Hm..não é não. Mas ok, não vou discutir.

Agradeço mentalmente por isso.

Any ajeita o boné e ameaça abrir a porta do carro. Ela para e olha pra mim novamente.

— Obrigada por hoje. Foi..hm..legal.

Sei que ela está sem jeito pra essa despedida porque vejamos:

Fomos ao parque juntos.

Rimos como dois amigos.

Comemos fazendo palhaçadas.

Ela grudou em mim naquele portal e nesse mesmo lugar meu quadril meio que esmagou ela na parede.

Quando lembro dessa última parte, uma corrente elétrica passa pelo meu corpo.

Mas que diacho?!

É estranho como tudo isso aconteceu rápido. Any é uma pessoa extremamente difícil, conheço ela há anos, sou melhor amigo da irmã dela e sei o que estou falando mas hoje...hoje ela simples parecia uma outra pessoa.

Preciso analisar isso. Preciso analisar essa mudança de comportamento, essa oscilação de humor, a agressividade que as vezes ela exala e descobrir a causa de tudo isso.

— Obrigada também. Hoje foi legal mesmo.

Ela me olha por alguns segundos e parece que vai falar alguma coisa mas desiste.

Any sai do carro fechando a porta atrás de si e segue para entrada do prédio, sem olhar nenhum vez sequer para trás.

Ligo o carro e dou partida, ignorando o desapontamento que sinto dentro de mim.

Trust | Beauany - (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora