81 - ANY

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Josh continua calado. Mentalmente, eu contei dez minutos de silêncio, mas deve ter passado disso. Eu não vou falar nada. Não tenho forças para isso. Nesse exato momento eu estou um caco. 

Minhas inseguranças gritam muito alto em minha mente, a memória de papai no cemitério dizendo aquelas coisas me invadem de cinco em cinco segundos. Não contei essa parte para ele, contei apenas que o vi. Eu sei que é idiotice guardar isso para mim, eu sei mesmo. Mas ainda não consigo verbalizar que meu pai, meu próprio pai, não consegue me ver por, internamente, me culpar pela morte de mamãe.

Pensar nisso me causa uma dor enorme no coração e eu preciso de muita força para não chorar bem aqui e agora. Já chorei o suficiente nesse fim de semana. Eu simplesmente não aguento mais.

Olho para Josh e o pego me observando. Ele estuda algo em meu rosto e desvio o olhar.

— Por que você não me ligou? Eu poderia ter...

— O que Josh? – Interrompo-o – Você poderia ter feito o que? Me consolar por telefone? Me desculpa se eu nem pensei nessa merda de aparelho enquanto vagava pelas ruas desesperada.

O rosto dele se contorce em uma careta. Eu estou com um pouco de raiva e nem sei o porquê.

Minto! Eu sei sim, mas não quero ficar. Não é justo!

Fecho os olhos com força. Eu daria tudo para não ter ido ao cemitério na sexta. Daria tudo para voltar no tempo e não ter visto meu pai. Eu já estava fodida psicologicamente o bastante. Não precisava mais de uma dose.

Sinto as mãos quentes de Josh na minha e ele me puxa. Abro os olhos enquanto me acomodo em seu colo. Meu coração bate rápido com essa nova posição. Estamos frente a frente. Ele me abraça e me encara. Seus olhos azuis me examinam cuidadosamente.

— Sinto muito por você ter passado por isso. Sinto muito por não estar aqui. – Ele me abraça e coloca as bochechas em meu colo. Descanso meu queixo no topo de sua cabeça e aprecio o carinho que ele faz em minhas costas — Espero que Noah tenha consolado você pelo menos um pouco.

Sei o quão difícil foi para ele falar essa frase. Contei o porquê de eu estar com Noah. Foi pura coincidência nos encontrarmos, mas eu agradeço por isso. Eu estava na merda e precisava de um ombro para chorar. O dele foi muito bem-vindo.

Lembro até que eu devia uma ligação para ele. Acho que assustei o menino com meus soluços incontroláveis.

— Ele consolou.

Sinto os braços de Josh ficarem um pouco rígidos em volta de minha cintura e ele me aperta mais contra si.

Meu lugar é aqui. Não posso acreditar que demorei anos para achar um lugar para mim, mas os braços de Josh parecem certos.

Abro minha boca para dizer o quanto ele me faz bem, mas sou calada com o toque de seu celular. Ele mantem um braço em minha cintura e o outro voa para a cômoda, pegando o aparelho.

— Lamar?

Josh diz e eu ameaço sair de seu colo, dando a ele mais privacidade, mas ele me mantem presa ali.

— Sim, ela me ligou hoje um pouco mais cedo. – Ele escuta a pessoa falando no outro lado da linha, sua mão livre sobe e desce por minhas costas.

Sinto um arrepio. Seus carinhos, antes reconfortante, estão fazendo outra coisa com meu corpo agora. Estar em cima dele assim, não ajuda.

— Espera, sério? Ela também? Cara, então a gente precisa se encontrar. Já estou com saudades de vocês.

Ele ri e meu coração afunda. Lamar é o garoto da foto que ele me mostrou, não é? E "ela" que eles falam, deve ser a menina do meio.

Trust | Beauany - (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora