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Bella

"Tem muita coisa que não se encaixa."- Camila dá uma golada no Capuccino e me observa com atenção.

"Tipo o quê?"- Desde que eu saí do hospital, alguns dias atrás, estou morando na casa dela, já que eu ainda não posso entrar na minha. A perícia tomou conta da casa inteira e eles estão investigando. Não há corpo nenhum, mas encontraram sangue. Sangue da minha mãe.

"Por que o Yatra estava com a carta da minha mãe?"- Ela mexe a bebida com a colherzinha desnecessariamente, pensativa.

"Com certeza ele teve algo a ver com a morte dela. Talvez ele mesmo tenha matado ela."- Ela diz isso com tanta calma que quase me assusta.

"Ele não parece o tipo de cara de suja as mãos."- Ela coloca a colherzinha na boca.

"Não é porque ele usa um terno fino e fala bem que não tem coragem de fazer o trabalho sujo."- As palavras da Camila refletem na minha cabeça.

"Cami, no hospital me disseram que ele me salvou. Como ele me salvou se ele, tecnicamente, matou a minha mãe?"- Ela se encosta na poltrona bege da lanchonete. Ao nosso redor, pessoas passeavam no shopping, com suas vidas normais e entediantes, totalmente desfocadas com a tensão que estamos sentido.

"Você me disse que foi o Shawn. Não acredita mais no que você viu?"- Eu suspiro, também me encostando.

"Passei quase 1 semana no hospital, Camila. Tudo o que eu disse sobre o que aconteceu foi tratado como uma possível alucinação porque eu bati a cabeça, como se isso significasse que eu não possa mais confiar na minha memória."

Os olhos dela brilham e ela curva o tronco, se aproximando de mim.
"As câmeras da boate vão te ajudar."- Ela soa animada, como se tivesse descoberto a cura para alguma doença grave.

"Mas não pode dizer a verdade."
Ela suspira. Eu soo tão pessimista perto dela.

"Bella, se foi mesmo o Yatra que te salvou, ele não teria tempo de matar a sua mãe. Pensa comigo. O incidente na boate aconteceu às 1:40. O hospital diz que você deu entrada acompanhada às 2:15. A perícia diz que a morte da sua mãe aconteceu às 1:50. É possível sim saber se esse Yatra é o assassino da sua mãe."

Minha garganta fica seca.
Camila tem razão.
O assassino da minha mãe pode estar mais próximo de mim do que eu imagino.

×××

"Roger, eu preciso das imagens das câmeras no dia da invasão."- Roger, o segurança, cerra os olhos para nós duas.

Imagino o que ele deve estar pensando.
Duas adolescentes elétricas demais e se achando Sherlock Holmes.
Ele assente, finalmente. Deve estar muito cansado para se importar.

Camila praticamente corre até a sala, me puxando pela mão.
Eu resmungo e ela apenas sorri. Essa cubana é meio doida as vezes, mas eu a amo.

Ela procura na estante de fitas a que tem a data do incidente e coloca no toca fitas. A televisão é grande, de 60 polegadas. Provavelmente para que possa ter a visão de todas as câmeras claramente.

Ela usa o controle para avançar até a 40 minutos antes de tudo começar. Na câmera 6, dá pra ver a gente entrando.
Alguns minutos depois eu vou para o bar, que se encontra na câmera 10 e a Camila vai para a boate.
A imagem está acelerada. Parece uma noite comum e movimentada.

A cena chega.
A janela explode.
Eles entram.
Gritaria. Correria. Medo.
Tudo parece mentira, vendo sobre os olhos da câmera. Parece coisa de série policial, onde os crimes mais violentos acontecem.

Então eu presto atenção no momento depois de eu perder a consciência, na câmera 12. É ele mesmo. O Shawn está próximo de mim, agachado. Verifica meu pulso. Seu rosto está atento, posso ver mesmo distante.

Ele grita algo, atirando em algum cara que se aproximava. Shawn me pega no colo e, sem antes olhar para trás, me tira dali.

Estou em choque. Minha mente tem dificuldade de funcionar. Martela, martela, martela. Na hora da morte da minha mãe, ele não estava me salvando. Ele não estava lá. O Yatra.

"Cami? Onde o Roger estava nesse momento?"- Ela está concentrada.

"Aqui, imagino. Pelo menos é onde ele deveria estar."

Eu balanço a cabeça, negando.
"Não. Ele não estava aqui. Esses caras ficaram quase 30 minutos aqui. Pessoas morreram. Coisas foram explodidas. Muitos feridos... E ele nem chamou a polícia."

Camila finalmente me olha.
Isso parece chamar sua atenção.
"Bella, temos que sair daqui. Agora."

Seu rosto está pálido e sério. Nunca a vi tão tensa, então me calo. Algo está errado mas por agora, não é interessante fazer perguntas.

Ela enfia a fita na blusa, escondendo.
Roger olha as câmeras. Os olhos azuis frios dele nos observam quando chegamos até ele.

"Acharam o que estavam buscando?"
Seu tom parece perigoso.
Esses olhos. Eu conheço esses olhos.
Ah, meu Deus. Ele é um dos caras que invadiu a boate. Um dos atiradores. Provavelmente conseguiu se esconder antes de ser abatido, como o resto.

Temos que ser cautelosas ou ele irá nos matar. Cami fica muda e eu percebo que é a minha hora de falar.
"Eu perdi um cordão nesse dia, que eu ganhei da minha avó. É uma relíquia de família. Eu só queria ter certeza de que eu perdi ele aqui."

Ele estreita os olhos.
"Poderia ter me perguntado."

Eu me encorajo. Ele está tentando me intimidar. Está lidando com a pessoa errada.
"Queria ver com os meus próprios olhos. Ele não está nas imagens. Devo ter deixado cair no carro. Mas obrigada mesmo assim, Roger. Tenha um bom dia."

Eu arrasto Camila pelo braço. Está assustada e gelada.
"Srta Ferretti?"

Eu congelo e me viro, lentamente.
Posso sentir o gatilho sendo puxado. O coice da arma. A bala atravessando meu abdômen. Uma morte lenta para mim.

"Sua bolsa."
Ele me entrega, com um sorriso falso e sombrio nos lábios.
"Obrigada."

Praticamente corro dali, ainda com o coração acelerado.
Yatra não me salvou, então por quê disseram que sim no hospital?
Quem está mentindo nessa confusão?
Quem é cúmplice de um assassino?

Liar ~ Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora