Liar ~ Shawn Mendes

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Bella

Fiquei o dia inteiro no meu quarto, tentando me livrar da sensação terrível de impotência. Como conseguir o que eu quero num lugar onde eu sou odiada.

Não comi muita coisa, e também não recebi a visita do Shawn, o que me magoa. Não que eu não mereça ser ignorada, fui cruel com ele desnecessariamente.

Está de noite já, então eu tomo um banho, para me acalmar. Coloco uma camisola, mas a sensação de tranquilidade da água era passageiro: minhas preocupações já estão de volta.

Lembro da foto e prendo no espelho. Já perdi meu pai, preciso manter minha mãe segura. Preciso garantir isso no Conselho, mas hoje não. Estou cansada de andar em círculos.

Mesmo eu tentando, mostrando que eu tenho capacidade, participando das reuniões, eles ainda me olham como uma criança.
Eles nunca vão me deixar assumir. Os fatos são como um tapa na cara, mas a dor é mais interna. Como pude ser tão idiota?

Ando de um lado para o outro, roendo as unhas, um hábito que eu tinha largado há muito tempo.
Preciso sair desse quarto, preciso de ar.
Já é de noite, então eu visto meu roupão, para não ficar de só de camisola, e saio.

O corredor está vazio, por ser tarde.
Me abraço, sentindo frio por causa da brisa suave que entra pelas janelas escancaradas.

Apesar do silêncio incomum, sinto as câmeras nas minhas costas, observando cada passo meu, preparada para me ver caindo numa armadilha.

Vou no jardim e me sento no banco, olhando a cidade. Não tenho noção das horas, mas queria poder dormir aqui, olhando o céu estrelado e a lua grande.

Olhando pro céu, sentindo a brisa fria da noite, acabo tendo uma memória.

"Quando se sentir sozinha, olhe para o céu. E imagine que os nossos olhos estão te guiando assim como elas."

Olho para os meus pais, confusa.
Tinha 7 anos, o cabelo trançado, tirando as pétalas de uma margarida com os dedos.

"Mas a gente não vai estar sempre juntos?"
Pergunto, aflita. Minha mãe passa a mão no meu cabelo, me tranquilizando instantaneamente, cono se tivesse me enfeitiçado.

"Meu amor, sempre estaremos no seu coração."

Meu pai acariciava minhas costas, em silêncio. Ele sempre foi mais pensativo,um homem de poucas palavras. Mas ele me olha. Seus olhares são tão significativos, que é como se ele me olhasse com palavras.

"Bella, vai chegar uma hora que você vai precisar ser forte, e eu... Nós, queremos que você se lembre que estamos sempre orgulhosos."

Assinto, ainda meio sem entender por que meus pais parecem tão tristes.
"E você precisa contar com alguém, caso a gente não possa. Apesar de que eu adoraria que você namorasse só depois dos 30 anos..."

Minha mãe dá um tapa nele e trocam um olhar divertido e cúmplice. Ela volta os olhos calmos pra mim.
"O que seu pai quis dizer, Bella, é que você precisa confiar nas pessoas que te amam. Sabemos o quanto é difícil viver num mundo tão difícil, então você pode amar sem medo."

"Mas mamãe, amar dói, não dói?"
Ouço suspiros pacientes.

"Amor, sentir dói. Não só o amor dói. Mas se você amar, alguém vai cuidar de você, alguém vai te encher de beijos e de abraços. Alguém vai ser apaixonado por você como você é. E acredite, pequena, ter alguém que te ame de verdade, no meio de tanta maldade, é a melhor coisa do mundo."