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Notas da autora:
Os próximos capítulos (contando com o 44)serão uma viagem no tempo. Vamos descobrir o que aconteceu com o Shawn, ou seja, tudo no passado. Quando o capítulo for no presente, eu vou avisar.
Boa leituraaaa ;)

Shawn

Faltam algumas horas. Acabo decidindo ir para o hotel, tomar um banho e trocar de roupa. Me disseram para descansar alguns minutos, mas não poderia nem se quisesse.

A ansiedade percorre as minhas veias, como um veneno, e ameaça tomar conta de mim.
Faço tudo rápido, querendo logo a adrenalina que me mantém vivo.

Nasci para fazer parte desse mundo, para negociações, para brigar pela minha família. Esse é o meu lugar.

Quando chego na empresa, os funcionários já trabalhavam. Kavanagh, pelo visto, mantém as coisas funcionando da maneira certa por aqui, o que é um alívio. Não me preocupar com os negócios e os sócios é uma benção.

A movimentação é grande na minha sala. Will é o único que parece tranquilo, ou, pelo menos, é o que melhor disfarça.

Me aproximo dos meus homens, que examinavam algo na minha mesa. Não me senti exposto ou ofendido com a invasão.
"O que temos aqui?"

Eles me olham, surpresos de me ver tão cedo. Parecem até envergonhados por estarem ali sem a minha permissão, mas logo se adaptam à minha presença.

Me explicam rapidamente o funcionamento da planta da casa e sua localização. É um bairro nobre, em Paris. Fico surpreso.

Yatra não está nem um pouco interessado em se esconder, como eu. Claro, ele não tem nada a perder.
Pelo visto, seu arsenal e o seu exército é suficiente para sua proteção.

Me aproximo de Will, querendo me distanciar disso. Vai ser mais difícil do que eu imaginava.
"Manhã complicada?"

Wil pergunta, com um sorriso simples.
Suspiro.
"Semana difícil, na verdade. Quero acabar logo com isso e ir para casa."
Casa. A palavra soa tão doce nos meus lábios.

"Te entendo."
Coloco a mão em seu ombro, reconfortando ele. McCann, seu meio irmão, tinha ficado lá. Os dois são inseparáveis e tem uma conexão tão profunda que com uma simples troca de olhares, já se comunicam.

Algum dia eu terei essa conexão com alguém? Minha cabeça já passeia até uma menina morena, que está sempre nos meus pensamentos.
Afasto-os. Preciso me concentrar hoje, se quiser sair dessa vivo.

Vamos para o pátio, onde recebemos equipamentos e suprimentos.
Muitos soldados se equipam da cabeça aos pés, mas eu me poupo disso.

Sou bem mais pratico, pegando somente um colete a prova de balas.
Se eu estiver muito carregado, me movimentar e ser rápido vai ser muito mais difícil e a chance de eu não sair vivo de lá me assusta.

Não que eu tenha medo de morrer. Depois do meu pai, não tenho. Não mais.
Tenho medo de deixar minha família desprotegida, sozinha e desamparada. Prometi que cuidaria delas e,ainda sim, estou entrando numa missão complicada por amor.

Meu pai reprovaria, com certeza.
Ele era tão diferente de mim, tão focado no dever e tão distante dos sentimentos. Eu sei que ele realizou os sonhos dele e teve una família incrível, mas será que ele foi realmente feliz?

O pensamento me corrói.
Eu sempre estive decidido à seguir os passos do meu pai, seus negócios, mas e se chegar um dia em que eu tiver a minha família e o meu trabalho se tornar a minha prioridade?

Eu lembro do meu pai sempre cansado e estressado. Lembro das olheiras e das discussões com a minha mãe.
Lembro da maior discussão que eles tiveram. Eu tinha ido para a final do campeonato de Hockey, estava com 13 anos.

Era obcecado por hockey e jogava sempre que podia. Eu e o meu time batalhamos muito pra ganhar e, quando ganhamos, cacei meu pai com os olhos pela multidão de famílias que vibravam e não o vi. Ele foi embora.

Aquele dia foi doloroso pra mim porque ele não estava ali para me dar a sua aprovação. Não estava ali para dar o seu tapinha nas costas e me dar parabéns. Sonhava com o dia em que eu seria bom o bastante para que chamasse sua atenção.

Mas nunca foi.
Não de verdade.

Os homens foram dividos e eu acabei entrando nessa divisão também.
Fiquei no mesmo jatinho que Will, o que foi muito bom. Entro e me acomodo. É bem diferente do jato que eu costumo usar.

É verde musgo por dentro, com cadeiras fixas encostadas nas paredes, cintos de segurança entre elas e a cabine do piloto. Bem simples.

Nos sentamos e eu ponho o cinto.
Partimos.
Os homens conversam entre si, de vez em quando se esforçando para me por na conversa, mas acabam desistindo.

Ouço eles conversarem sobre as famílias, sobre os filhos e sobre suas terras natais. Suas vidas são tão simples que eu me sinto quase mal.

Estão arriscando as próprias vidas por mim.
Em alguma hora da viagem, um deles distribuem barrinhas de cereal. Vamos precisar de toda a energia que tivermos para sair ilesos dali, mas eu sabia que seria impossível.

Não se sai ileso de uma guerra.
Fisicamente, claro que é possível, mas não psicologicamente. A não ser que a pessoa seja um robô sem sentimentos.

Quando matei uma pessoa pela primeira vez, acordava ouvindo os disparos. Tinha pesadelos frequentemente e senti o que eu fiz acabar comigo totalmente.

Desde então, eu evito o máximo matar alguém. Vi os homens ao meu redor, rindo das histórias dos filhos e percebi que todos temos a quem voltar.
Todos deixamos alguém que amamos em casa.

Vou até Will e pergunto o tempo que falta para chegarmos. 3 horas. Sua voz é alarmada. Sei que está pensando o mesmo que eu.

Podemos estar voando para morte, literalmente.
Bella me vem novamente à cabeça, enquanto eu me sento ao lado dele. Percebo sua testa franzida de concentração. Quem Will está deixando que o machuca tanto?

Me peguei pensando se ele tem alguém que faz o coração dele bater forte, alguém que ele se pega pensando o tempo todo, alguém que é viciante e perfeita.

Eu tenho a minha garota.
Sorrio, em direção à janela.

Costumo pensar que todos vivem uma história de amor. Que todos conhecem uma pessoa e com ela passam toda a vida.
Eu tive a sorte de viver duas histórias de amor: uma que se destruiu por minha causa e outra que vai ser salva por mim.

Tive a sorte de amar duas vezes.
É mais que suficiente, agora eu aceito a vida calma que eu sempre senti preguiça de ter. Nunca quis tranquilidade, nunca quis ter alguém por quem lutar.

Não escolhi amar e mesmo assim, aqui estou eu, mergulhando de cabeça numa missão inteiramente por amor.
Talvez eu deixe de ser um mentiroso e admita para mim mesmo que eu não posso viver sem ela.

Como se o meu coração já não soubesse disso.
Me tornei o que eu mais temia: um romântico miserável.

Liar ~ Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora