Liar ~ Shawn Mendes

20

Bella

Eu desligo o telefone, óbvio. Yatra já me causou problemas demais. Ponho a blusa do Shawn de volta e finjo atender o celular e vou até a sala.

Me sento na poltrona, na frente dele. Sinto que me observa e vou brincar um pouco com esse bobinho ciumento.
"Oi, Yatra, o que foi?.... O quê? Agora? Não dá, baby. Estou num jato... Claro que sim. Com aquela lingerie que você adora..."

Shawn faz um ruído que me arranca gargalhadas.
E logo está em cima de mim, tirando o celular da minha mão e vê que era mentira.

Ele me carrega e me joga no sofá, me pressionando com o corpo.
"Ah é? Você acha que vai brincar comigo e ficar livre?"

Shawn faz cócegas e eu explodo em risadas.
"PARAAAAAA"
Mas ele não para, e eu até choro, de tanto rir. Aí finalmente, Shawn para, mas continua em cima de mim.

"Você é minha, ouviu?"
Eu rio, dando um beijo na bochecha dele.

"Não sou de ninguém, amore."
Ele me beija com força, como se estivesse ha meses sem me ver. Ele quer me enlouquecer e me ouvir dizer que sou dele.

Distribui beijos pelo meu rosto, pescoço e começa a descer, me fazendo fechar os olhos de tanto prazer.

Sim, eu sou dele. Meu corpo parece florescer ao mínimo toque dele, entregue ao prazer que o corpo dele me traz.

Ele ri e se afasta, me deixando sozinha e jogada no sofá, ainda ofegante. O jato passa por uma turbulência e eu tremo, assustada.

Shawn diz algo, mas não estou ouvindo mais. Abraço meus joelhos, tentando manter a calma. Sinto meus dedos ficarem gelados e a cor sumir do meu rosto. Minha boca também seca. As palavras não saem nem se eu quisesse. Minha garganta se fechou.

Ele se agacha na minha frente.
"Bella? O que foi?"

Estou tremendo muito.
Shawn sai e pega um copo de água. Eu bebo, com esforço. Ele espera calmamente, com a testa franzida de preocupação.

Respiro fundo mais algumaa vezes. Estou segura, está tudo bem. Aos poucos, a minha mente se a calma e o meu corpo também.
"Se sente melhor?"

Eu tento sorrir.
"Um pouco."
Ele suspira, mais tranquilo.

"Você devia ter me falado, Bella. Teria te dado um calmante ou algo assim antes de voar."

Eu seguro sua mão.
"Eu vou ficar bem. Só preciso descansar um pouco."

Ele assente.
"Quer que eu te leve?"

Eu me levanto e desequilibro, ainda não totalmente recuperada do ataque de pânico. Shawn me segura firme e sorri de lado, me carregando e me pondo na cama, com delicadeza.

"Pode ficar? Só ate eu dormir. Vou me sentir mais segura."

Ele assente e deita. Eu me acomodo bem pertinho dele, enquanto ele acaricia meu cabelo. Sentindo o seu perfume tão familiar e os dedos passeando pelo meu cabelo, eu adormeço.

×××
Shawn

Bella dorme e parece um anjo, com a expressão calma e doce. Como em tão pouco tempo eu tomei a necessidade de protegê-la?

A forma como se aninha, perto de mim, como uma gatinha, me encanta. Sou o porto seguro dela, agora. Isabella viu cada pessoa ser tirada da vida dela, uma por uma, como se arrancasse junto pedaços do coração dela.

É uma honra pra mim que ela veja proteção e amor em mim.
Eu suspiro. Tenho que cuidar dela. Alguém quer machucá-la e eu tremo de raiva só de pensar nisso.

Preciso cuidar dela e Toronto, nesse momento, é o lugar mais perigoso pra ela. Eu tento evitar, mas eu sei qual é a única solução.

Sei como protegê-la, mas provavelmente me odiaria por isso.
Suspiro, exausto psicologicamente. A dúvida é tão grande que me dá dor de cabeça.

Eu a olho,novamente. Ela murmura algo e suspira em seguida, sonhando. Eu não evito um sorriso. Ela já passou por tanta coisa que eu gostaria de abraçá-la e protegê-la do mundo. Minha pequena Bella.

Eu saio da cama com cuidado, para não acordá-la. Bella vira na cama e murmura algo. Eu a observo por alguns segundos e saio, indo para a cabine, onde Will pilotava o jato.

"Will, preciso mudar o nosso destino."

Ele não se mexe, concentrado.
William serviu a aeronáutica por 6 anos até que, depois de um acidente, teve a perna amputada, por isso, foi liberado. Hoje, ele usa uma prótese e trabalha comigo. William é um excelente piloto.

"Para onde, Senhor?"
Eu olho firme para frente, e admiro as nuvens ao nosso redor. É a única maneira.

"Para a ilha."
Will assente e muda a rota nos equipamentos no monitor. Eu saio, caminhando tranquilamente até o quarto.

Me deito na cama outra vez e Bella volta a se aninhar em mim, como se sentisse a minha presença. Fico olhando para a minha menina.

Eu acaricio seu rosto, tão suave.
Ainda não acredito que esteja nos meus braços, tão perfeita. Tanta coisa guardada. Sentimento, palavras, vontades e, de repente, não preciso esconder mais nada. Mas eu sei que é mais complicado que isso. Bella vai me odiar por enfiar ela numa ilha por meses. Talvez até anos.

Eu prefiro ser odiado do que vê-la morrer sabendo que eu poderia ter feito algo para impedir. Não vou deixar acontecer com ela o que aconteceu com o meu pai.

Bella suspira, ao meu lado, sonhando.
Não sei claramente o que eu sinto por ela, mas a sensação de que eu preciso protegê-la é quase doentia, mas eu preciso trabalhar isso.

Quero cuidar dela porque parte de mim ainda acha que eu deixei meu pai morrer, mesmo depois de meses de terapia e de passar por profissionais que cobravam caro por uma sessão, ainda tenho resquícios de culpa em mim.

E é tão real e constante que, as vezes, parece que é até difícil respirar, como se a sensação se prendesse no meu pescoço, impedindo o ar de circular pelo meu corpo.

Eu viro para o lado, ficando de costas para Bella. Sei o que me espera.
Mais uma noite de pesadelos.

Parte de mim necessita que Bella seja a solução pra isso. Que ela concerte essa peça defeituosa em mim. Eu não me lembro a última noite de sono inteira que eu dormi. Sempre acordo com pesadelo e é sempre o mesmo. É sempre eu deixando meu pai pra morrer.

Me encolho, desejando que eu consiga, pelo menos por um dia, dormir tranquilamente.

Mas é claro que não.
A noite me engoliu e me cuspiu com o mesmo pesadelo de sempre. O angustiante e cruel pesadelo de sempre.

Algum dia eu vou me libertar dessas corretes que me mantém preso à culpa?