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Bella

É a primeira vez que durmo pouco mas acordo mais elétrica do que nunca.
Vou ao banheiro e faço minhas higienes. Prendo o cabelo, visto uma roupa mais fina e calço meu Adidas que eu estava usando quando cheguei aqui.

Alguém dá duas batidas e, depois, mais duas. É Petric, um rapaz que está me ajudando. Ontem, quando eu estava na minha caçada por algumas coisas, ele chegou e me disse que era fiel da minha mãe e que vai fazer qualquer coisa por mim.

Ele me entrega o pacote e sai.
Abro e pego um dos pendrives. Escondo o pacote numa tábua, embaixo do tapete persa no meio do quarto, que tem um buraco dentro.

É tudo o que eu preciso pra ter o que eu preciso.
Ando firme, decidida. Peço para um dos soldados de plantão para me levar até a sala de reuniões e ele me leva.

Estou tão agitada que a fome não veio.
Não vi Shawn no percurso, o que me faz pensar que eles devem ter levado ele para a cela de novo. Meu coração se aperta, mas eu logo fico tranquila. Se der certo, eu nunca mais vou ser ameaçada por eles.

Entro, e a sessão já tinha começado.
"Perdoem o atraso, tive problemas com o fuso horário."
Dou um sorriso sem graça, falso. Não me importo com ninguém ali e, basicamente, gostaria de matá-los por me usarem assim.

Eles riem, de um jeito sutil. O doador de esperma, conhecido como meu pai, deve ter muita moral mesmo. Me sento na frente de Yatra.

Eles falam e falam, mostram propostas de acordos, enquanto fumam seus charutos.
Estou nervosa e meu corpo está suando, apesar do ar condicionado. Enxugo as mãos na calça e respiro fundo, tentando me controlar.

"Gostaria de fazer uma proposta de casamento para a sua filha. Meu filho tem 30 anos, solteiro e herdeiro de toda a minha fortuna. Não poderia imaginar pessoa mais sensata e bem criada que sua filha para assumir os negócios da família."

Depois dele, vários homens começaram a fazer propostas. Ele só as ouvia, mas não parecia interessado.
Os homens querem me arranjar algo para me manter sobre o radar deles. Sou a cobaia, afinal. Sou importante.

Ontem, pesquisando, descobri que o chip é único e eu fui a primeira a receber. Ou seja, eles precisam dele para fazer mais. Isso torna tudo melhor, porque eu os controlo.

"Eu gostaria de fazer uma proposta. Não tenho um herdeiro com, no mínimo, 10 anos a mais que eu, nem uma fortuna ou negócios da família. Nem sou a herdeira."

Digo, debochada, enquanto me levanto e vou até o notebook aberto, para mostrar o conteúdo no meu pendrive.
"Senhores, eu sou Isabella Ferretti, fui usada, manipulada, xingada, humilhada e tratada como objeto pelos senhores nas últimas horas."- Ouço suspiros se surpresa.- "Não estou interessada em casar com filho de ninguém e, muito menos, de fazer parte da sua sujeira, então, tenho minha própria proposta nas mãos."

Entrego minhas pastas que eu tinha deixado ali, ontem a noite.
Eles abrem, curiosos.
"Sou a cobaia mãe. Tudo o que vocês precisam está aqui e eu sou de interesse para vocês. Vocês precisam de mim aqui, e não o contrário.

Para me manterem aqui, vão ter que cumprir algumas exigências minhas escritas nos documentos entregados aos senhores."

Eles leem e eu espero, tranquila. Vão odiar.
"Isso é um absurdo!"

Os resmungos e protestos começam.
Mas o meu foco é o homem na outra ponta. É tão parecido com Yatra que parecem cópias. Meu pai. O nome sai amargo.
"Não aceitaremos, Isabella. Isso é uma ofensa ao nome do nosso grupo e da nossa família, como ousa?"

Sorrio. Era a reação que eu esperava.
"Entendo, gostaria de mostrar a vocês um vídeo que os incentivará."
Aperto o play e a cena do meu discurso se repete.

Depois, uma cena minha, no meu quarto, sentada na cadeira e sendo filmada por Petric.
"Olá, sou Isabella Ferretti, tenho 17 anos, italiana. Sou filha de um mafioso e fui enganada e usada como macaco de teste por ele e pelo seu grupo.

Sou uma experiência com um chip chinês de espionagem. Gostaria de denunciar ameaças que estou sofrendo por ser interesse a eles.

Estão usando uma pessoa que eu amo para me manipular. O vídeo mostrado é um discurso totalmente contrário à minha opinião pessoal, mas a pessoa estava ali, prova de que se eu não seguisse a linha, o matariam na hora.
Peço sua ajuda, para livrar o mundo dessa imundície."

Mostro imagens dos atiradores, apontando as armas para Shawn, lá de cima. Eu pude vê-los, o tempo inteiro.

Quando termino, estão pálidos.
"Esse vídeo vai ser enviado para a CIA se não cumprirem minhas exigências."

Digo, plena.
Estão com ódio.
"ME DÊ ISSO AGORA!"
O homem explode e os soldados arracam das minhas mãos, destruindo no ato.

"Um a menos. Ainda são 99, por via das dúvidas. E se me matarem, tenho informantes que vão mandar o video por mim."

Ele perde a voz. Eu ganhei.
Mas ele sorri e se levanta, se aproximando. Me matenho firme.
"Ah, Isabella. Tão destemida e corajosa, igual sua mãe."

Ele olha para seus parceiros.
"Aceitamos sua proposta, claro. Mas temos algo que te interessaria. Então proponho um acordo mais atualizado, acrescentado ao seu."

Ele que adiciona um pendrive e mostra um vídeo.
Ah, meu Deus. É a minha mãe.
"Você é sujo, Ruggiero. Como pôde me tirar da minha filha assim? Seu imundo."
Ela cospe no chão.

Seu cabelo está grande e parece exausta e selvagem. Minha mãe está viva.
"Isso é de quando?"

"Dois dias atrás. Eu a visito a cada dois dias. Hoje, vou visita-la. Gostaria de ir comigo para confirmar?"

Assinto lentamente.
"O que você quer?"

"Você vai ser membro do nosso conselho permanente, e vai fazer o que for necessário para a proteção do nosso grupo. Não vamos te ameaçar, mas vai nos deixar usar o chip."

Eu o encaro. Seus olhos tem uma dosagem perigosa de loucura. Aperto sua mão, por fim. O acordo com o diabo está feito.
"Aceito."

Liar ~ Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora