Liar ~ Shawn Mendes

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Bella

Acordo com uma dor de cabeça insuportável.
Fecho os olhos, confusa e cansada. Onde eu estou mesmo? Lembro das coisas que aconteceram por último e abro os olhos.

A porta do quarto é aberta.
"Ah, finalmente acordou. Sou a Dra Brenda, a médica de plantão. Vou dar uma olhada aqui no seu caso, fazer algumas perguntas e depois, pedir alguns exames."

Assinto, meio aérea.
"Se sente melhor? Fiquei sabendo que você desmaiou no corredor."

"Um pouco, mas ainda estou meio tonta."
Ela me estende um algodão.
"Deixe próximo ao nariz e respire fundo, devagar. Tem álcool, então vai te ajudar. Se você se sentir mal, me avise."

Assinto devagar, obedencendo suas instruções.
Ela se senta e começa a olhar a pasta e a digitar no computador.
"Esses desmaios são comuns?"

"Não."
Ela assente, digitando mais.

"Sente algo mais?"

"Tontura e enjoo, também."
Ela me olha, com uma expressão engraçada.

A médica faz algumas perguntas padrões, tipo se eu tenho alergia a algo. Mede a minha pressão, a minha temperatura.
"Querida, vou te encaminhar para fazer um exame de sangue. Se quiser se alimentar, para não correr riscos de baixar a pressão outra vez, peça para um dos seguranças te levar até a cafeteria."

"Não, eu comi tem mais ou menos 30 minutos."
Ela assente, enquanto imprime uma folha e chama um enfermeiro para das as instruções.

"Volte quando terminar, bata na minha porta e entre. Estarei te esperando. Levante devagar, para não sentir tontura de novo."

Assinto, sorrindo.
"Seria bom que isso não acontecesse mais."

Ela ri, me ajudando a sair.
Vou para uma salinha, onde uma enfermeira gentil tira meu sangue. Fico tensa, com medo de me sentir mal, mas tudo fica bem.

Vou para a sala dela e entro.
Ela ainda mexia no computador, e quando entro, ela se vira pra mim.

"Então, sente-se, por favor, a gente precisa conversar."
Eu me sento, sentindo as pontas dos dedos gelando de medo. Coloco as mãos entrelaçadas no colo, tentando me acalmar.

"Eu vou morrer?"
Ela da uma risada, daquelas tão legais que a gente acaba rindo junto.

"Não, querida, não. Você só está grávida."

COMO ASSIM SÓ?
Encaro ela, sem saber como reagir.
Aí começo a rir, igual uma doida.
"Muito engraçado, gostei da brincadeira. Agora vamos falar sério, o que eu tenho?"

Ela me olha com carinho e pega minha mão.
Ela deve ser mãe, porque eu nunca vi uma médica tão carinhosa e cuidadosa assim.
"Não estou brincando. Você realmente está grávida, de duas semanas."

Eu sinto meus olhos se encherem de água. Por que agora, justamente quando eu tinha que tirar ele da cabeça, vou ter um filho dele? O destino é tão cruel comigo. Talvez seja o preço que eu tenha pagado por causar dor nele, fazendo ele achar que eu o traí.

Mas aí meu coração se encheu de felicidade. Antes, eu pensava que ficaria sozinha, que teria que enfrentar o mundo sozinha, sem ter razões para passar por tudo isso, mas agora eu tenho.

Respiro devagar. Tem um pequeno ser crescendo em mim que vai se tornar a minha razão de viver, que vai me fazer lutar até o fim por ele.
Meu bebê.

"Querida, não quero interromper seu momento, mas você tem noção que precisa fazer exames com frequência e ter acompanhamento com uma obstetra."

Assinto, ainda entendendo tudo isso. É tanta coisa, tanta informação.
"Você não é daqui, é?"
Ela me pergunta.

"Não, estou aqui temporariamente. Mas eu vou cuidar disso, sim."
Ela assente.

"Você tem alguém pra te ajudar?"
Eu olho pra ela, meio perdida. Minha mãe está no quarto, traumatizada. Tenho que cuidar dela, tenho que cuidar de mim e, agora, do meu filho.

Meu silêncio parece ser a resposta que ela precisava.
"É uma responsabilidade muito grande ter um filho aos 18, eu sei disso porque aconteceu comigo. O pai não quis se responsabilizar e eu tive que me virar, por isso eu conheço muito bem esse medo nos seus olhos."

Uma dorzinha toma meu coração, de tristeza. Shawn cuidaria de mim, me faria tão feliz. Imagino ele descobrindo, os olhos brilhando, o sorriso mais lindo que nunca. Mas isso não vai acontecer porque ele precisa ficar protegido.

"Eu posso dar conta sozinha."
Minha voz sai meio fraca, revelando a minha dor, a minha tristeza por saber que as coisas não vão acontecer como eu sempre sonhei.

"Eu não disse que não pode, eu sei que você é forte e que vai passar por isso, sozinha ou não, mas onde está o pai, nesse momento?"

"Não estamos mais juntos."
Tento não soar amarga, não botar emoção nas palavras, porque ela vai me aconselhar a ficar com ele, e isso, eu não posso nem cogitar. Se eu quiser que ele fique vivo, não posso fazer nada. Não posso contar.

Me levanto, sabendo que não vou ter estrutura para ouvir ela me aconselhando.
"Desculpa, mas eu tenho que ir. Preciso ver como minha mãe está. Obrigada, Dra Brenda. Adeus."

Saio quase correndo pela porta e trombo com alguém que me segura forte.
"Bella?"
Não. Não. Não.
Ele não.
Qualquer um menos ele.
Mas eu reconheço seus braços, suas mãos, me segurando.

Conheço sua voz doce, chamando meu nome de uma forma que me causa arrepios por todo o corpo.
"Shawn? O que você faz aqui?"
Eu me solto, desviando o olhar.

"Você sumiu... Eu tive que perguntar por você, me avisaram que estava aqui. O que aconteceu?"

"Minha mãe conseguiu fugir e está aqui."
O que não é mentira.

"Sério? Ela se machucou?"

"Não muito, mas está com traumas psicológicos. Ela parecia assustada, meio perdida. Vou ter que cuidar dela."
Me abraço. Não é só dela que eu vou ter que cuidar.

"Posso vê-la?"
Ele se aproxima, para entrar no quarto em que eu estava, mas eu, sem querer, toco em seu abdomem, para impedi-lo. Logo tiro a mão.

"Ela não está nesse quarto."

Ele me olha, com as sombrancelhas franzidas e um sorrisinho.
"Esqueceu onde fica o quarto da sua mãe, sendo que todos tem numeração?"
Reviro os olhos.

"Vamos logo, não me perturba, se não eu ligo pra sua noivinha vir te buscar."
Ele faz uma careta.

"Não vamos falar dela."
Eu o olho, interessada.

"O quê? Não está apaixonado por ela?"
Ele me olha, de lado.

"Você sabe a resposta. Você sabe por quem eu sou apaixonado."
Me encolho. Ele torna tudo tão difícil.

"Vou deixar que você a veja, mas depois vai embora, não só desse hospital, mas da minha vida. Não vou permitir que você fique aparecendo e causando dor à nós dois."

"Eu que estou causando dor? Claro, eu que traí, não é?..."
Fico irritada.

"Se eu te causo tanta dor, por que ainda insiste em vir atrás de mim? Por que não me tira da cabeça?"
Ele da uma risada sarcástica.

"Bem que eu gostaria."
Eu paro e olho pra ele, que olha pra mim também. Quero gritar a verdade, me jogar nos seus braços e fazer mil planos com ele.

"Então vai embora. O que ainda faz aqui? Não vai me esquecer me seguindo igual um cachorrinho."

"Eu estava preocupado com você, fiquei com medo de desmaiar na rua e te fazerem mal. Como pode ser tão fria assim?"
É a única forma de te proteger.

"Não precisa mais ficar preocupado comigo, eu sei cuidar muito bem de mim. Agora sai daqui, sua noiva precisa mais de você."

Ele faz uma cara de raiva, que eu tenho medo que acabe fazendo algo comigo, mas ele se aproxima, somente.
"Tem toda a razão."

E ele sai, levando junto o meu coração.