Liar ~ Shawn Mendes

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Dias depois...

Shawn

Acordo com Bella gritando, assustada, ao meu lado.

Ela não quis me contar o que a atormentou tanto, o que me incomodou um pouco, principalmente porque ela não conseguia me encarar. Parecia atordoada, mas tenta esconder isso a todo custo.

"Ah, meu Deus. Tem 3 ligações perdidas de um número desconhecido.Merda."
Ela pega a bolsa, resmungando. Eu a pego por trás, beijando seu pescoço, para fazê-la se sentir mais leve, mais calma.

Claro que ela se arrepia.
Sorrio, enquanto a viro pra mim e a puxo para os meus braços, encostando sua cabeça no meu peito.

"Bells, algo te assustou muito, e eu te respeito se você não quiser falar, mas você precisa se acalmar, morena. A gente já dormiu aqui, se forem encher o saco, vai acontecer de qualquer jeito, não precisa se estressar e ir correndo pra lá. Inclusive, você podia ficar aqui, comigo."

Ela sorri, próxima do meu rosto. To doido pra beijar essa boca só minha, mas eu só observo os detalhes do seu rosto, os traços e a sua beleza intensa.

"Seria bom, mas sabe que eu não posso."
Ela está séria e seus olhos parecem cansados, tristes.

"Bella, o que foi?"
Ela me olha, pela primeira vez no dia, no fundo dos meus olhos. Tem medo neles, talvez dor. Algo a machuca, mas ela não vai me contar.

"Nada demais, só esses pesadelos terríveis que eu tenho de vez em quando."

"Acha que são memórias?"
Ela suspira.

"Pode ser. Não recebi tantas informações sobre a operação e como funciona as minhas memórias, agora. Então estou deixando ir, apesar disso me atormentar um pouco."

"Devia procurar ajuda."

"Como? Estão atrás de mim, especialmente por causa do Yatra. Não posso contar com ninguém agora."

"Mas as coisas ainda estão nebulosas?"

"Um pouco. São memórias de 14 anos, vou respeitar o tempo da minha cabeça e na hora certa, tudo vai se arrumar e eu vou lembrar de tudo."

Ela franze as sombrancelhas, e então se aproxima de mim, buscando meus braços. Eu a conforto, sem ainda entender o que a deixa tão perturbada.
"Bella, quer mesmo ir para aquela casa?"

"Tenho que ir, amor. Não tenho notícias do Yatra, preciso ao menos saber o que está acontecendo. Antes que eu acabe caindo numa armadilha deles. Principalmente porque devem estar atrás de mim."

Faço uma careta discreta.
Não quero voltar pra lá, mas vou. Vamos de taxi, porque já tinha um passando por nós, quando descemos.
Bella fica quieta, ao meu lado, pensativa.

Quero dizer que vai ficar tudo bem, cuidar dela, afasta-la de toda essa dor que causam a ela, mas não posso. E ela também não me deixaria. Isabella jamais fugiria da responsabilidade, mesmo que isso a salvasse.

Vai lutar até o fim.
Porque essa é a minha garota.

Descemos, meu coração acelerado, sinto meu sangue gelar. Tem algo errado. Muito errado.
Tem uma movimentação estranha na casa. Viro, para dizer para ela esperar aqui, mas claro que ela já está agachada, acompanhando o ambiente com os olhos atentos.

"Ah, não."
É Anabella, a mãe do Yatra. Já encontrei com ela algumas vezes, mas nunca tive uma boa impressão dela. Não sei porque, mas ela me lembra uma serpente.

A mulher chorava bastante, atordoada e derrotada. Isabella parece tensa ao vê-la.
"Por que vão fazer isso com o meu menino? Por que não pegam aquela garota suja também? Ela que o levou pra esse caminho, meu filho sempre foi um bom rapaz."

Soldados passam apressados por todos os lados.
Um arrepio me percorre a coluna.
"Não acredito que vão executá-lo, Ana. Principalmente porque ele não é o cabeça do plano, certamente aquela menina sabe disso, mas fugiu mesmo assim pra deixar a culpa pra ele."

"Eu vou encontrá-la, e vou matá-la com as minhas mãos por isso. Por isso Ruggiero sempre fazia as vontades deles, isso os mantinha na linha. Agora, vão matar meu único filho..."
Ela volta a chorar e é consolada pela mulher.

Bella recua, os olhos inexpressivos. Eu a puxo para o outro lado da rua, para que não possamos ser encontrados.
Deixo ela se recuperando. Não precisa de mim para se reconfortar. Está confusa, assustada.

"O que vamos fazer?"
Ela sussurra, finalmente com o olhar feroz e a expressão dura, que indica que está pronta para fazer o que for necessário.

"Vocês? Ah, nada. Mas eu posso fazer algo."
Ah, ótimo. A última pessoa que eu queria ver no mundo está bem ali, com um sorriso convencido e com a mesma pose de sempre.

"E por que eu ia querer a sua ajuda?"
Bella rosna, irritada. Imagino que esteja tão feliz com a nossa nova companhia quanto eu.

"Porque vocês estão com a cordinha no pescoço, minha querida. Estou me oferecendo para salvar sua vida, nem assim você deixa essa pose?"

Isabella a olha e até eu posso sentir o ódio neles, mas fica em silêncio. Ela não é odiota, precisamos de ajuda. Se formos pegos, Bella será morta, e eu provavelmente também.

Ela hesita, olhando para a casa. Provavelmente pensando no Yatra, mas sacode levemente a cabeça, tirando os pensamentos, e volta a se concentrar em mim.

Seus olhos dizem tudo e nada, ao mesmo tempo. Está com medo, mas a adrenalina corre pelas suas veias.
"Bom, posso ajudá-los e escondê-los, mas vai custar algo a vocês."

"Não tenho nada que você queira, te garanto."

"Isso vamos resolver depois. Agora, se preocupe em sair viva daqui. O que vai ser?"
Engula seu orgulho, Bella. Por favor, por favor, não morra por não querer ficar perto dela.

"Aceito. Mas isso não signifique que eu goste de você, Loren."
Loren sorri, se aproximando dela.

"Também não gosto de você, Isabella. Mas podemos trabalhar muito bem juntas. Ambas temos um império patriarcal para derrubar. Você precisa de mim e eu de você."

Bella estreita os olhos e bufa, se aproximando de mim, na defensiva. Sorrio, orgulhoso dela. Mais uma vez, se prova muito mais forte e ousada do que o que eu imaginava.

"Vamos sair logo daqui. Esse lugar definitivamente não cheira bem."
Entramos no carro branco, com vidro fumê, que estava estacionado ali perto.

Suspiro, cansado.
Tudo isso é muita informação.
Querem a cabeça da Bella, isso é mais que óbvio.

Parecendo que lê meus pensamentos, sua mão agarra a minha, compartilhando seu calor comigo.

Loren se serve de champanhe rose, e nos observa com os frios olhos azuis atentos nos nossos movimentos.

"Vamos aos negócios, meus queridos. Temos um longo dia pela frente."

Loren me observa, agora.
Essa expressão dela é familiar.
Tem algo muito importante que a está incomodando muito. Algo que ela teme e que sabe que, se não jogar direito, vai custar sua cabeça.

Olho para Bella, que encarava Loren com intensidade.
Até onde ela pretende ir para se salvar?