Liar ~ Shawn Mendes

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Shawn

Encaro o celular, desejando a resposta dela, para não soar tão idiota quanto eu pareço para mim mesmo. Mas ela só visualiza. Algo está errado, mas eu me contenho.

Ela o escolheu. Isso é tão corrosivo e doloroso que eu me pego o tempo todo pensando se algo me incomodou mais do que vê-la partir com ele.

Tive que usar toda a minha força pra não contar a ela. Se eu contasse, seria castigado. Eles decidem quando ela vai descobrir a verdade, e isso me mata dia após dia. Isabella vai me odiar profundamente e eu temo esse dia.

Ando de um lado para o outro. Depois que voltei para a sala, estressado e ainda com raiva por ela ter escolhido ele, pedi para Loren ir embora. Não posso continuar com ela.

Antes, estava tudo bem. Eu já tinha me contentado em passar a vida inteira com a Loren. Ela me agrada sempre, não se mete nos meus assuntos e sabe a hora de de ficar quieta. Eu estava bem com isso.

Mas aí chegou a Isabella, com o seu gênio forte, o seu temperamento, bagunçou tudo o que eu tinha planejado. Agora, tudo isso parece tão pouco, essa calmaria que a Loren me traz. Eu não posso mais continuar com ela.

Balanço a cabeça. Não pode ser assim.
Me sento e tento me concentrar em preparar as anotações para a reunião de mais tarde. Olho no relógio. Faz duas horas que ela saiu.

Aí a porta se abre e ela entra. Os olhos estão sem vida e a sua expressão é dura. Ela está sentindo dor mas tenta, a todo custo, disfarçar.
"O que houve?"

Ela se senta, os olhos colados nos meus, secos e impiedosos.
"Você sabia, não é?"

Eu pisco, me sentindo um idiota. De qual das coisas que eu estou escondendo ela descobriu? Fico em silêncio, deixando que ela continue a falar.
"Isabella, eu realmente não sei do que está falando."

Ela bate na mesa, furiosa. Eu já a vi com raiva, mas agora é diferente. Ela tem mágoa e está com tanta dor que eu me encolho.
"O seu pai matou o meu pai."

Não pode ser verdade. Meu pai era bom e justo. Talvez duro, mas queria me ensinar da melhor forma e me tornar um homem no qual ele pudesse se orgulhar, mas não assassino. Não pode ter causado tanta dor assim à ela, que era só uma menina.

"Eu não sabia disso."
Minha voz sai fraca e baixa. Estou confuso e minha cabeça doi. Ela parece acreditar porque sua expressão se suaviza lentamente.
"Bella eu... Sinto muito. Muito mesmo. Não tinha ideia."

É a primeira vez que a chamo assim e ela percebe, de aproximando de mim. Eu me levanto e encaro a vista, tentando me recompor. O meu herói, o homem que é o meu maior exemplo fez isso?

Ela me abraça, suavemente. O gesto me traz uma explosão de sensações tão intensa que eu fico parado por um instante.
"Quando alguém te abraça, você abraça de volta, Mendes."- Ela ri.

Eu a envolvo nos meus braços. Descanso o queixo no topo da cabeça dela, sentindo o aroma de coco do seu cabelo. Sinto a respiração tranquila dela no meu peito.

É uma sensação tão única que eu poderia ficar ali para sempre, mas ela se afasta, mais tranquila, mais parecida com a Bella barraqueira que eu conheço.

"Desculpa ter chegado assim. Foi injusto eu te acusar desse jeito. Me perdoa?"
Eu cruzo os braços, fingindo estar magoado.

Ela se aproxima e se aconchega nos meus braços.
"Por favorzinho, Shawn. Não seja mal, por favor. Me perdoa, vai."

Eu tenho que respirar fundo para manter o controle. Isabella está me deixando louco e alguma hora eu vou perder o controle.
"Se você me fizer um café, eu te perdoo."

Ela cerra os olhos, distante de mim. Deus, essa garota está tirando o meu juízo.
Isabella bufa e sai. Me sento outra vez, passando as mãos no cabelo. Isso não pode continuar. Cada dia está pior, ela está mais próxima de mim. Se sente à vontade ao meu lado e isso é pior coisa que poderia acontecer.

Ela volta alguns minutos depois e me serve o café, se sentando na mesa dela, organizando a reunião de hoje. Faz quase 1 mês que ela está aqui, então o serviço já é fácil pra ela. Isabella ainda não participou de uma reunião justamente por ser uma fachada para a máfia. Ela ainda não sabe a verdade, mas eu preciso prepará-la para hoje.

"Por que você está me encarando, Mendes? Nunca me viu não?"
Ela ri, fazendo seu tradicional coque frouxo.

Eu rio.
"Eu que vou te dar uns tapas se você ficar me tratando assim. Eu sou sensível."

É a vez dela de rir.
"Você é muito carente, não aguento."

Eu rio e volto ao trabalho. O café, como sempre, está uma delícia. Vez ou outra eu olho pra ela, que está concentrada.
"Isabella, preciso de contar uma coisa muito importante antes de você participar da reunião."

Ela me olha, em tom divertido, mas percebe que é sério e me observa. Está atenta.
"Essa empresa não é o meu verdadeiro trabalho. É uma fachada. Bella, eu sou o chefão de um grupo mafioso muito conhecido."- Ela não parece surpresa, o que me intriga. Achei que ela iria dizer mil coisas, mas ela fica quieta, escutando.-" As reuniões da empresa não são para falar da empresa, são sobre os negócios que fazemos com outros grupos e com governos."

"Vocês trabalham com o quê?"
Ela parece realmente interessada.

"Armas, drogas, exércitos. Usamos dos nossos recursos para fazer negócios e parcerias com grupos importantes no mundo todo. Essa noite vamos entrar em um acordo com um grupo da Arábia Saudita, então vai ser uma reunião muito importante."

Sua expressão endurece.
"Me ensine tudo sobre. Por favor."

Eu assinto e pego o quadro branco que usamos as vezesnas reuniões. Começo a explicar como as hierarquias funcionam e conto dos negócios, o nosso acordo com a CIA, que nos exigiu criar essa empresa.

Isabella é uma excelente ouvinte e anota vez ou outra.
Eu termino, depois de quase 2 horas.
Ela pisca e me dá um sorriso brincalhão.
"Tudo bem, chefão. É hora de botar aqueles velhotes no chinelo."

Eu sorrio.
Isabella me surpreende dia após dia e me encanta mais do que eu gostaria.